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Empresários e trabalhadores, cúmplices no assalto
ALOYSIO BIONDI
O assalto contra o patrimônio
coletivo -isto é, pertencente à
sociedade, classe média, povão,
empresários- atinge proporções inacreditáveis, encoberto
pelo pomposo título de "privatização".
Todos os dias surgem exemplos de "negócios da China",
doações a grandes grupos empresariais e multinacionais
-sem qualquer reação dos empresários/contribuintes, trabalhadores/contribuintes, classe
média/contribuinte que, por
sua passividade, transformam-se em cúmplices do grande assalto.
Banco do Brasil - Vai privatizar, vender o controle de uma
subsidiária, a BB Distribuidora
de Títulos e Valores Mobiliários. Por quê? Não pode enfrentar a concorrência dos bancos
multinacionais que estão entrando no mercado? É ineficiente? Tem baixa lucratividade? Precisa de um "sócio" para
absorver tecnologia? Não. Nenhum desses "argumentos",
usados pelo governo FHC e
de-formadores de opinião para
justificar "privatizações" marotas, existe.
Segundo o diretor de Finanças
e Relações com o Mercado do
BB, Carlos Gilberto Caetano, a
distribuidora do BB é -atenção- a líder na administração
de recursos de investidores no
país. Tem uma carteira de R$
20,6 bilhões, ou nada menos de
15% de todo (t-o-d-o) o mercado brasileiro. A rentabilidade
média das instituições financeiras equivalentes é de 13% a 17%
ao ano.
"No caso da BB DTVM, a rentabilidade é superior a 20% ao
ano", confessa candidamente o
auxiliar do senhor presidente
do BB e da equipe Malan & Cia.
("Gazeta Mercantil", 13/01/98).
Por que vender a galinha dos
ovos de ouro? "Porque nós somos senhores absolutos deste
país de bovinos", responde a
equipe FHC.
Até tu, Covas
Sob o tacão das botas da
equipe FHC/BNDES, o governo
paulista, de Mário Covas, vai
privatizar seu setor de energia
elétrica. Desde o começo, a privatização do setor energético
no Brasil se baseia em uma
imensa mentira do Planalto e
de-formadores de opinião, segundo os quais essa seria uma
"tendência mundial".
É mentira. Nos países desenvolvidos, EUA inclusive, o governo não está vendendo suas
empresas e usinas (exceção: Inglaterra, na fase Tatcher). A
privatização, lá fora, não significou a venda ou doação do patrimônio coletivo, mas sim,
tão-somente, a autorização para grupos empresariais privados começarem a operar na
área, construindo novas usinas
e sistemas de distribuição.
Em São Paulo, está sendo preparada neste momento a venda
da megaempresa geradora, a
Cesp. Existe um "mico" nessa
empresa, a saber, a usina inacabada de Porto Primavera,
iniciada há quase 20 anos e
que, por motivos que não cabe
historiar aqui, "emperrou".
Com isso, o custo de Porto
Primavera atingiu níveis astronômicos, por força do cálculo
dos juros sobre os empréstimos
tomados para sua construção, e
que continuaram a crescer porque a usina, inacabada, não
produziu as receitas previstas.
Qual a solução que o governo
Covas planeja para esse "mico"?
Segundo o secretário do Planejamento paulista, André
Franco Montoro Filho, o governo Covas vai considerar como
prejuízo as cifras aplicadas na
construção da usina: nada menos de R$ 9 bilhões... ("Gazeta
Mercantil", 27/01/98).
Qual a alternativa? Se a usina
de Porto Primavera fosse vendida dentro de um "bloco de usinas", seu alto custo poderia ser
compensado, diluído, pelo baixo custo das outras usinas já
em funcionamento. Por exemplo: em Porto Primavera, chega-se a um custo de geração de
R$ 160 por megawatt/hora; o
custo de geração de Ilha Solteira... é inferior a R$ 10 por megawatt/hora! Em resumo: o governo Covas planeja vender as
usinas lucrativas e assumir o
prejuízo da usina problema, em
lugar de procurar um preço médio para a venda.
Que país é este, que líderes
empresariais e sindicais são esses, que cruzam os braços diante do anúncio de uma sangria
de R$ 9 bilhões para os cofres
públicos, para o patrimônio coletivo?
Se a sociedade deseja mesmo
a privatização, que ela seja implantada como em outros países, com pulverização de ações.
Ou, no caso brasileiro, com o
"ressuscitamento" da proposta
de utilização das ações para
pagar dívidas do governo para
com o FGTS, PIS e Pasep.
Em tempo: a Petrobrás descobriu novo campo gigantesco na
Bacia de Campos. Poços com
produção prevista de estonteantes 10 mil barris/dia, como
no Oriente Médio. Por que o
BNDES vai leiloar ações da estatal agora, vendê-las para
grandes grupos?
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha. É diretor-geral do grupo Visão. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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