São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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Para a instituição, turbulência global deverá ter efeitos limitados no Brasil

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central não apenas avalia que a economia brasileira está mais bem preparada para enfrentar as recentes turbulências enfrentadas pelos mercados internacionais como já começa a ver as conseqüências positivas que um agravamento da crise poderia ter.
A instabilidade dos mercados começou com o aumento da inadimplência em financiamentos habitacionais dos EUA. Esses calotes provocaram fortes perdas em fundos de investimento que atuam no país e espalhou um temor de que as perdas sofridas nos mercados financeiros possam contaminar a chamada economia real.
Em documento divulgado ontem, o BC afirma não acreditar que o cenário mais provável seja o de agravamento da crise -ou seja, o de uma recessão nos EUA. Para o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, "as turbulências observadas até agora parecem ter tido um efeito limitado [sobre a economia brasileira]".
Ainda assim, o texto diz que um desaquecimento da economia mundial também teria seus benefícios. "Apesar das incertezas quanto aos efeitos da crise sobre a economia dos EUA e, em menor escala, sobre a economia mundial, parece razoável supor que, do ponto de vista inflacionário, uma desaceleração global poderia conter as elevações de preços de "commodities", com impacto potencialmente favorável sobre as perspectivas inflacionárias."
Ou seja, com a economia mundial crescendo menos, a demanda por "commodities" -como minério de ferro, petróleo e produtos agrícolas- diminuiria, reduzindo também os preços dessas mercadorias e, conseqüentemente, ajudando no controle da inflação.
Mas também são citados os aspectos negativos, entre eles a redução das exportações brasileiras que se seguiria a um quadro de desaceleração da economia mundial. Essa queda nas vendas ao exterior reduziria o fluxo de dólares para o país, provocando uma desvalorização do real, que iria puxar para cima a inflação no Brasil.
Mesmo com essas incertezas, o BC mantém sua projeção de 4,7% para o crescimento da economia neste ano -mesma estimativa anunciada em junho. Para a instituição, o aumento do consumo interno será um dos fatores a colaborar com a expansão da economia.
Entre os analistas do setor privado, há quem faça ressalvas a essa avaliação. Em relatório ontem, o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) diz que o BC pode estar sendo excessivamente otimista sobre o comportamento do nível de atividade.
O Iedi aponta para o fato de a renda da população estar crescendo a uma velocidade cada vez menor. "Sendo a massa real de rendimentos o principal determinante do poder de consumo, sua desaceleração flagrante pode levar a uma perda de ímpeto correspondente no consumo", diz o instituto.
Com base nessa análise, o Iedi defende a continuidade do processo de cortes da taxa Selic, hoje em 11,25% ao ano. O BC tem reduzido os juros desde setembro de 2005, mas, diante do ritmo mais forte de crescimento da economia e de alguns sinais de aumento de inflação, analistas de mercado já consideram que o ciclo de quedas está cada vez mais perto do fim.


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