São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

As boas notícias do emprego


No ano em que o ritmo do PIB foi de 6% a zero, crescem a renda, o trabalho formal e o número de empregados


NO FIM das contas, a economia brasileira padeceu uma recessão brutal em 2009: passou de um crescimento anual da casa de 6%, no final de 2008, para cerca de zero, no final do ano passado.
No "meio das contas", porém, foi uma estranha recessão essa a de 2009.
O desemprego de alguns meios de produção, a ociosidade das fábricas, por exemplo, cresceu e, a depender da medida e do setor, recuou para níveis de 2007, em parte devido ao aumento da capacidade produtiva decorrente da conclusão de investimentos programados nos bons anos de 2007 e 2008.
No caso da oferta de trabalho e da qualidade dos empregos, ocorreram na verdade melhorias. Mais lentas que nos anos de crescimento a 5%, 6%, decerto, mas ainda assim notáveis num ano em que o produto global, o PIB, não cresceu nada.
Continuou a aumentar a proporção de trabalhadores "formais", somado o número dos celetistas, empregadores e funcionários públicos, segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE, referentes a seis regiões metropolitanas. Eram 61,6% em dezembro (medida pela média dos últimos 12 meses encerrados naquele mês), 0,8 percentual acima de dezembro de 2009.
De 2008 para 2009, o crescimento havia sido de 1,6 ponto percentual, mas o resultado do ano ameaçador de 2009 foi idêntico ao do bom ano de 2007. A proporção dos trabalhadores ocupados contribuintes de instituto de previdência superou a de 2009, chegando a 66,8% na média do ano. Trata-se de um indicador tanto de formalização do trabalho como de melhoria da renda.
A população ocupada cresceu 1,4% em 2009, quase a mesma taxa de 2007 (1,5%), embora inferior à de 2008 (2,3%). Na média do ano passado, o rendimento real médio cresceu 3,2%, ante 3,4% em 2008. O número relativo das pessoas que haviam perdido o emprego nos 365 dias anteriores à pesquisa subiu, de novo, sobre 2008, mas, de novo, foi semelhante ao de 2007 (trata-se de uma medida de rotatividade no emprego, é claro). A massa salarial (total de salários) cresceu, embora à metade do ritmo do ano passado.
Note-se que as melhorias no mercado de trabalho ocorrem depois de um período já bem longo de aumentos reais do salário mínimo (quase 15 anos). Economistas padrão argumentam que o tabelamento do salário mínimo prejudica a formalização da mão de obra, por exemplo, e/ou mesmo limita o crescimento do emprego.
Obviamente tal coisa não ocorreu. Pode-se argumentar que a formalização teria sido maior em regime de salários básicos ainda mais baixos, mas os adeptos da teoria terão de fazer malabarismos contrafactuais complicados para sustentar a tese. Mais provável é que o mínimo tenha é fornecido mais molas para o colchão amortecedor de crises (ao lado dos benefícios do INSS).
O aspecto menos positivo desse cenário é que em breve a economia estará rodando a plena carga, com desemprego baixo, gasto público elevado e, agora, com real mais desvalorizado, sem que a inflação e/ou a taxa básica de juros tenha descido a níveis de crise. Ou seja, estamos voltando à situação de meados de 2008, mas com mais gasto público contratado e deficit externo muito maior. Assim como os juros que virão.

vinit@uol.com.br


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