São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Governo vai abrir capital da Infraero, afirma BNDES

Empresa passará por reestruturação; Nelson Jobim (Defesa) descarta privatização

Intenção é revirar os dados financeiros, contábeis, trabalhistas e de gestão; Coutinho admite que imagem da estatal não é atrativa

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

ÂNGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, disse que recebeu "orientação expressa e inequívoca" do governo para promover uma forte reestruturação da Infraero (estatal responsável pelos aeroportos), com o objetivo de preparar a abertura de capital da empresa, mas sem chegar a privatizá-la.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, a quem a Infraero é subordinada, descartou enfaticamente a privatização: "Os investimentos nessa área são todos estratégicos, e isso não é compatível com a administração privada", disse, depois de participar de um encontro com superintendentes da empresa.
Segundo Coutinho, a orientação para a reestruturação e para a abertura de capital partiu originalmente de Jobim, mas foi discutida ontem com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que ficou das 9h30 até perto das 16h na sede do banco, no Rio, com uma extensa pauta de investimentos em diferentes áreas.
Evasivo ao falar sobre o atual presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, Coutinho disse que a reestruturação começará com ampla e detalhada análise dos seus dados: "Não vamos fazer esse trabalho daqui, por controle remoto. Vamos fazer em coordenação com a alta direção da empresa, qualquer que seja. Partimos do pressuposto de que a direção da empresa esteja profundamente comprometida com a reestruturação".
A intenção é revirar os dados financeiros, contábeis, trabalhistas e de gestão, analisando até providências no campo jurídico com vistas à posterior abertura do capital, "mas mantendo o controle estatal" -como frisou Coutinho várias vezes ao longo da conversa com a Folha, por telefone.
"Antes de abrir o capital, é preciso que o mercado compreenda o potencial da empresa, o que não se faz em curtíssimo prazo", disse, sem se comprometer com datas.
Coutinho admitiu que, atualmente, a imagem da empresa não é atrativa. "Há muito pessimismo no mercado, a percepção é ruim, a imagem é péssima. São necessários fortes ajustes", disse, sem comentar a possibilidade de demissões. São cerca de 10.400 funcionários.
As manifestações de Coutinho e de Jobim foram feitas em razão de reportagem de ontem do jornal "Valor", segundo a qual o governo mudara os planos e, em vez de só abrir o capital, havia decidido privatizar a Infraero. A notícia causou corre-corre do governo. Conforme a Folha apurou, há visões divergentes no governo. De um lado, Jobim e Gaudenzi a favor de só abrir o capital. De outro, Dilma defendendo estudos para chegar até a privatização.
Gaudenzi, porém, disse à Folha que não acredita que Dilma queira privatizar a empresa: "Ela não seguiu esse caminho no setor elétrico [quando foi ministra de Minas e Energia]. Então, só pode estar na linha da abertura de capital", opinou.
Um dos problemas para a venda de ações da Infraero em Bolsa é que a empresa administra 67 aeroportos, mas não é dona deles. Os aeroportos são propriedade da União. Só dez são rentáveis, especialmente Congonhas e Guarulhos (SP).
Segundo Gaudenzi, "o ideal é que a Infraero passe a ser proprietária dos aeroportos, para ter patrimônio e se tornar atrativa para o mercado".
Outra possibilidade é abrir o capital da Infraero e privatizar ou ceder em regime de concessão alguns dos aeroportos hoje sob seu controle. Ele, porém, acha que uma abertura à iniciativa privada, qualquer que seja, não poderá acontecer antes de dois anos. É o prazo mínimo para a reestruturação, opina.


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