|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POUCO E CARO
Em 95, empréstimos concedidos por bancos representavam 37% do PIB; em dezembro do ano passado, 24%
Volume de crédito mingua nos anos FHC
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O volume de crédito disponível
na economia registrou uma sensível queda durante os oito anos de
mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No início de 1995, o total de empréstimos concedidos por bancos no
país representava 37% do PIB
(Produto Interno Bruto). Em dezembro passado, essa proporção
havia recuado para 24%, segundo
dados do Banco Central.
O volume de crédito disponível
em um país serve como um dos
vários indicadores da capacidade
de crescimento da economia.
Quanto mais empréstimos pessoas e empresas tomam, mais recursos podem ser direcionados
para consumo ou para investimentos, colaborando para o aumento do nível de atividade.
A comparação entre crédito e
PIB é uma maneira de descontar o
efeito que a inflação tem sobre esses números. Em dezembro de
1994, por exemplo, os empréstimos concedidos pelos bancos (incluindo repasses do BNDES, crédito rural e financiamento habitacional) totalizavam R$ 186 bilhões. No mês passado, eram R$
377,8 bilhões -crescimento nominal de 103%. Já a inflação do
período, medida pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços -Disponibilidade Interna), ficou em 152%.
Isso significa que, embora seu
valor em reais tenha aumentado,
a elevação não foi suficiente para
acompanhar o ritmo de crescimento da economia observado
nos últimos oito anos.
"Sem dúvida isso [o baixo volume de empréstimos" é um obstáculo ao crescimento", afirma o
chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. As
elevadas taxas de juros praticadas
no país explicam, em parte, a queda no crédito.
Por um lado, as altas taxas cobradas pelos bancos tornam os
empréstimos extremamente caros, fazendo com que empresas e
pessoas físicas evitem ao máximo
contrair dívidas.
Além disso, as sucessivas elevações da taxa Selic -hoje em
25,5% ao ano- fazem com que
os bancos prefiram direcionar
grande parte de seus recursos a
aplicações em títulos públicos, em
vez de utilizá-los para expandir
suas carteiras de crédito. Os títulos apresentam boa rentabilidade
e seu risco de calote é muito baixo.
Em junho de 2001, houve ainda
uma queda de R$ 4 bilhões no volume de crédito disponível no
país devido à reestruturação do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Em dificuldades financeiras, esses bancos transferiram boa parte de suas carteiras de
crédito -o equivalente a quase
4% do PIB da época- para o Tesouro Nacional.
O governo FHC sempre teve como objetivo criar condições para
que a relação entre crédito e PIB
pudesse chegar aos níveis observados em países como o Chile,
onde essa proporção gira em torno de 60%.
Havia a expectativa de que a entrada de bancos estrangeiros no
país pudesse colaborar para a expansão do crédito. A idéia era que
essas instituições pudessem ser
atraídas para o país pelo potencial
de crescimento que o setor financeiro possuía nos primeiros anos
do Plano Real.
As privatizações dos bancos estaduais e o saneamento do setor
bancário por meio do Proer (programa de ajuda a bancos privados) também poderiam levar a
um aumento da concorrência no
setor, com juros menores e mais
crédito disponível. Isso acabou
não ocorrendo e, nos últimos meses, muitos bancos estrangeiros já
decidiram deixar o país.
Texto Anterior: Taxa em 12 meses é complicador Próximo Texto: Integração: Pascal Lamy participa de debate hoje em SP Índice
|