São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2005

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MEGAFUSÃO

Acordo cria a maior companhia de produtos de consumo do mundo; 6.000 funcionários devem ser demitidos

Procter compra Gillette por US$ 57 bilhões

DA REDAÇÃO

A gigante Procter & Gamble, que atua nos seguimentos de higiene pessoal, beleza, saúde e nutrição animal, anunciou ontem a compra da fabricante de baterias e lâminas de barbear Gillette por US$ 57 bilhões (R$ 151 bilhões).
O negócio entre as duas companhias americanas, ainda sujeito a aprovação dos órgãos que regulam a concorrência, criará a maior empresa de produtos de consumo do mundo, mas também deve causar cerca de 6.000" demissões.
As duas empresas, que têm um total de 139,4 mil funcionários em todo o mundo (110 mil da P&G e 29,4 mil da Gillette), estimam reduzir em aproximadamente 4% sua força de trabalho. No Brasil, as duas empresas têm 2.418 funcionários -1.318 da Gillette e 1.100 da P&G-, mas não se manifestaram oficialmente sobre as mudanças que possam decorrer do negócio anunciado ontem.
A P&G, dona de marcas como as fraldas Pampers, o sabão em pó Ariel, o absorvente feminino Tampax e a linha para cabelos Wella, começou a atuar no Brasil em 1988. Em 1995, inaugurou sua primeira fábrica no país, em Louveira (SP). Depois expandiu sua atuação para a área de detergentes em pó, com mais duas fábricas na rodovia Anchieta (SP) e em Salvador (BA).
A Gillette, dona de marcas como o barbeador Mach3, a linha de higiene bucal Oral-B e as pilhas Duracell, opera no Brasil desde março de 1926, quando instalou uma fábrica no Rio de Janeiro para produzir lâminas e aparelhos de barbear. Em setembro de 1975, a empresa instalou-se em Manaus, de onde passou a exportar para outros mercados -atualmente, vende para 19 países.
Em relação ao mercado brasileiro, a Gillette tem 68,1% do segmento de lâminas de barbear, 16,2% do mercado de escovas de dente e 26,3% do segmento de pilhas e baterias alcalinas.

Vendas recordes
A união das gigantes americanas deve gerar ganhos de até US$ 16 bilhões com o aproveitamento de sinergias (ações em conjunto para aumentar eficiência) e vendas de mais de US$ 60 bilhões por ano, superando a principal rival do ramo, a Unilever.
Um dos maiores beneficiários do negócio é Warren E. Buffett, presidente da Berkshire Hathaway e o maior acionista da Gillette, dono de 9,67% da empresa, em ações. Com a concretização da fusão, Buffett passará a ser o maior acionista da nova empresa. Ele disse que pretende aumentar sua participação para 10% do valor da nova companhia.
Após o anúncio da negociação, as ações da Gillette na Bolsa de Nova York subiram 12%, cotadas a US$ 51,20, e as ações da P&G caíram 2,8%, para US$ 53,79.
A transação reflete o quanto o equilíbrio de poder das corporações mundiais pendeu, em anos recentes, para o lado das grandes redes varejistas em detrimento das fabricantes de produtos de consumo.
As duas empresas de consumo pretendem aumentar seu poder de barganha em relação à gigantes varejistas como a Wal-Mart, nos EUA, e a Aldi, na Europa, que atualmente conseguem forçar mesmo os grandes fabricantes a darem descontos nas vendas.
Além disso, tanto a P&G quanto a Gillette têm enfrentado crescente pressão nos lucros de marcas tradicionais à medida que os consumidores preocupam-se mais com os preços do que com a marca.
Segundo analistas, a nova companhia também terá maior poder de negociação com a mídia -televisão, revistas, jornais- graças aos bilhões de dólares que deve investir em propaganda. Em 2004, a P&G gastou US$ 5,5 bilhões em anúncios.

Ameaça à concorrência
A criação da maior empresa de produtos de consumo do mundo deve ser alvo de rigoroso escrutínio por parte dos órgãos responsáveis por garantir a concorrência no mercado.
Em Davos, a chefe da comissão européia antitruste, Natalie Kroes, disse que irá revisar o acordo. É possível que a nova empresa tenha que se desfazer de alguns de seus negócios em que tanto a Procter quanto a Gillette investiam separadamente, como nos segmentos de desodorantes e de higiene oral.
No Brasil, tanto a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) disseram que só irão se manifestar após serem oficialmente informados da aquisição. Segundo a assessoria de imprensa da SDE, normalmente as empresas têm 15 dias após o negócio para notificar os órgãos.
Mas as empresas não parecem estar preocupadas com possíveis acusações de monopólio em alguma área de atuação. "As áreas coincidentes são mínimas", afirmou Clayt Daley, diretor financeiro da P&G. "Existem algumas e por isso iremos trabalhar com as autoridades do governo para resolver essas questões."
Se concretizada, a fusão das duas empresas pode se tornar o maior negócio fechado desde que o JP Morgan Chase comprou o Bank One por US$ 56,8 bilhões em janeiro de 2004, segundo a empresa de pesquisas Dealogic.


Com agências internacionais


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