São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009 |
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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. Consequências econômicas da bufunfa
RECENTEMENTE , escrevi nesta coluna sobre os estragos decorrentes da ação global da turma da bufunfa. Na minha indignação, dei "arrancos triunfais de cachorro atropelado". Na verdade, o mundo inteiro está dando "arrancos triunfais de cachorro atropelado". A crise financeira que eclodiu em meados de 2007 aqui nos Estados Unidos vem tendo efeitos cada vez mais graves nos quatro cantos do planeta. O tsunami dos bufunfeiros atingiu primeiro os sistemas financeiros nos Estados Unidos e na Europa. Numa segunda etapa, desde meados de 2008, a crise começou a afetar mais fortemente a atividade econômica nos países desenvolvidos. Na terceira etapa, a partir de setembro/ outubro, a crise se propagou para a periferia da economia internacional. A região mais atingida é a periferia europeia (Islândia, Hungria, Ucrânia, Letônia, Belarus, Turquia, entre vários outros países), mas todos os continentes estão acusando o golpe nos meses recentes. Ontem, o FMI divulgou suas novas projeções para a economia mundial. O quadro é desastroso. Para todos ou quase todos os países importantes, desenvolvidos e emergentes, as projeções de crescimento para 2009 foram drasticamente reduzidas. Desde as últimas estimativas, divulgadas em novembro, a projeção para o crescimento global caiu de 2,2% para apenas 0,5%. A revisão foi de 1,7 ponto percentual em menos de três meses! Segundo o FMI, a recuperação, provavelmente lenta, só virá em 2010. Haverá recessão em todos os principais países desenvolvidos, sem exceção. Para o conjunto das economias avançadas, a contração esperada chega a 2% em 2009 -a primeira queda anual desde a Segunda Guerra Mundial. As expectativas para as economias emergentes e em desenvolvimento, inclusive o Brasil, também sofreram um baque. No caso desses países, as projeções ainda apontam para crescimento em 2009, mas a taxa de expansão do PIB cairia quase pela metade, segundo o Fundo, passando de 6,3% em 2008 para 3,3% em 2009. Em alguns emergentes importantes, haveria queda do produto (Rússia, México e Coreia do Sul, por exemplo). O Brasil ainda teria algum crescimento econômico em 2009, porém a taxa ficaria em apenas 1,8%, segundo o FMI, número um pouco inferior às projeções feitas por analistas privados no Brasil. Para 2010, o Fundo projeta crescimento de 3,5% para a economia brasileira. Note-se que essas projeções do FMI embutem a hipótese de que os governos dos principais países adotarão políticas fortemente expansivas, particularmente no campo fiscal. O Fundo calcula, por exemplo, que o déficit público nas economias avançadas alcance nada menos que 7% em 2009! Isso refletiria medidas de aumento de gastos, cortes de impostos, o efeito da recessão sobre as contas governamentais e, por último mas não menos significativo, os imensos pacotes montados para resgatar a turma da bufunfa. O resultado será um enorme aumento da dívida pública dos países desenvolvidos. E o pior é que nem isso evitará a recessão ou garantirá uma recuperação em 2010 e nos anos seguintes. Os países desenvolvidos e o resto do mundo irão pagar preço muito elevado pela desenfreada especulação financeira dos últimos anos. Como diria Nelson Rodrigues, os bufunfeiros serão caçados a pauladas, feito ratazanas prenhes. PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 53, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago). pnbjr@attglobal.net Texto Anterior: Medida brasileira causa desconforto no Mercosul Próximo Texto: Indústria de SP tem retração recorde Índice |
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