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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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POUCO E CARO

Em 95, empréstimos concedidos por bancos representavam 37% do PIB; em dezembro do ano passado, 24%

Volume de crédito mingua nos anos FHC

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O volume de crédito disponível na economia registrou uma sensível queda durante os oito anos de mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No início de 1995, o total de empréstimos concedidos por bancos no país representava 37% do PIB (Produto Interno Bruto). Em dezembro passado, essa proporção havia recuado para 24%, segundo dados do Banco Central.
O volume de crédito disponível em um país serve como um dos vários indicadores da capacidade de crescimento da economia. Quanto mais empréstimos pessoas e empresas tomam, mais recursos podem ser direcionados para consumo ou para investimentos, colaborando para o aumento do nível de atividade.
A comparação entre crédito e PIB é uma maneira de descontar o efeito que a inflação tem sobre esses números. Em dezembro de 1994, por exemplo, os empréstimos concedidos pelos bancos (incluindo repasses do BNDES, crédito rural e financiamento habitacional) totalizavam R$ 186 bilhões. No mês passado, eram R$ 377,8 bilhões -crescimento nominal de 103%. Já a inflação do período, medida pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços -Disponibilidade Interna), ficou em 152%.
Isso significa que, embora seu valor em reais tenha aumentado, a elevação não foi suficiente para acompanhar o ritmo de crescimento da economia observado nos últimos oito anos.
"Sem dúvida isso [o baixo volume de empréstimos" é um obstáculo ao crescimento", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. As elevadas taxas de juros praticadas no país explicam, em parte, a queda no crédito.
Por um lado, as altas taxas cobradas pelos bancos tornam os empréstimos extremamente caros, fazendo com que empresas e pessoas físicas evitem ao máximo contrair dívidas.
Além disso, as sucessivas elevações da taxa Selic -hoje em 25,5% ao ano- fazem com que os bancos prefiram direcionar grande parte de seus recursos a aplicações em títulos públicos, em vez de utilizá-los para expandir suas carteiras de crédito. Os títulos apresentam boa rentabilidade e seu risco de calote é muito baixo.
Em junho de 2001, houve ainda uma queda de R$ 4 bilhões no volume de crédito disponível no país devido à reestruturação do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Em dificuldades financeiras, esses bancos transferiram boa parte de suas carteiras de crédito -o equivalente a quase 4% do PIB da época- para o Tesouro Nacional.
O governo FHC sempre teve como objetivo criar condições para que a relação entre crédito e PIB pudesse chegar aos níveis observados em países como o Chile, onde essa proporção gira em torno de 60%.
Havia a expectativa de que a entrada de bancos estrangeiros no país pudesse colaborar para a expansão do crédito. A idéia era que essas instituições pudessem ser atraídas para o país pelo potencial de crescimento que o setor financeiro possuía nos primeiros anos do Plano Real.
As privatizações dos bancos estaduais e o saneamento do setor bancário por meio do Proer (programa de ajuda a bancos privados) também poderiam levar a um aumento da concorrência no setor, com juros menores e mais crédito disponível. Isso acabou não ocorrendo e, nos últimos meses, muitos bancos estrangeiros já decidiram deixar o país.


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