São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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25% dos investimentos no Brasil são financiados com recursos do exterior

SHEILA D'AMORIM
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a crise financeira internacional esparramando prejuízos mundo afora e reduzindo o apetite dos investidores estrangeiros, um quarto dos investimentos do setor produtivo no Brasil estão na berlinda.
Segundo levantamento de Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, 25% dos investimentos realizados no país são financiados por recursos vindos do exterior.
Apesar de, nos últimos dias, o governo ter elevado a capacidade de empréstimos do BNDES e liberado mais dinheiro para os bancos, os empresários não crêem que será possível manter, no médio prazo, o ritmo atual de expansão dos investimentos sem as linhas de fora.
Nos últimos cinco trimestres, o investimento produtivo cresce a taxas superiores a 14%. Entre abril e junho, o aumento chegou a 16,2%, fazendo com que o volume total alcançasse 18,7% do PIB -uma façanha para o Brasil desde 2000.
Segundo Almeida, pesquisa com empresas revela que metade dos investimentos no país é feita com recursos próprios, 25% com apoio do BNDES e outras fontes internas e o restante com dinheiro externo.
"O momento é de cautela, análise e observação", diz Amarílio Macelo, presidente da empresa do ramo de alimentos J.Macedo S.A. Para ele, "é grande a probabilidade de os investimentos entrarem num ritmo mais lento ou serem adiados". Isso porque, argumenta, o empresário olha para a frente e não consegue saber se o mundo "sairá dessa crise em 2009, ou se ela passará para 2010".
No curto prazo, o que dá certo alento ao governo é que a construção civil, responsável por 40% da taxa de investimento, tem condições de manter o ritmo ainda elevado. Isso, avaliam os técnicos do governo, é fundamental para evitar a contaminação das expectativas.
Nos últimos dois anos, as empresas do setor da construção civil aproveitaram o bom momento mundial e lançaram ações no mercado, que foram vendidas para estrangeiros.
Com isso, diz José Carlos Martins, vice-presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), estão capitalizadas para garantir os projetos já em andamento pelos próximos três anos (o ciclo padrão do setor). "Porém, se as turbulências externas afetarem o nível de atividade econômica no país, aí será ruim."
Segundo Paulo Godoy, presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base), "a crise vai pegar todos em algum grau".
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, não tem esperanças de que as empresas consigam manter o atual nível de investimento.
"Alguns analistas já falam em crescimento do investimento de 8%. Ainda é cedo para saber se vai haver uma desaceleração dessa magnitude. Mas que vai haver retração dos investimentos, isso é indiscutível."


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