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LUÍS NASSIF
A oportunidade perdida
O Brasil tem a síndrome
do sebastianismo e da
grande chance desperdiçada.
Volta e meia aparece um saudosista lembrando que, se
não fosse por uma circunstância qualquer no passado,
o país teria acontecido.
Monumento de racionalidade sólida, o ex-ministro
Roberto Campos nunca foi
chegado a esses devaneios, a
não ser como recurso retórico
contra seus dragões, como a
Petrobras. Mas há um episódio que não sei se narrou em
seu livro, mas que me foi contado por seu amigo e contemporâneo Walther Moreira Salles.
A formação de economista
de Campos, assim como de
Octávio Gouvêa de Bulhões,
Celso Furtado, dos grandes
dos anos 50, consistia em um
ferramental teórico utilizado
para a solução de problemas e
a serviço de uma visão estratégica de país. Estava longe
da geração cabeça de planilha que tomou conta das políticas públicas nas últimas décadas, produzindo desastres
monumentais em todo o
mundo.
Para ele, a grande oportunidade que o Brasil desperdiçou
foi lá pelos idos de 1958, em
uma reunião no Palácio Laranjeiras com o presidente
Juscelino Kubitschek. Campos apresentou uma proposta
de desvalorização radical do
cruzeiro. Explicou as vantagens, disse que daria um
enorme impulso às exportações, atrairia investimento
externo para exportar, baratearia os produtos brasileiros,
permitindo avançar no mercado externo, permitiria ao
país acumular dólares para,
depois, avançar em inovações.
O Japão já começara a trilhar por esse caminho e, em
breve, a Coréia do Sul faria o
mesmo. Houve uma reunião
tensa no governo. A proposta
acabou sendo abortada por
Augusto Frederico Schmidt,
poeta e empresário, com
enorme influência sobre JK e
sobre a Cexim, de Coriolano
de Góes, que controlava todo
o comércio exterior brasileiro.
Não se sabem as razões que
levaram Schmidt a ir contra a
medida. Campos e Moreira
Salles achavam que era em
razão da importação de equipamentos para a indústria
têxtil. Mas eram meros rumores. Melhor amigo de Schmidt
e empresário da indústria
têxtil, Júlio Barbero explica
que o setor têxtil não tinha relevância política para emperrar uma proposta de mudança de política cambial.
O fato é que o cruzeiro não
se desvalorizou, o país continuou amarrado a crises cíclicas de balanço de pagamentos, apenas nos anos 70 passou a diversificar sua pauta
de exportações, mas ainda assim em ritmo flagrantemente
inferior ao dos países que investiram firmemente na desvalorização de suas moedas.
Obviamente, para os pragmáticos dos anos 50, a desvalorização cambial não era um
fim em si próprio. Era o reconhecimento da falta de competitividade sistêmica da economia brasileira e a maneira
de injetar um fator que permitisse às empresas, primeiro,
começar a buscar o mercado
externo com a vantagem de
preço, para, depois, ganhar
valor agregado.
De lá para cá, a sina brasileira consistiu em espasmos
de crescimento abortados por
crises cambiais.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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