São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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Efeito estatístico garante expansão se produção no mínimo repetir a verificada no último trimestre de 2003

País crescerá 0,93% "por inércia" em 2004

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do recuo de 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto), 2003 deixou de herança para este ano um crescimento de 0,93%. Milagre? Não. Efeito estatístico. Esse é o percentual que a economia poderá se expandir em 2004, por pura inércia, ainda que a produção de bens e serviços a cada trimestre se mantenha estagnada no mesmo patamar registrado nos últimos três meses de 2003.
Esse número (chamado por economistas de "carry over") pôde ser calculado na última sexta-feira, depois da divulgação do PIB pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Frustrou as expectativas de analistas e, segundo a Folha apurou, do Banco Central, que contava com uma herança positiva de cerca de 2% para 2004. Essa era uma das razões pelas quais o governo alardeava que uma expansão de 3,5% neste ano já era garantida.
Segundo analistas, essa hipótese não está descartada, mas muitos já revisam para baixo suas estimativas de expansão neste ano.
De toda forma, o crescimento "real" da produção em 2004 será menor que o resultado oficial, ao ser descontado o "carry over" de 0,93%.
"Na prática, isso significa que o crescimento pode ser bom, mas ainda será baixo para atender as necessidades do país. A renda per capita, por exemplo, deverá se expandir aproximadamente 2%", diz Rogério Sobreiro, professor da Ebape, da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

O cálculo
Heranças estatísticas -positivas ou negativas- passadas de um ano a outro são normais. Acontecem porque o resultado do PIB reflete a média do desempenho da economia em um ano em comparação à do ano anterior.
Em 2003, o país amargou retração nos dois primeiros trimestres, recuperou-se no segundo e se expandiu mais fortemente nos últimos três meses. Isso fez a média de crescimento do ano ser baixa, embora o resultado do último trimestre tenha sido bom.
Para calcular o "carry over", economistas supõem que, em 2004, a produção de bens e serviços não se expanda, mas se limite a repetir, a cada trimestre, o volume atingido entre outubro e dezembro do ano passado.
Se isso ocorrer, a média de crescimento dos quatro trimestres deste ano será maior que o desempenho médio dos quatro trimestres de 2003.
Na prática, a economia terá ficado estagnada. Mas, por causa de um efeito estatístico, contabilizará expansão de 0,93%.
"Nós calculamos o "carry over" para termos uma idéia do que pode vir a ser o crescimento médio de um ano", afirma Rodrigo Azevedo, economista-chefe do CSFB Garantia.

Expectativas
Com a herança positiva de 2003, o PIB só crescerá menos que 0,93% se a produção cair ao longo do ano, hipótese considerada remota pela maioria dos analistas.
"A não ser que ocorra uma crise imprevista, a economia ainda poderá crescer perto de 3,5% em 2004", afirma Paulo Levy, diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Pelas contas de Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management, com a herança estatística de uma expansão um pouco inferior a 1%, a economia brasileira terá de crescer, em média, 0,7% por trimestre em 2004 para que seja atingida a projeção de 3,5%.
Para que a expansão chegue a 4%, o crescimento trimestral terá de ser de 0,9%.
"Acho que a projeção oficial de uma expansão de 3,5% do PIB continua sendo factível. Mas, para isso, a economia terá de continuar ganhando ímpeto a cada trimestre em relação ao anterior", afirma Maia.

Perspectiva menor
Na última sexta-feira, no entanto, alguns economistas, como Azevedo do CSFB, começaram a revisar para baixo suas expectativas de crescimento em 2004 ou a considerar essa hipótese.
Segundo cálculos do BankBoston, o nível de expansão dos investimentos vem caindo nos últimos três meses.
"Se esse quadro não mudar, vamos rever para baixo nossa projeção preliminar de crescimento de 3,9% para este ano", diz Marcelo Cypriano, economista do banco.
Andrei Spacov, economista do Unibanco, afirmou que ainda não mudou sua projeção de crescimento de 3,5% neste ano. Mas, de acordo com ele, se o desempenho da indústria não melhorar em relação a dezembro e aos primeiros indicadores de janeiro, ele reverá sua estimativa de PIB para baixo.



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