São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Taxa de 2,4% nos últimos 30 dias é a maior desde agosto de 1995 e poderá contaminar a do próximo ano

Fipe vê aumento "generalizado e assustador"

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A inflação continua em ritmo acelerado em São Paulo e contraria todas as previsões anteriores do mercado e da própria Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), instituição que pesquisa preços no município de São Paulo.
"A tendência de alta dos preços é generalizada e assustadora", diz Juarez Rizzieri, coordenador-adjunto do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe. Nos últimos 30 dias até 22 deste mês, os preços subiram, em média, 2,4% no município de São Paulo. É a maior taxa de inflação desde agosto de 95.
Esse salto da inflação fez a Fipe rever a taxa de inflação deste ano para 8,5%. Neste mês, a Fipe já fez três revisões nas estimativas de inflação. Passou de 5,5% para 6,5% no início do mês e para 7,5% há uma semana. As pressões, no entanto, não param por aí. Se for dado o valor de R$ 1,91 para a passagem de ônibus, como querem os empresários do setor, o IPC bate nos 10% neste ano, segundo Rizzieri.
A aceleração da inflação é tão forte neste ano que pode comprometer também a taxa de 2003, diz o economista da Fipe. Três itens são decisivos na formação da taxa de inflação: tarifas públicas, combustíveis e alimentos. Para Rizzieri, os reajustes da tarifas públicas já estão praticamente definidos e serão com taxas elevadas devido à aceleração do IGP-M, o indexador desse item.
No caso dos combustíveis, se ocorrer o ataque dos Estados Unidos ao Iraque, esse item também será um foco de pressão inflacionária. Finalmente, "resta rezar para que o Brasil tenha uma boa safra", diz o economista. Se o clima for ruim e houver quebra de safra, as coisas vão se complicar muito.
Para o economista da Fipe, o próximo ano será um período difícil e a taxa de inflação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE, ficará entre 11% e 12%. No caso do IPC da Fipe, a previsão é que o índice também atinja dois dígitos, ficando próximo de 10%.

Fator novo
Os motivos para a aceleração da inflação nas últimas semanas já são conhecidos, diz Rizzieri. São o câmbio, a entressafra, os preços das commodities no exterior e os baixos estoques de alimentos do governo. O economista da Fipe acrescenta, no entanto, novos fatores para essa aceleração.
O principal deles são as expectativas inflacionárias que já fazem lembrar o período de inflação acelerada dos tempos do cruzeiro e do cruzado (moedas dos anos 80 e 90). Naquele período, os reajustes de preços eram sempre preventivos, ou seja, eles ocorriam porque se sabia que a inflação ia continuar ascendente.
Rizzieri diz que a euforia com o novo governo também favorece os reajustes de preços. "O PT já disse tudo o que não vai fazer, mas ainda não disse nada do que vai fazer". Com isso, as pessoas acreditam em expansão maior da economia e demanda maior por bens e serviços, diz o economista.
O avanço dos preços está sustentado também em uma circulação maior de moeda na economia. O governo não conseguiu rolar parte de sua dívida e teve de recomprar títulos, injetando dinheiro no mercado. O volume de dinheiro é maior devido ao pagamento dos expurgos do FGTS e das receitas com as exportações. A elevação dos preços é sustentada, ainda, por antecipações de compra devido ao pagamento da primeira parcela do 13º salário.
Para o economista, "cultiva-se, no momento, um clima de inflação maior, o que só ocorria em tempos de inflação ascendente, o que exige uma ação rápida do novo governo". Uma dessas medidas seria antecipar o nome do novo presidente do Banco Central. Quando isso ocorrer, o mercado saberá o grau de envolvimento do BC no combate à inflação.
Apesar do cenário pessimista, Rizzieri diz que "se não houver delírio nos gastos públicos e na queda rápida dos juros, essa inflação pode morrer rapidamente".


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