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Mercosul decide ampliar "desdolarização"
Integrantes do bloco e associados querem reduzir transações comerciais em dólar, como Brasil e Argentina já fazem hoje
Reunidos em Brasília para buscar saídas para a crise, países discutem criar um mecanismo comum contra ameaça de "dumping"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores) defendeu ontem a criação de um mecanismo comum da América do
Sul contra a ameaça de "dumping", caso países como a China
venham a despejar no continente o excedente de sua produção rejeitado em outras partes do mundo por causa da crise
e da recessão internacional.
Em reunião realizada ontem
no Itamaraty, ministros de economia e do exterior e presidentes de bancos centrais decidiram desdolarizar as transações
comerciais entre os países do
Mercosul e de seus associados,
aplicando para toda a região
um processo já iniciado entre o
Brasil e a Argentina.
Também decidiram acelerar
a criação do Banco do Sul, que
foi proposto pela Venezuela para criar reservas para ajudar
países da região em dificuldade.
"Não acredito que haja
"dumping" [exportação a preços abaixo dos preços internos], mas, se houver, saberemos responder. Poderemos
usar mecanismos de defesa comercial em conjunto", disse
Amorim, depois de uma reunião com ministros e representantes de 12 países, para discutir a crise financeira.
Ele, porém, ressalvou que
não há um mecanismo comum,
que teria de ser criado com a
"coordenação dos modelos de
cada país". Ressalvou, ainda,
que a via de saída da crise não é
o protecionismo: "Entendemos
que a resposta é mais integração e mais comércio, menos
subsídio e menos distorção".
Na reunião, também foi defendida maior integração financeira (de serviços bancários, de capitais e de seguro) e o
fortalecimento de organismos
internacionais, como o FMI
(Fundo Monetário Internacional) e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Não houve acordo em relação à proposta da Argentina de
aumentar a TEC (Tarifa Externa Comum) do Mercosul para
produtos como têxteis, móveis
e confecções. Isso será tema de
discussão bilateral com o Brasil, antes de ser ampliada para
os demais países do Mercosul.
Punição a especuladores
Na opinião do ministro das
Finanças da Venezuela, Ali Rodriguez, a crise financeira caracteriza um "crime contra a
humanidade", pois vai resultar
em "1 bilhão de pobres a mais
no mundo". O país propôs, e o
documento final mencionou,
mas não como decisão, convocar uma reunião de chefes de
Estado na ONU para discutir
punições contra os "especuladores", a quem culpa pela crise.
De outro lado, o Brasil contrapôs a convocação do Conselho
Econômico e Social da ONU,
para discutir, por exemplo,
uma reforma da arquitetura financeira internacional. Também foi discutida uma comissão de monitoramento das medidas que cada país tomar.
O chanceler do Chile, Alejandro Foxley, sugeriu que os países da região proponham ao G-8 (grupo dos países mais desenvolvidos, mais a Rússia) que depositem recursos no BID e na
CAF (Comissão Andina de Fomento) e, assim, criem uma reserva para ajudar os países
mais prejudicados pela crise.
Participaram da reunião de ontem: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Peru,
Equador, Colômbia, Chile, Bolívia, Guiana e Suriname.
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