São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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Múlti teme calote de agricultores no país

John Deere, líder mundial em equipamentos para agricultura, alerta para alta na inadimplência dos produtores devido a efeito cambial

Fabricante de máquinas reduz pela metade sua projeção de receita no setor agrícola brasileiro, para US$ 2,7 bi no próximo ano

HAL WEITZMAN
DO "FINANCIAL TIMES", EM CHICAGO

A John Deere, maior fabricante mundial de equipamentos para agricultura, alertou para a valorização da moeda brasileira, na quarta-feira, e afirmou que havia registrado forte alta nos índices de inadimplência entre os agricultores brasileiros. A empresa também reduziu para a metade a sua projeção de receita junto ao setor agrícola do país em 2010.
A Deere ecoou os sentimentos mais amplos que surgiram no mercado sobre a moeda brasileira. O banco Goldman Sachs classificou o real na quarta-feira como a moeda "mais supervalorizada" do mundo, acrescentando que a "muralha de dinheiro" que está sendo investido no país mais que compensou os controles de capital impostos por Brasília no mês passado, quando foi introduzido um imposto de 2% sobre aquisições estrangeiras de ações e ativos de renda fixa.
Marie Ziegler, vice-presidente de relacionamento com investidores da Deere, disse que os agricultores brasileiros se viram apanhados entre a força do real e a fraqueza do dólar. "O real vem ganhando terreno em ritmo forte contra o dólar dos Estados Unidos", ela observou.
"Sabemos que os agricultores brasileiros vendem suas safras em dólares, e que suas despesas são baseadas no real, e por isso estamos nos mantendo bem atentos a isso".
O Brasil é um mercado cada vez mais importante para a Deere, que conta com suas vendas em mercados emergentes, no ano que vem, para compensar a queda vertiginosa da demanda na América do Norte e na Europa Ocidental, seus mercados tradicionais. A companhia antecipa que as vendas de equipamentos agrícolas cairão cerca de 10% na América do Norte no ano que vem e até 15% na Europa Ocidental, enquanto prevê alta de até 15% na demanda sul-americana.
No entanto, a Deere reduziu sua projeção de receita no setor agrícola brasileiro para US$ 2,7 bilhões em 2010, ante a meta de US$ 5,4 bilhões anunciada em agosto. A empresa mencionou igualmente a forte elevação no nível de inadimplência registrado em seus empréstimos a agricultores, que hoje atinge 1,56% do valor total de sua carteira de créditos agrícolas, ante 0,27% no período em 2008.
"Entre 70% e 75% dessa alta se deve ao Brasil", disse Ziegler.
A Deere também reportou resultados e uma projeção para 2010 que ficaram bem aquém das expectativas de Wall Street.
A empresa registrou prejuízo de US$ 223 milhões nos três meses até outubro, ante lucro de US$ 345 milhões mesmo no período em 2008.
Os resultados incluem a redução no valor contábil da divisão de suprimentos para paisagismo da empresa e custos de reestruturação relacionados a demissões.
Ziegler disse que a projeção da empresa teria sido ainda mais pessimista, mas que as perspectivas haviam melhorado devido às vendas superiores ao previsto, neste mês.
A companhia fez uma projeção de lucro de US$ 900 milhões para o exercício do próximo ano.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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