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25% dos investimentos no Brasil são financiados com recursos do exterior
SHEILA D'AMORIM
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a crise financeira internacional esparramando prejuízos mundo afora e reduzindo o
apetite dos investidores estrangeiros, um quarto dos investimentos do setor produtivo no
Brasil estão na berlinda.
Segundo levantamento de
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, 25%
dos investimentos realizados
no país são financiados por recursos vindos do exterior.
Apesar de, nos últimos dias, o
governo ter elevado a capacidade de empréstimos do BNDES
e liberado mais dinheiro para
os bancos, os empresários não
crêem que será possível manter, no médio prazo, o ritmo
atual de expansão dos investimentos sem as linhas de fora.
Nos últimos cinco trimestres, o investimento produtivo
cresce a taxas superiores a 14%.
Entre abril e junho, o aumento
chegou a 16,2%, fazendo com
que o volume total alcançasse
18,7% do PIB -uma façanha
para o Brasil desde 2000.
Segundo Almeida, pesquisa
com empresas revela que metade dos investimentos no país é
feita com recursos próprios,
25% com apoio do BNDES e
outras fontes internas e o restante com dinheiro externo.
"O momento é de cautela,
análise e observação", diz Amarílio Macelo, presidente da empresa do ramo de alimentos
J.Macedo S.A. Para ele, "é grande a probabilidade de os investimentos entrarem num ritmo
mais lento ou serem adiados".
Isso porque, argumenta, o empresário olha para a frente e
não consegue saber se o mundo
"sairá dessa crise em 2009, ou
se ela passará para 2010".
No curto prazo, o que dá certo alento ao governo é que a
construção civil, responsável
por 40% da taxa de investimento, tem condições de manter o
ritmo ainda elevado. Isso, avaliam os técnicos do governo, é
fundamental para evitar a contaminação das expectativas.
Nos últimos dois anos, as empresas do setor da construção
civil aproveitaram o bom momento mundial e lançaram
ações no mercado, que foram
vendidas para estrangeiros.
Com isso, diz José Carlos
Martins, vice-presidente da
CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), estão
capitalizadas para garantir os
projetos já em andamento pelos próximos três anos (o ciclo
padrão do setor). "Porém, se as
turbulências externas afetarem
o nível de atividade econômica
no país, aí será ruim."
Segundo Paulo Godoy, presidente da Abdib (Associação
Brasileira da Infra-estrutura e
Indústrias de Base), "a crise vai
pegar todos em algum grau".
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto,
não tem esperanças de que as
empresas consigam manter o
atual nível de investimento.
"Alguns analistas já falam em
crescimento do investimento
de 8%. Ainda é cedo para saber
se vai haver uma desaceleração
dessa magnitude. Mas que vai
haver retração dos investimentos, isso é indiscutível."
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