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Efeito estatístico garante expansão se produção no mínimo repetir a verificada no último trimestre de 2003
País crescerá 0,93% "por inércia" em 2004
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar do recuo de 0,2% do PIB
(Produto Interno Bruto), 2003
deixou de herança para este ano
um crescimento de 0,93%. Milagre? Não. Efeito estatístico. Esse é
o percentual que a economia poderá se expandir em 2004, por pura inércia, ainda que a produção
de bens e serviços a cada trimestre
se mantenha estagnada no mesmo patamar registrado nos últimos três meses de 2003.
Esse número (chamado por
economistas de "carry over") pôde ser calculado na última sexta-feira, depois da divulgação do PIB
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Frustrou as expectativas de analistas e, segundo a Folha apurou,
do Banco Central, que contava
com uma herança positiva de cerca de 2% para 2004. Essa era uma
das razões pelas quais o governo
alardeava que uma expansão de
3,5% neste ano já era garantida.
Segundo analistas, essa hipótese
não está descartada, mas muitos
já revisam para baixo suas estimativas de expansão neste ano.
De toda forma, o crescimento
"real" da produção em 2004 será
menor que o resultado oficial, ao
ser descontado o "carry over" de
0,93%.
"Na prática, isso significa que o
crescimento pode ser bom, mas
ainda será baixo para atender as
necessidades do país. A renda per
capita, por exemplo, deverá se expandir aproximadamente 2%",
diz Rogério Sobreiro, professor
da Ebape, da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O cálculo
Heranças estatísticas -positivas ou negativas- passadas de
um ano a outro são normais.
Acontecem porque o resultado do
PIB reflete a média do desempenho da economia em um ano em
comparação à do ano anterior.
Em 2003, o país amargou retração nos dois primeiros trimestres,
recuperou-se no segundo e se expandiu mais fortemente nos últimos três meses. Isso fez a média
de crescimento do ano ser baixa,
embora o resultado do último trimestre tenha sido bom.
Para calcular o "carry over",
economistas supõem que, em
2004, a produção de bens e serviços não se expanda, mas se limite
a repetir, a cada trimestre, o volume atingido entre outubro e dezembro do ano passado.
Se isso ocorrer, a média de crescimento dos quatro trimestres
deste ano será maior que o desempenho médio dos quatro trimestres de 2003.
Na prática, a economia terá ficado estagnada. Mas, por causa de
um efeito estatístico, contabilizará expansão de 0,93%.
"Nós calculamos o "carry over"
para termos uma idéia do que pode vir a ser o crescimento médio
de um ano", afirma Rodrigo Azevedo, economista-chefe do CSFB
Garantia.
Expectativas
Com a herança positiva de 2003,
o PIB só crescerá menos que
0,93% se a produção cair ao longo
do ano, hipótese considerada remota pela maioria dos analistas.
"A não ser que ocorra uma crise
imprevista, a economia ainda poderá crescer perto de 3,5% em
2004", afirma Paulo Levy, diretor
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada).
Pelas contas de Alexandre Maia,
economista-chefe da Gap Asset
Management, com a herança estatística de uma expansão um
pouco inferior a 1%, a economia
brasileira terá de crescer, em média, 0,7% por trimestre em 2004
para que seja atingida a projeção
de 3,5%.
Para que a expansão chegue a
4%, o crescimento trimestral terá
de ser de 0,9%.
"Acho que a projeção oficial de
uma expansão de 3,5% do PIB
continua sendo factível. Mas, para
isso, a economia terá de continuar
ganhando ímpeto a cada trimestre em relação ao anterior", afirma Maia.
Perspectiva menor
Na última sexta-feira, no entanto, alguns economistas, como
Azevedo do CSFB, começaram a
revisar para baixo suas expectativas de crescimento em 2004 ou a
considerar essa hipótese.
Segundo cálculos do BankBoston, o nível de expansão dos investimentos vem caindo nos últimos três meses.
"Se esse quadro não mudar, vamos rever para baixo nossa projeção preliminar de crescimento de
3,9% para este ano", diz Marcelo
Cypriano, economista do banco.
Andrei Spacov, economista do
Unibanco, afirmou que ainda não
mudou sua projeção de crescimento de 3,5% neste ano. Mas, de
acordo com ele, se o desempenho
da indústria não melhorar em relação a dezembro e aos primeiros
indicadores de janeiro, ele reverá
sua estimativa de PIB para baixo.
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