|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANO DO DRAGÃO
Taxa de 2,4% nos últimos 30 dias é a maior desde agosto de 1995 e poderá contaminar a do próximo ano
Fipe vê aumento "generalizado e assustador"
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A inflação continua em ritmo
acelerado em São Paulo e contraria todas as previsões anteriores
do mercado e da própria Fipe
(Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas), instituição que pesquisa preços no município de São
Paulo.
"A tendência de alta dos preços
é generalizada e assustadora", diz
Juarez Rizzieri, coordenador-adjunto do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe. Nos últimos 30
dias até 22 deste mês, os preços
subiram, em média, 2,4% no município de São Paulo. É a maior taxa de inflação desde agosto de 95.
Esse salto da inflação fez a Fipe
rever a taxa de inflação deste ano
para 8,5%. Neste mês, a Fipe já fez
três revisões nas estimativas de
inflação. Passou de 5,5% para
6,5% no início do mês e para 7,5%
há uma semana. As pressões, no
entanto, não param por aí. Se for
dado o valor de R$ 1,91 para a passagem de ônibus, como querem
os empresários do setor, o IPC bate nos 10% neste ano, segundo
Rizzieri.
A aceleração da inflação é tão
forte neste ano que pode comprometer também a taxa de 2003, diz
o economista da Fipe. Três itens
são decisivos na formação da taxa
de inflação: tarifas públicas, combustíveis e alimentos. Para Rizzieri, os reajustes da tarifas públicas
já estão praticamente definidos e
serão com taxas elevadas devido à
aceleração do IGP-M, o indexador desse item.
No caso dos combustíveis, se
ocorrer o ataque dos Estados Unidos ao Iraque, esse item também
será um foco de pressão inflacionária. Finalmente, "resta rezar para que o Brasil tenha uma boa safra", diz o economista. Se o clima
for ruim e houver quebra de safra,
as coisas vão se complicar muito.
Para o economista da Fipe, o
próximo ano será um período difícil e a taxa de inflação do IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo), do IBGE, ficará entre
11% e 12%. No caso do IPC da Fipe, a previsão é que o índice também atinja dois dígitos, ficando
próximo de 10%.
Fator novo
Os motivos para a aceleração da
inflação nas últimas semanas já
são conhecidos, diz Rizzieri. São o
câmbio, a entressafra, os preços
das commodities no exterior e os
baixos estoques de alimentos do
governo. O economista da Fipe
acrescenta, no entanto, novos fatores para essa aceleração.
O principal deles são as expectativas inflacionárias que já fazem
lembrar o período de inflação
acelerada dos tempos do cruzeiro
e do cruzado (moedas dos anos 80
e 90). Naquele período, os reajustes de preços eram sempre preventivos, ou seja, eles ocorriam
porque se sabia que a inflação ia
continuar ascendente.
Rizzieri diz que a euforia com o
novo governo também favorece
os reajustes de preços. "O PT já
disse tudo o que não vai fazer,
mas ainda não disse nada do que
vai fazer". Com isso, as pessoas
acreditam em expansão maior da
economia e demanda maior por
bens e serviços, diz o economista.
O avanço dos preços está sustentado também em uma circulação maior de moeda na economia. O governo não conseguiu rolar parte de sua dívida e teve de recomprar títulos, injetando dinheiro no mercado. O volume de
dinheiro é maior devido ao pagamento dos expurgos do FGTS e
das receitas com as exportações.
A elevação dos preços é sustentada, ainda, por antecipações de
compra devido ao pagamento da
primeira parcela do 13º salário.
Para o economista, "cultiva-se,
no momento, um clima de inflação maior, o que só ocorria em
tempos de inflação ascendente, o
que exige uma ação rápida do novo governo". Uma dessas medidas seria antecipar o nome do novo presidente do Banco Central.
Quando isso ocorrer, o mercado
saberá o grau de envolvimento do
BC no combate à inflação.
Apesar do cenário pessimista,
Rizzieri diz que "se não houver
delírio nos gastos públicos e na
queda rápida dos juros, essa inflação pode morrer rapidamente".
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Combustíveis e alimentos são os que mais sobem Índice
|