São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

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Liquidação pós-Natal reduz os preços de poucos produtos

Grande parte de artigos em promoção nas lojas foi encomendada especialmente para este período do ano

Para analista, não existe ainda no varejo brasileiro a cultura da liquidação como uma grande oportunidade de negócios

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

MARCELO SAKATE
DA REDAÇÃO

As tão anunciadas liquidações de Natal englobam só de 0,7% a 2,5% de tudo o que uma loja vende. Alvo de ações da mídia para chamar a sua atenção, o consumidor acaba atraído para comprar também produtos que não estão em promoção.
Com estoques ajustados, o varejo de eletrônicos, por exemplo, não tem tanta sobra de mercadorias para desovar agora -grandes indústrias voltam a operar normalmente em 8 de janeiro para atender à demanda do primeiro trimestre.
Parte do que as redes decidiram "queimar" neste momento é de itens comprados da indústria especificamente para compor o lote de liquidação. É o caso das redes Extra e Ponto Frio, que fizeram acordos exclusivos com fornecedores, segundo afirmam. Os hipermercados Extra colocaram em liquidação cerca de mil produtos -alimentos estão fora dessa conta.
Calcula-se que um hipermercado médio tenha cerca de 70 mil itens, incluindo produtos alimentícios. Ao retirar os alimentos dessa soma (entre 20 mil e 30 mil itens), estima-se que, do total ofertado pelo Extra, a liquidação englobará de 2% a 2,5% do volume. Os descontos chegam a 70%, e a ação da rede acaba no dia 31.
No Submarino, há 5.000 itens em promoção, de um total de 700 mil à venda no site -ou seja, 0,71% do comercializado pela rede. Até o dia 7 de janeiro é possível comprar eletrônicos com descontos de 30% e itens de telefonia com redução de 35% no valor. No ShopTime são mais de mil produtos em liquidação, com descontos de até 67%. O volume equivale a 0,5% do total ofertado no site.

Rotatividade
A baixa relação entre ofertas e produtos disponíveis é questionada pelas lojas. O Extra explica que o número de itens em promoção tende a aumentar porque a rotatividade das promoções é alta -há sempre uma mercadoria nova que entra na lista de descontos, diz a rede.
Em outros setores, como o da construção civil, a estratégia dos descontos se repete. Centenas de produtos da C&C (Casa&Construção) estão com redução de 30% a 70% nos preços. A rede vende cerca de 45 mil itens. Dicico e Telha Norte adotam modelo semelhante.
No Ponto Frio, uma das maiores cadeias de eletroeletrônicos do Brasil, o desconto na liquidação atinge 85%, mas será limitado a apenas cerca de 500 itens por unidade.

Estoque menor
Na avaliação das principais entidades do comércio, como a ACSP (Associação Comercial de São Paulo) e a Fecomercio SP, o estoque das lojas está em patamar baixo, principalmente nas linhas de eletrônicos e telefonia. A elevação de 5,7% nas vendas do comércio em São Paulo no Natal, inclusive, foi maior do que a prevista, o que reduziu o volume estocado.
Portanto, novos pedidos já foram encaminhados aos fornecedores de bens duráveis. Isso porque os comerciantes já trabalhavam com estoques muito ajustados em dezembro, e era preciso fazer encomendas para o primeiro bimestre.
A Semp Toshiba manteve a linha de produção em Manaus (AM) operando até a semana passada para fabricar produtos para venda em janeiro e fevereiro. A Panasonic manteve o dia 8 de janeiro como a data de retorno de seus funcionários na linha de produção porque será preciso montar equipamentos para entrega no próximo mês.
Na avaliação de Marcos Gouvêa, sócio-diretor da consultoria Gouvêa de Souza & MD, especializada em varejo, a maioria das liquidações no país ainda reflete a correção de uma deformação no mercado, de oferta ou demanda. Não há a cultura da liquidação no Brasil como uma grande oportunidade de negócio -o que ocorre nos EUA. "[Na liquidação] estão itens comprados em excesso ou que não saíram [venderam] tão bem. Por isso a quantidade vendida não é tão grande", diz.
Para Gouvêa, a estratégia dos descontos "pode trazer um adicional de tráfego para a rede, mas antecipa a redução da rentabilidade, uma vez que as margens são menores".


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