|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Criticado, governo entra no caso e marca reunião para avaliar crise
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal decidiu entrar no caso Parmalat. Hoje, a crise do grupo estará sendo analisada em reunião no Palácio do Planalto, às 14h30. Estão convocados
os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Roberto Rodrigues (Agricultura) e representantes dos ministérios da Fazenda e da Justiça, do
Banco do Brasil, do Banco Central
e da Comissão de Agricultura da
Câmara dos Deputados.
Ontem, antes mesmo de os pedidos de concordata da empresa
chegarem ao Fórum Central de
São Paulo, os produtores de leite e
representantes dos trabalhadores
defendiam uma intervenção federal na empresa. E criticaram a
"omissão" do governo no caso.
A Folha apurou que ontem, no
final da tarde, o ministro José Dirceu manteve contato com representantes do judiciário paulista,
preocupado com a situação da
empresa. O Banco Central, que
deve participar das discussões de
hoje, já rastreou remessas de dinheiro feitas pela Parmalat ao exterior, entre 1998 e 2003.
Fornecedores da Parmalat no
Rio de Janeiro e representantes de
agricultores em Goiás e Pernambuco criticaram de forma dura a
posição do governo no caso. "O
governo foi ausente e apático ao
tratar desse assunto", disse Rodrigo Alvim, presidente da CNA, comissão nacional de pecuária.
Os sindicalistas, que tinham
reunião com o presidente da Parmalat ontem -que acabou cancelada-, também pedem a intervenção do governo no caso. "Não
queremos que o governo coloque
dinheiro em uma fornalha. Nossa
proposta é na mesma linha do
que está sendo feito na Itália", disse Siderlei Silva, presidente da
Contac (Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Indústria
de Alimentação), ligada à CUT.
Credores
Fornecedores do Rio querem
que o governo ajude a pagar a
conta da Parmalat com as cooperativas. Rodolfo Tavares, presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio de Janeiro,
afirma que encaminhará documento ao Ministério da Agricultura solicitando liberação de linha
de crédito no valor de R$ 14 milhões aos produtores que têm recursos a receber do grupo.
Esse valor (R$ 14 milhões) equivale a dívidas ainda não pagas pela companhia referentes a entregas feitas em novembro, dezembro e janeiro.
Com o pedido de concordata da
companhia, o fornecimento à empresa deve ser reduzido ainda
mais. "Os três fornecedores do
grupo no Rio que ainda faziam
entregas devem parar de fazê-lo.
Estamos fechando acordos com
outras companhias para absorver
a produção", afirmou Tavares.
As cooperativas não possuem
direito de preferência nos recebimentos em caso de concordata.
Pela lei brasileira, recebem primeiro funcionários e o governo.
Um dos fatores que pesou na
decisão da Parmalat de pedir concordata foi a difícil negociação
com os bancos credores. "Os bancos apertaram um pouco demais,
principalmente o Banco do Brasil", disse Thomas Felsberg, advogado da Parmalat do Brasil S.A
Indústria de Alimentos.
No entanto, as instituições financeiras também reclamam do
tratamento recebido da empresa.
O diretor de um desses credores
disse que desde dezembro tentava
negociar com a Parmalat, mas as
conversas não andavam. Segundo
esse executivo, o diretor da companhia Andrea Ventura recebeu
ordem da matriz na Itália para
não pagar ninguém.
Segundo Felsberg, "a posição da
Parmalat sempre foi de negociar
com os credores". Ele diz que
nunca soube de nenhuma ordem
da matriz para não pagar dívidas
contraídas pela filial brasileira.
Desde o início, segundo a Folha
apurou, os bancos se dividiram
entre os que tinham grande volume de recursos a receber e os credores menores.
O comitê de bancos credores,
por exemplo, foi formado apenas
com as instituições que tinham
mais de US$ 10 milhões de créditos junto à empresa. Por isso, Unibanco, Sumitomo Mitsui, Banco
do Brasil e banco Fibra partiram
para ações individuais, tentando
salvar seus créditos.
Anteontem, por exemplo, o BB
obteve o arresto de bens da fábrica de biscoitos de Jundiaí, por determinação judicial. Segundo Edson Machado Monteiro, vice-presidente do BB, "o banco não tem
agido diferente dos demais":
Quem tem garantias vai lançar
mão delas para se resguardar".
De acordo com Monteiro, o BB
pediu o arresto de bens da fábrica
de Jundiaí que estavam penhorados ao banco.
Texto Anterior: Em concordata, Parmalat ganha fôlego com credores Próximo Texto: Frases Índice
|