São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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Crise interrompe bom momento da América Latina

Desaceleração deve barrar o processo de diminuição dapobreza na região, que receberá menos remessas estrangeiras

Desemprego deve subir na região, onde a Argentina sofre com a falta de crédito e Equador e Bolívia com a baixa das commodities

DE CARACAS

Escaldada por crises anteriores, a economia latino-americana enfrentará 2009 armada com reservas internacionais robustas e menos endividada. Mas a queda brusca no preço das commodities e a desaceleração do crescimento registrado nos últimos anos provocarão aumentos na taxa de desemprego e ameaça de recessão em alguns dos países da região.
A crise interrompeu um dos melhores momentos econômicos da história. Desde 2004, a América Latina tem experimentado um crescimento médio em torno dos 5%. Para o ano que vem, as previsões têm variado entre um incremento de 1,9% (Cepal) e uma contração de 0,4% (Morgan Stanley).
Nas análises sobre a economia latino-americana, existe o consenso de que a queda acentuada do preço das commodities e a desaceleração das exportações terão um duro impacto na região. Segundo a Cepal, em seu balanço de 2008, essa combinação já está provocando um déficit em conta corrente (todos os bens e serviços transacionados com o exterior) estimado em 0,6% do PIB regional neste ano, mas que deve chegar a 2,5% em 2009.
A crise será pior em países mais dependentes das commodities. Na projeção da consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), que prevê um crescimento de apenas 1% do PIB, haverá recessão tanto na Venezuela quanto no México (0,2%), ambos bastante dependentes do petróleo. Para o Brasil, a expectativa é de uma expansão de 2,4% em 2009.
"O México, a segunda economia da região, aparentemente está em recessão no quarto trimestre [de 2008], e nós estamos projetando uma contração durante todo o ano de 2009", diz o relatório da EIU, divulgado anteontem.
Equador (petróleo) e Bolívia (gás) também terão queda acentuada de arrecadação por causa da queda dos preços, segundo estimativa da Cepal. O problema deve se repetir em menor escala na Argentina, no Chile, na Colômbia e no Peru.
No caso da Argentina, analistas apontam que um de seus principais problemas será o acesso quase nulo ao crédito internacional devido à recente moratória. O país tem a porcentagem mais alta de dívida pública em relação ao PIB: 48%, contra uma média regional de 26,1%.
Na avaliação da EIU, o principal parceiro econômico do Brasil na América Latina terá o terceiro pior desempenho econômico em 2009 entre os maiores países da região, atrás apenas do México e da Venezuela, com um aumento do PIB projetado em apenas 0,5%.

Remessas
Vários países também devem sofrer com a queda na remessa dos imigrantes, principalmente os radicados nos EUA e na Espanha. O impacto será maior na América Central e no Caribe, mas deve ser ainda sentido no México e na Bolívia.
O dinheiro das remessas tem sido apontado com um dos principais financiadores para a diminuição da desigualdade na América Latina, já que os trabalhadores no exterior geralmente saíram de famílias pobres.
Deve também contribuir para o aumento da pobreza, segundo a Cepal, o crescimento do desemprego, que subirá de 7,5%, estimados para 2008, para alcançar entre 7,8% e 8,1%, no ano que vem, com um aumento da economia informal.
A desaceleração econômica deve interromper a contínua diminuição da pobreza registrada nos últimos anos pela Cepal: de 44% da população, em 2002, para um estimado de 33% neste ano. (FM)


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