São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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País entrou em novo ciclo de consumo, diz Szajman

Para presidente da Fecomercio, classes menos favorecidas vão sustentar crescimento

Entidade vê crescimento de até 15% no faturamento do comércio neste Natal, mas avalia que o de 1994 ainda será o melhor da história

DA REPORTAGEM LOCAL

Há 25 anos no comando da Fecomercio SP, entidade dos lojistas paulistas, Abram Szajman afirma que o Brasil entrou em um novo ciclo de consumo que "veio para ficar". Para ele, o ingresso de consumidores de classes menos favorecidas deve sustentar o crescimento do país e o Brasil "deve ser mesmo a bola da vez".
Mas, para isso, "o Estado deve ser menos gastador do que tem sido nos últimos 12 a 15 meses". "Os gastos públicos cresceram muito, e a disponibilidade de recursos do setor público para fazer obras de infraestrutura é praticamente inexistente". (CR e FF)

 

FOLHA - O sr. chegou a achar que o impacto da crise seria maior no país?
ABRAM SZAJMAN -
Sim. Mas o brasileiro ficou surpreendentemente alegre. O [economista] Delfim Netto acha que isso ocorreu porque o presidente Lula mandou o consumidor comprar. Na minha opinião, foi um conjunto de providências que levaram a isso, como o governo ter colocado recursos à disposição dos bancos, a expansão dos prazos de financiamento e a redução de IPI para carros e eletroeletrônicos.

FOLHA - Como será este Natal?
SZAJMAN -
Esperamos crescimento de faturamento entre 12% e 15%, na comparação com igual período do ano passado. Não acho que será o melhor da história, talvez no ano que vem isso possa vir a ocorrer. O melhor Natal da história ocorreu em 1994, com o Plano Real.

FOLHA - O padrão de consumo mudou? SZAJMAN - Sim. Entendo que o Brasil entrou em novo ciclo de consumo, já que o acesso de pessoas a mais bens e serviços é irreversível. O país tem quase 200 milhões de habitantes, dos quais 100 milhões de pessoas não consomem praticamente nada. Mas é preciso que o governo fique de olho em sua política macroeconômica, precisa gastar muito menos do que gastou nos últimos 12 a 15 meses.

FOLHA - O dólar favorável tem levado o comércio a importar mais?
SZAJMAN -
Tem sim, principalmente nos setores de alimentos e de eletroeletrônicos. Mas isso não acontece só no Brasil. O chinês invadiu o mundo. Para o comércio é ótimo, principalmente para as lojas com potencial para importar, mas para a indústria...

FOLHA - Alguns economistas avaliam que existe uma bolha de otimismo hoje no mercado. O sr. crê nisso?
SZAJMAN -
Não creio. Assim como não acho que a situação de mercado hoje possa levar à elevação de taxas de juros. Os juros no país ainda estão entre os mais altos do mundo. Se considerar preços de alimentos, artigos têxteis e outros, vai verificar que estão sob controle. O que pode existir hoje é uma bolha de otimismo na Bolsa de Valores.

FOLHA - Com esse consumo mais elevado, existe o temor de que a inadimplência volte a subir em 2010?
SZAJMAN -
É normal o aumento da inadimplência no começo do ano, já que o consumidor tem obrigações nos primeiros meses, como pagar IPVA, IPTU. Mas isso hoje não preocupa. O consumidor está mais cauteloso e consciente. Compra o que precisa porque sabe que não vai faltar produto e que o preço não vai mudar.


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