|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula diz que veta mínimo acima de R$ 380
Presidente afirma que vetou com "o maior prazer" reajuste de 16,6% para aposentados e que pode fazê-lo de novo
Em evento no Planalto, Lula pede o apoio de líderes sindicais para aprovar as reformas trabalhista, da Previdência e outras
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que
vai vetar qualquer tentativa de
aumentar o salário mínimo
além dos R$ 380 já definidos
pelo seu governo para o próximo ano, como já fez, "com o
maior prazer", ao vetar reajuste
aos aposentados maior que o
defendido pelo governo.
"A gente não está livre de pegar alguém que queira chegar
ao mês de maio e fazer uma
apresentação [de um valor
maior]. Mas não se preocupem
que eu veto. Se alguém tentar
extrapolar o limite do que foi
acordado, não tenham dúvida
que eu veto, como vetei, antes
das eleições, a demagogia daquele aumento que quiseram
dar", disse ele, no Planalto.
No início de julho, quando a
campanha eleitoral já tinha sido deflagrada, Lula teve de vetar um reajuste de 16,67% para
os aposentados que ganham
mais de um salário mínimo
-hoje de R$ 350. O presidente
defendia um aumento 16,67%
para quem ganhasse até um mínimo e de 5% para quem recebesse mais que isso.
Na época, Lula ficou acuado
por ter de tomar uma medida
impopular às vésperas da eleição e classificou o aumento
maior, proposto pelo Congresso, de "politiqueiro" e "irresponsável". Ontem, afirmou que
vetou "com o maior prazer".
Ao exaltar o que considera
feitos de seu governo, o presidente acabou por admitir que
no passado seus discursos não
tinham ligação com a realidade
política. "Na verdade, o salário
mínimo era uma peça de ficção
para discurso nosso no dia 1º de
Maio. Isso valia para o Marinho
[Luiz, atual ministro do Trabalho], quando era presidente da
CUT, para mim, quando eu era
presidente sindical no ABC, e
para todos vocês. A gente fazia
um discurso no 1º de Maio, até
porque a maioria das nossas categorias não representa o trabalhador de salário mínimo",
disse Lula, numa sala repleta de
sindicalistas.
Depois de uma apresentação
de Marinho, sobre os ganhos
reais do salário mínimo em seu
governo, Lula proferiu várias
frases de efeito - "R$ 30 é pouco para quem tem muito, mas é
muito para quem tem pouco"-
e chegou a se emocionar em alguns momentos. "Por falta de
uma moedinha de 50 centavos,
eu andava a pé 12 quilômetros",
contou, sobre quando ainda estudava para ser metalúrgico.
"Eu pegava o ônibus no ponto, e a minha mulher pegava em
um ponto antes de mim -minha mulher não, minha noiva,
depois virou minha mulher- e
eu tinha que sair a pé. E toda
hora que vinha um ônibus eu
corria para o meio do campo
para que a minha noiva não visse que eu estava andando a pé
com a minha marmitinha, por
causa de uma moedinha", disse,
com os olhos marejados.
Reformas
Na cerimônia, para assinar
acordo com sindicalistas para o
reajuste do salário mínimo, o
presidente fez uma defesa das
"reformas", inclusive da Previdência, de modo indireto. "Nós
vamos ter de discutir reformas.
[...] Vamos discutir, depois de
um diagnóstico muito correto,
quais são as soluções que cada
um de nós quer deixar para os
nossos filhos no mundo do trabalho, da Previdência Social, e
em tantas outras áreas."
Lula pediu ajuda dos sindicalistas para vencer resistências
às reformas. "Para desburocratizar o país, às vezes a gente mexe com a estrutura corporativa,
o que vai precisar da compreensão de vocês, porque senão, no mundo, a história nos
ensina que é mais fácil ficar como está do que tentar fazer
qualquer mudança", disse.
"E, afinal de contas, para que
vocês entraram no sindicato?
Para que eu virei presidente da
República? Para virar a mesmice? A mesmice não precisava de
nós", afirmou Lula.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Oposição diz que insistirá no valor de R$ 420 Índice
|