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País entrou em novo ciclo de consumo, diz Szajman
Para presidente da Fecomercio, classes menos favorecidas vão sustentar crescimento
Entidade vê crescimento de até 15% no faturamento do comércio neste Natal, mas avalia que o de 1994 ainda será o melhor da história
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 25 anos no comando da
Fecomercio SP, entidade dos
lojistas paulistas, Abram Szajman afirma que o Brasil entrou
em um novo ciclo de consumo
que "veio para ficar".
Para ele, o ingresso de consumidores de classes menos favorecidas deve sustentar o crescimento do país e o Brasil "deve
ser mesmo a bola da vez".
Mas, para isso, "o Estado deve ser menos gastador do que
tem sido nos últimos 12 a 15
meses". "Os gastos públicos
cresceram muito, e a disponibilidade de recursos do setor público para fazer obras de infraestrutura é praticamente
inexistente".
(CR e FF)
FOLHA - O sr. chegou a achar que o
impacto da crise seria maior no país?
ABRAM SZAJMAN - Sim. Mas o
brasileiro ficou surpreendentemente alegre. O [economista]
Delfim Netto acha que isso
ocorreu porque o presidente
Lula mandou o consumidor
comprar. Na minha opinião, foi
um conjunto de providências
que levaram a isso, como o governo ter colocado recursos à
disposição dos bancos, a expansão dos prazos de financiamento e a redução de IPI para carros e eletroeletrônicos.
FOLHA - Como será este Natal?
SZAJMAN - Esperamos crescimento de faturamento entre
12% e 15%, na comparação com
igual período do ano passado.
Não acho que será o melhor da
história, talvez no ano que vem
isso possa vir a ocorrer. O melhor Natal da história ocorreu
em 1994, com o Plano Real.
FOLHA - O padrão de consumo mudou?
SZAJMAN - Sim. Entendo que o
Brasil entrou em novo ciclo de
consumo, já que o acesso de
pessoas a mais bens e serviços é
irreversível. O país tem quase
200 milhões de habitantes, dos
quais 100 milhões de pessoas
não consomem praticamente
nada. Mas é preciso que o governo fique de olho em sua política macroeconômica, precisa
gastar muito menos do que gastou nos últimos 12 a 15 meses.
FOLHA - O dólar favorável tem levado o comércio a importar mais?
SZAJMAN - Tem sim, principalmente nos setores de alimentos
e de eletroeletrônicos. Mas isso
não acontece só no Brasil. O
chinês invadiu o mundo. Para o
comércio é ótimo, principalmente para as lojas com potencial para importar, mas para a
indústria...
FOLHA - Alguns economistas avaliam que existe uma bolha de otimismo hoje no mercado. O sr. crê
nisso?
SZAJMAN - Não creio. Assim como não acho que a situação de
mercado hoje possa levar à elevação de taxas de juros. Os juros no país ainda estão entre os
mais altos do mundo. Se considerar preços de alimentos, artigos têxteis e outros, vai verificar que estão sob controle. O
que pode existir hoje é uma bolha de otimismo na Bolsa de
Valores.
FOLHA - Com esse consumo mais
elevado, existe o temor de que a inadimplência volte a subir em 2010?
SZAJMAN - É normal o aumento
da inadimplência no começo do
ano, já que o consumidor tem
obrigações nos primeiros meses, como pagar IPVA, IPTU.
Mas isso hoje não preocupa. O
consumidor está mais cauteloso e consciente. Compra o que
precisa porque sabe que não vai
faltar produto e que o preço não
vai mudar.
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