São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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Brasil apoia pacote Obama de regulação

Celso Amorim afirma que plano de controlar riscos de bancos "vai na direção correta" e não é populista

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O chanceler brasileiro Celso Amorim saiu ontem em defesa do pacote do presidente Barack Obama de regulação do sistema financeiro, que está sob fogo cerrado da banca e de setores empresariais, por ser considerado "populista".
"Não me parece nada populista. Vai na direção correta da regulação", disse Amorim, enquanto esperava a chegada do chanceler iraniano Manoucher Mottaki para um encontro bilateral. A reação de Amorim combina com o cenário que ficou evidente em Davos, nas discussões do encontro anual do Fórum Econômico Mundial: líderes políticos alinham-se com Obama, enquanto os dirigentes empresariais vão ao ataque.
Mesmo um executivo ponderado como Caio Koch-Weser, vice-presidente do grupo Deutsche Bank, que acha "correta" a filosofia do pacote, critica "os detalhes" e diz que "não vão funcionar".
Não vai funcionar, acha Koch-Weser, a separação prevista no plano Obama entre bancos comerciais e bancos de investimento, pela simples razão de que, em muitas operações, as funções se confundem.
Mas a principal crítica ao pacote do presidente norte-americano é virtualmente consensual: "O erro foi fazer as coisas à margem do G20", diz o executivo germano-brasileiro (nasceu no Paraná e continua falando português com pouco sotaque e muita fluência).
Nesse ponto, mesmo os defensores do plano acham que ou se faz uma regulação global ou não vai dar certo. O argumento é o mesmo que se utiliza no Brasil para criticar a "guerra fiscal" ou, globalmente, para atacar paraísos fiscais.
Se a regulação rígida ficar restrita aos EUA, a banca vai operar a partir de países em que os controles sejam menos rígidos. Ou seja, os excessos continuarão a ser praticados, com efeitos globais.
Até Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, defensor da regulação, diz: "Se a economia é globalizada, a regulação tem que ser globalizada".
Faz sentido, mas as tentativas de propor regulação/supervisão global, no âmbito do G20 nunca prosperaram, por oposição dos EUA. É verdade que as primeiras tentativas surgiram durante a reunião ministerial de São Paulo, em 2008, quando o presidente ainda era George W. Bush, cujo DNA é avesso a intervenção oficial.
Mas depois da posse de Obama tampouco houve progressos na discussão.


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