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Múlti teme calote de agricultores no país
John Deere, líder mundial em equipamentos para agricultura, alerta para alta na inadimplência dos produtores devido a efeito cambial
Fabricante de máquinas reduz pela metade sua projeção de receita no setor agrícola brasileiro, para
US$ 2,7 bi no próximo ano
HAL WEITZMAN
DO "FINANCIAL TIMES", EM CHICAGO
A John Deere, maior fabricante mundial de equipamentos para agricultura, alertou para a valorização da moeda brasileira, na quarta-feira, e afirmou que havia registrado forte
alta nos índices de inadimplência entre os agricultores brasileiros. A empresa também reduziu para a metade a sua projeção de receita junto ao setor
agrícola do país em 2010.
A Deere ecoou os sentimentos mais amplos que surgiram
no mercado sobre a moeda brasileira. O banco Goldman Sachs
classificou o real na quarta-feira como a moeda "mais supervalorizada" do mundo, acrescentando que a "muralha de dinheiro" que está sendo investido no país mais que compensou
os controles de capital impostos por Brasília no mês passado, quando foi introduzido um
imposto de 2% sobre aquisições estrangeiras de ações e ativos de renda fixa.
Marie Ziegler, vice-presidente de relacionamento com investidores da Deere, disse que
os agricultores brasileiros se viram apanhados entre a força do
real e a fraqueza do dólar. "O
real vem ganhando terreno em
ritmo forte contra o dólar dos
Estados Unidos", ela observou.
"Sabemos que os agricultores
brasileiros vendem suas safras
em dólares, e que suas despesas
são baseadas no real, e por isso
estamos nos mantendo bem
atentos a isso".
O Brasil é um mercado cada
vez mais importante para a
Deere, que conta com suas vendas em mercados emergentes,
no ano que vem, para compensar a queda vertiginosa da demanda na América do Norte e
na Europa Ocidental, seus mercados tradicionais. A companhia antecipa que as vendas de
equipamentos agrícolas cairão
cerca de 10% na América do
Norte no ano que vem e até 15%
na Europa Ocidental, enquanto
prevê alta de até 15% na demanda sul-americana.
No entanto, a Deere reduziu
sua projeção de receita no setor
agrícola brasileiro para US$ 2,7
bilhões em 2010, ante a meta de
US$ 5,4 bilhões anunciada em
agosto. A empresa mencionou
igualmente a forte elevação no
nível de inadimplência registrado em seus empréstimos a
agricultores, que hoje atinge
1,56% do valor total de sua carteira de créditos agrícolas, ante
0,27% no período em 2008.
"Entre 70% e 75% dessa alta se
deve ao Brasil", disse Ziegler.
A Deere também reportou
resultados e uma projeção para
2010 que ficaram bem aquém
das expectativas de Wall Street.
A empresa registrou prejuízo
de US$ 223 milhões nos três
meses até outubro, ante lucro
de US$ 345 milhões mesmo no
período em 2008.
Os resultados incluem a redução no valor contábil da divisão de suprimentos para paisagismo da empresa e custos de
reestruturação relacionados a
demissões.
Ziegler disse que a projeção
da empresa teria sido ainda
mais pessimista, mas que as
perspectivas haviam melhorado devido às vendas superiores
ao previsto, neste mês.
A companhia fez uma projeção de lucro de US$ 900 milhões para o exercício do próximo ano.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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