São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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Criticado, governo entra no caso e marca reunião para avaliar crise

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal decidiu entrar no caso Parmalat. Hoje, a crise do grupo estará sendo analisada em reunião no Palácio do Planalto, às 14h30. Estão convocados os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Roberto Rodrigues (Agricultura) e representantes dos ministérios da Fazenda e da Justiça, do Banco do Brasil, do Banco Central e da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados.
Ontem, antes mesmo de os pedidos de concordata da empresa chegarem ao Fórum Central de São Paulo, os produtores de leite e representantes dos trabalhadores defendiam uma intervenção federal na empresa. E criticaram a "omissão" do governo no caso.
A Folha apurou que ontem, no final da tarde, o ministro José Dirceu manteve contato com representantes do judiciário paulista, preocupado com a situação da empresa. O Banco Central, que deve participar das discussões de hoje, já rastreou remessas de dinheiro feitas pela Parmalat ao exterior, entre 1998 e 2003.
Fornecedores da Parmalat no Rio de Janeiro e representantes de agricultores em Goiás e Pernambuco criticaram de forma dura a posição do governo no caso. "O governo foi ausente e apático ao tratar desse assunto", disse Rodrigo Alvim, presidente da CNA, comissão nacional de pecuária.
Os sindicalistas, que tinham reunião com o presidente da Parmalat ontem -que acabou cancelada-, também pedem a intervenção do governo no caso. "Não queremos que o governo coloque dinheiro em uma fornalha. Nossa proposta é na mesma linha do que está sendo feito na Itália", disse Siderlei Silva, presidente da Contac (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação), ligada à CUT.

Credores
Fornecedores do Rio querem que o governo ajude a pagar a conta da Parmalat com as cooperativas. Rodolfo Tavares, presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, afirma que encaminhará documento ao Ministério da Agricultura solicitando liberação de linha de crédito no valor de R$ 14 milhões aos produtores que têm recursos a receber do grupo.
Esse valor (R$ 14 milhões) equivale a dívidas ainda não pagas pela companhia referentes a entregas feitas em novembro, dezembro e janeiro.
Com o pedido de concordata da companhia, o fornecimento à empresa deve ser reduzido ainda mais. "Os três fornecedores do grupo no Rio que ainda faziam entregas devem parar de fazê-lo. Estamos fechando acordos com outras companhias para absorver a produção", afirmou Tavares.
As cooperativas não possuem direito de preferência nos recebimentos em caso de concordata. Pela lei brasileira, recebem primeiro funcionários e o governo.
Um dos fatores que pesou na decisão da Parmalat de pedir concordata foi a difícil negociação com os bancos credores. "Os bancos apertaram um pouco demais, principalmente o Banco do Brasil", disse Thomas Felsberg, advogado da Parmalat do Brasil S.A Indústria de Alimentos.
No entanto, as instituições financeiras também reclamam do tratamento recebido da empresa. O diretor de um desses credores disse que desde dezembro tentava negociar com a Parmalat, mas as conversas não andavam. Segundo esse executivo, o diretor da companhia Andrea Ventura recebeu ordem da matriz na Itália para não pagar ninguém.
Segundo Felsberg, "a posição da Parmalat sempre foi de negociar com os credores". Ele diz que nunca soube de nenhuma ordem da matriz para não pagar dívidas contraídas pela filial brasileira.
Desde o início, segundo a Folha apurou, os bancos se dividiram entre os que tinham grande volume de recursos a receber e os credores menores.
O comitê de bancos credores, por exemplo, foi formado apenas com as instituições que tinham mais de US$ 10 milhões de créditos junto à empresa. Por isso, Unibanco, Sumitomo Mitsui, Banco do Brasil e banco Fibra partiram para ações individuais, tentando salvar seus créditos.
Anteontem, por exemplo, o BB obteve o arresto de bens da fábrica de biscoitos de Jundiaí, por determinação judicial. Segundo Edson Machado Monteiro, vice-presidente do BB, "o banco não tem agido diferente dos demais": Quem tem garantias vai lançar mão delas para se resguardar".
De acordo com Monteiro, o BB pediu o arresto de bens da fábrica de Jundiaí que estavam penhorados ao banco.


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