São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Banco Central registra prejuízo de R$ 47,5 bilhões

Por causa do câmbio, perdas no ano passado foram 255% maiores que as de 2006

Queda do dólar afeta saldo das reservas internacionais e resultado de operações do banco no mercado; prejuízo é coberto pelo Tesouro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A queda do dólar provocou um prejuízo de R$ 47,5 bilhões ao Banco Central, graças à política de acumulação de reservas em moeda estrangeira adotada pela instituição desde 2004. As perdas do ano passado foram 255% maiores do que aquelas apuradas em 2006.
A cotação do dólar recuou 17,2% ao longo do ano passado, e esse movimento teve impacto negativo de R$ 55,6 bilhões sobre as contas do BC. Esse prejuízo pode ser dividido em duas partes: as compras de dólares feitas no mercado de câmbio e as operações com o chamado "swap" cambial reverso.
As compras de dólares têm sido feitas nos últimos anos com dois objetivos. O primeiro deles é reforçar as reservas internacionais do país, que, no final de 2002, estavam em cerca de US$ 16 bilhões -o menor valor já registrado no Brasil. Graças às intervenções feitas pelo BC, no fim do ano passado esse valor já havia subido para US$ 180 bilhões.
Por ter acumulado um saldo bilionário de dólares, o BC tem perdas igualmente bilionárias sempre que a cotação da moeda dos EUA cai. Foi o que aconteceu no ano passado.
Além disso, as aquisições de divisas no mercado ajudavam a conter a queda do dólar. Entre janeiro e dezembro do ano passado, a cotação da moeda passou de R$ 2,138 para R$ 1,771. Embora não tenha sido capaz de impedir a valorização do real, essa tendência teria sido ainda mais forte se não fosse a ação do BC, pois, quanto maior a procura pela moeda dos Estados Unidos, mais alta tende a ser sua cotação.
Também para tentar segurar a queda do dólar, são feitas operações com o "swap" cambial reverso. Esse é o nome dado a um contrato negociado no mercado financeiro em que um grupo de bancos se compromete a pagar ao BC toda a variação da taxa de câmbio que se acumular em determinado período. Em compensação, BC paga aos bancos uma determinada taxa de juros, que é fixada com base na taxa Selic.
Graças a esse mecanismo, o BC tem ganhos sempre que a cotação do dólar sobe. Como não é isso o que tem acontecido nos últimos anos, a instituição tem acumulado seguidos prejuízos. As perdas de R$ 55,6 bilhões causadas pelo câmbio no ano passado se somam ao resultado negativo de R$ 15,5 bilhões que já havia sido apurado em 2006.

Reservas
O diretor de Administração do BC, Antero Meirelles, diz que o prejuízo causado pela política cambial do BC também tem vantagens. Segundo ele, a acumulação de um elevado saldo de reservas internacionais ajuda a aumentar a confiança de investidores estrangeiros na economia brasileira, reduzindo, por exemplo, o custo que governo e empresas têm para tomar empréstimos no exterior. "Nós só saberíamos o custo de não ter essas reservas se não tivéssemos essas reservas num momento como o atual", diz Antero Meirelles, se referindo às recentes turbulências enfrentadas pelos mercados internacionais.
Todos os prejuízos sofridos pelo BC são cobertos pelo Tesouro Nacional, por meio da emissão de títulos públicos. As perdas do primeiro semestre do ano passado, que foram de R$ 30,3 bilhões, já foram financiados pelo Tesouro. Pela lei, o resultado do segundo semestre precisa ser coberto até janeiro de 2009.


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