São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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Crise em Dubai pode ameaçar emergentes

Bank of America afirma que possível calote do emirado pode secar fluxo de capital para economias em desenvolvimento

Liderado pelo HSBC, setor financeiro britânico, que teve de ser resgatado pelo governo, é o que mais emprestou para país árabe

DA REDAÇÃO

Os grandes bancos britânicos, que, em grande parte, só atravessaram a crise no ano passado graças à intervenção do governo, são os mais expostos às dívidas de Dubai e dos demais seis emirados que compõem os Emirados Árabes.
Lideradas pelo HSBC, as instituições financeiras britânicas tinham emprestados US$ 50 bilhões para empresas da região em 2008, de um total de US$ 123 bilhões concedidos pelos bancos estrangeiros, segundo o BIS (Banco para Compensações Internacionais).
O HSBC, o maior banco da Europa, é o que aparece como o mais exposto a possíveis dívidas, com US$ 17 bilhões em empréstimo, seguido pelo Standard Chartered (instituição que tem participação da holding Dubai World), com US$ 7,8 bilhões, e pelo RBS, com US$ 3,6 bilhões -os três bancos são britânicos, o que reflete o foco deles em mercados emergentes e as ligações históricas entre os dois países.
O presidente-executivo do HSBC, Michael Geoghegan, disse estar "confiante" de que Dubai e o restante do país vão "superar quaisquer problemas de curto prazo que enfrentem".
No início deste ano, o governo do Reino Unido assumiu o controle de dois dos maiores bancos do país, o RBS e o Lloyds, que tinham dívidas bilionárias e colaboraram para a paralisia do crédito que levou a economia à recessão.
A preocupação com os efeitos da crise em Dubai nos bancos britânicos fez o governo Gordon Brown se manifestar sobre o caso. Segundo porta-voz, a visão do governo é que as instituições financeiras estão suficientemente capitalizadas depois de serem submetidas a "rigorosos testes de estresse." Nesses testes, foi analisada a capacidade dos bancos de enfrentarem novas perdas.
A preocupação com o possível calote de US$ 59 bilhões pela Dubai World (que possui empresas no emirado e participação em dezenas de outras pelo resto do mundo), porém, não está restrita aos bancos.
Entre analistas, existe o temor de que, caso a proposta de Dubai de reestruturação da dívida não seja aceita pelos credores, se transforme em uma moratória com efeitos parecidos aos da feita pela Argentina, no início desta década, e pela Rússia, no fim dos anos 90. Ou seja, o temor se espalharia para os demais mercados emergentes e secaria o fluxo de capital para essas economias.
Para Benoit Anne e Daniel Tenengauzer, analistas do Bank of America, a moratória por parte de Dubai pode levar a "uma parada brusca no fluxo de capital para os mercados emergentes" e ser "um grande passo para trás" na recuperação da crise financeira global.
Mas também há quem diga que a reação nos mercados, especialmente anteontem, foi exagerada e que é preciso esperar pelo menos até a semana que vem, quando o governo de Dubai promete mais detalhes de seu plano para as dívidas.
"Dubai, na verdade, é mais um sintoma, um legado de um boom anterior, do que um indicativo de um começo de uma série de questões que vão criar uma crise sistêmica nos mercados emergentes", afirmou Kevin Grice, economista da Capital Economics, de Londres. "Os mercados pressupõem o pior cenário possível."
Mohamed El-Erian, presidente da Pimco, um dos maiores fundos do mundo, afirmou que os problemas de Dubai podem servir para uma correção nos preços das ações em Bolsa, mas descartou que as quedas nos mercados desde o anúncio de quarta-feira por Dubai sejam indício de mais uma crise.
Ontem, as Bolsas na Ásia e nos EUA (onde ela não funcionou anteontem devido a feriado) tiveram perdas, enquanto os mercados no Brasil e na Europa recuperaram parte das quedas da quinta-feira.


Com agências internacionais, "Financial Times" e "The New York Times"


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