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Liquidação pós-Natal reduz os preços de poucos produtos
Grande parte de artigos em promoção nas lojas foi encomendada especialmente para este período do ano
Para analista, não existe ainda no varejo brasileiro
a cultura da liquidação como uma grande oportunidade de negócios
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
MARCELO SAKATE
DA REDAÇÃO
As tão anunciadas liquidações de Natal englobam só de
0,7% a 2,5% de tudo o que uma
loja vende. Alvo de ações da mídia para chamar a sua atenção,
o consumidor acaba atraído para comprar também produtos
que não estão em promoção.
Com estoques ajustados, o
varejo de eletrônicos, por
exemplo, não tem tanta sobra
de mercadorias para desovar
agora -grandes indústrias voltam a operar normalmente em
8 de janeiro para atender à demanda do primeiro trimestre.
Parte do que as redes decidiram "queimar" neste momento
é de itens comprados da indústria especificamente para compor o lote de liquidação. É o caso das redes Extra e Ponto Frio,
que fizeram acordos exclusivos
com fornecedores, segundo
afirmam. Os hipermercados
Extra colocaram em liquidação
cerca de mil produtos -alimentos estão fora dessa conta.
Calcula-se que um hipermercado médio tenha cerca de 70
mil itens, incluindo produtos
alimentícios. Ao retirar os alimentos dessa soma (entre 20
mil e 30 mil itens), estima-se
que, do total ofertado pelo Extra, a liquidação englobará de
2% a 2,5% do volume. Os descontos chegam a 70%, e a ação
da rede acaba no dia 31.
No Submarino, há 5.000
itens em promoção, de um total
de 700 mil à venda no site -ou
seja, 0,71% do comercializado
pela rede. Até o dia 7 de janeiro
é possível comprar eletrônicos
com descontos de 30% e itens
de telefonia com redução de
35% no valor. No ShopTime são
mais de mil produtos em liquidação, com descontos de até
67%. O volume equivale a 0,5%
do total ofertado no site.
Rotatividade
A baixa relação entre ofertas
e produtos disponíveis é questionada pelas lojas. O Extra explica que o número de itens em
promoção tende a aumentar
porque a rotatividade das promoções é alta -há sempre uma
mercadoria nova que entra na
lista de descontos, diz a rede.
Em outros setores, como o da
construção civil, a estratégia
dos descontos se repete. Centenas de produtos da C&C (Casa&Construção) estão com redução de 30% a 70% nos preços. A rede vende cerca de 45
mil itens. Dicico e Telha Norte
adotam modelo semelhante.
No Ponto Frio, uma das
maiores cadeias de eletroeletrônicos do Brasil, o desconto
na liquidação atinge 85%, mas
será limitado a apenas cerca de
500 itens por unidade.
Estoque menor
Na avaliação das principais
entidades do comércio, como a
ACSP (Associação Comercial
de São Paulo) e a Fecomercio
SP, o estoque das lojas está em
patamar baixo, principalmente
nas linhas de eletrônicos e telefonia. A elevação de 5,7% nas
vendas do comércio em São
Paulo no Natal, inclusive, foi
maior do que a prevista, o que
reduziu o volume estocado.
Portanto, novos pedidos já
foram encaminhados aos fornecedores de bens duráveis. Isso porque os comerciantes já
trabalhavam com estoques
muito ajustados em dezembro,
e era preciso fazer encomendas
para o primeiro bimestre.
A Semp Toshiba manteve a
linha de produção em Manaus
(AM) operando até a semana
passada para fabricar produtos
para venda em janeiro e fevereiro. A Panasonic manteve o
dia 8 de janeiro como a data de
retorno de seus funcionários na
linha de produção porque será
preciso montar equipamentos
para entrega no próximo mês.
Na avaliação de Marcos Gouvêa, sócio-diretor da consultoria Gouvêa de Souza & MD, especializada em varejo, a maioria das liquidações no país ainda reflete a correção de uma deformação no mercado, de oferta ou demanda. Não há a cultura da liquidação no Brasil como
uma grande oportunidade de
negócio -o que ocorre nos
EUA. "[Na liquidação] estão
itens comprados em excesso ou
que não saíram [venderam] tão
bem. Por isso a quantidade vendida não é tão grande", diz.
Para Gouvêa, a estratégia dos
descontos "pode trazer um adicional de tráfego para a rede,
mas antecipa a redução da rentabilidade, uma vez que as margens são menores".
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