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Crise interrompe bom momento da América Latina
Desaceleração deve barrar o processo de diminuição
dapobreza na região, que receberá menos remessas
estrangeiras
Desemprego deve subir na
região, onde a Argentina
sofre com a falta de crédito e
Equador e Bolívia com a
baixa das commodities
DE CARACAS
Escaldada por crises anteriores, a economia latino-americana enfrentará 2009 armada
com reservas internacionais
robustas e menos endividada.
Mas a queda brusca no preço
das commodities e a desaceleração do crescimento registrado nos últimos anos provocarão aumentos na taxa de desemprego e ameaça de recessão
em alguns dos países da região.
A crise interrompeu um dos
melhores momentos econômicos da história. Desde 2004, a
América Latina tem experimentado um crescimento médio em torno dos 5%. Para o ano
que vem, as previsões têm variado entre um incremento de
1,9% (Cepal) e uma contração
de 0,4% (Morgan Stanley).
Nas análises sobre a economia latino-americana, existe o
consenso de que a queda acentuada do preço das commodities e a desaceleração das exportações terão um duro impacto na região. Segundo a Cepal, em seu balanço de 2008,
essa combinação já está provocando um déficit em conta corrente (todos os bens e serviços
transacionados com o exterior)
estimado em 0,6% do PIB regional neste ano, mas que deve
chegar a 2,5% em 2009.
A crise será pior em países
mais dependentes das commodities. Na projeção da consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), que prevê
um crescimento de apenas 1%
do PIB, haverá recessão tanto
na Venezuela quanto no México (0,2%), ambos bastante dependentes do petróleo. Para o
Brasil, a expectativa é de uma
expansão de 2,4% em 2009.
"O México, a segunda economia da região, aparentemente
está em recessão no quarto trimestre [de 2008], e nós estamos projetando uma contração
durante todo o ano de 2009",
diz o relatório da EIU, divulgado anteontem.
Equador (petróleo) e Bolívia
(gás) também terão queda
acentuada de arrecadação por
causa da queda dos preços, segundo estimativa da Cepal. O
problema deve se repetir em
menor escala na Argentina, no
Chile, na Colômbia e no Peru.
No caso da Argentina, analistas apontam que um de seus
principais problemas será o
acesso quase nulo ao crédito internacional devido à recente
moratória. O país tem a porcentagem mais alta de dívida
pública em relação ao PIB:
48%, contra uma média regional de 26,1%.
Na avaliação da EIU, o principal parceiro econômico do
Brasil na América Latina terá o
terceiro pior desempenho econômico em 2009 entre os
maiores países da região, atrás
apenas do México e da Venezuela, com um aumento do PIB
projetado em apenas 0,5%.
Remessas
Vários países também devem
sofrer com a queda na remessa
dos imigrantes, principalmente
os radicados nos EUA e na Espanha. O impacto será maior na
América Central e no Caribe,
mas deve ser ainda sentido no
México e na Bolívia.
O dinheiro das remessas tem
sido apontado com um dos
principais financiadores para a
diminuição da desigualdade na
América Latina, já que os trabalhadores no exterior geralmente saíram de famílias pobres.
Deve também contribuir para o aumento da pobreza, segundo a Cepal, o crescimento
do desemprego, que subirá de
7,5%, estimados para 2008, para alcançar entre 7,8% e 8,1%,
no ano que vem, com um aumento da economia informal.
A desaceleração econômica
deve interromper a contínua
diminuição da pobreza registrada nos últimos anos pela Cepal: de 44% da população, em
2002, para um estimado de
33% neste ano.
(FM)
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