São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BRA faz pedido de recuperação judicial

Com a medida, companhia aérea tenta afastar risco de credores pedirem sua falência; dívidas chegam a US$ 100 milhões

Caso o pedido seja aceito pela Justiça, idéia da empresa é tentar um novo modelo de negócios, mais focado nos jatos da Embraer

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A BRA, com dívidas de US$ 100 milhões, seguiu o caminho de Varig e Vasp e entrou ontem no Tribunal de Justiça de São Paulo com pedido de recuperação judicial, mecanismo que substituiu a concordata com a nova Lei de Falências.
Com o pedido, a companhia, que anunciou a suspensão de suas operações neste mês, tenta afastar a possibilidade de um eventual pedido de falência de credores. Com a recuperação judicial, ficam suspensas por 180 dias todas as ações ou execuções judiciais contra a companhia. Por outro lado, a BRA ficaria obrigada a apresentar um plano de recuperação a ser submetido aos credores, que podem aprová-lo ou não.
A idéia é que esse modelo de negócios seja focado no aproveitamento dos 20 jatos que a BRA adquiriu da Embraer, segundo Humberto Folegatti, dono da companhia. "Hoje só há novas posições [na "fila" de entregas de aviões] na Embraer para 2011. Temos posições para 2008, 2009 e 2010. Temos lugar na fila garantido e um preço muito bem negociado. Isso viabiliza a companhia", disse o executivo ontem à Folha.
Folegatti é acusado de ter pedido a suspensão dos vôos da BRA para forçar um novo aporte do Brasil Air Partners -fundo de investimento que detém 20% da companhia. Ele nega. Em 2006, esse fundo (formado por sete fundos) aportou US$ 70 milhões na BRA, mas entrou em conflito com o executivo, que anunciou o seu afastamento da presidência do conselho de administração da empresa.
Alguns diretores da companhia foram indicação dos fundos, mas tiveram dificuldade em conseguir informações e fazer mudanças na empresa por causa da resistência de Folegatti. "Você se dá bem com a sua família o tempo todo? É impossível. O fundo é composto por sete sócios. Cada um com larga experiência de vida, e infelizmente opinavam todos. Eles nunca entenderam muito bem esses prejuízos incidentais na companhia".
Para ele, a crise aérea (especialmente prejudicial para uma companhia de pequeno porte, sem escala para minimizar prejuízos) e quatro incidentes com pássaros que entraram em turbinas de aviões da empresa neste ano ("a lei de Murphy", como classificou) levaram a BRA à crise. No primeiro caso, diz, o prejuízo foi de R$ 40 milhões, e no segundo houve gastos de R$ 32 milhões com reacomodação de passageiros.
Ele diz ainda que foram divulgadas informações mentirosas sobre dificuldades da BRA com a manutenção de aviões, o que afetou a demanda.
Nas últimas semanas, a BRA, que tinha 2,5% dos vôos domésticos em outubro, vinha buscando novos investidores. Segundo fontes, a exigência era que Folegatti se desfizesse de suas ações na BRA como condição para investimentos. Ou seja, o afastamento da presidência do controle de administração não teria sido suficiente. Como com a recuperação judicial o futuro é decidido pelos credores, na prática o pedido é encarado também como uma garantia de tirá-lo do controle.
A OceanAir, que fechou contrato com a BRA para transportar os passageiros de bilhetes que haviam sido emitidos antes da suspensão das operações da companhia, afirmou ontem que nada muda no acordo caso o pedido de recuperação seja aceito pela Justiça.


Texto Anterior: Os mais poderosos
Próximo Texto: Aviação: Embraer estuda produção de aeronaves na vizinha Argentina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.