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Governo vai abrir capital da Infraero, afirma BNDES
Empresa passará por reestruturação; Nelson Jobim (Defesa) descarta privatização
Intenção é revirar os dados financeiros, contábeis, trabalhistas e de gestão;
Coutinho admite que imagem da estatal não é atrativa
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
ÂNGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
Luciano Coutinho, disse que
recebeu "orientação expressa e
inequívoca" do governo para
promover uma forte reestruturação da Infraero (estatal responsável pelos aeroportos),
com o objetivo de preparar a
abertura de capital da empresa,
mas sem chegar a privatizá-la.
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, a quem a Infraero é subordinada, descartou enfaticamente a privatização: "Os investimentos nessa área são todos estratégicos, e isso não é
compatível com a administração privada", disse, depois de
participar de um encontro com
superintendentes da empresa.
Segundo Coutinho, a orientação para a reestruturação e
para a abertura de capital partiu originalmente de Jobim,
mas foi discutida ontem com a
ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff, que ficou das 9h30
até perto das 16h na sede do
banco, no Rio, com uma extensa pauta de investimentos em
diferentes áreas.
Evasivo ao falar sobre o atual
presidente da Infraero, Sérgio
Gaudenzi, Coutinho disse que a
reestruturação começará com
ampla e detalhada análise dos
seus dados: "Não vamos fazer
esse trabalho daqui, por controle remoto. Vamos fazer em
coordenação com a alta direção
da empresa, qualquer que seja.
Partimos do pressuposto de
que a direção da empresa esteja
profundamente comprometida
com a reestruturação".
A intenção é revirar os dados
financeiros, contábeis, trabalhistas e de gestão, analisando
até providências no campo jurídico com vistas à posterior
abertura do capital, "mas mantendo o controle estatal" -como frisou Coutinho várias vezes ao longo da conversa com a
Folha, por telefone.
"Antes de abrir o capital, é
preciso que o mercado compreenda o potencial da empresa, o que não se faz em curtíssimo prazo", disse, sem se comprometer com datas.
Coutinho admitiu que, atualmente, a imagem da empresa
não é atrativa. "Há muito pessimismo no mercado, a percepção é ruim, a imagem é péssima. São necessários fortes ajustes", disse, sem comentar a possibilidade de demissões. São
cerca de 10.400 funcionários.
As manifestações de Coutinho e de Jobim foram feitas em
razão de reportagem de ontem
do jornal "Valor", segundo a
qual o governo mudara os planos e, em vez de só abrir o capital, havia decidido privatizar a
Infraero. A notícia causou corre-corre do governo. Conforme
a Folha apurou, há visões divergentes no governo. De um
lado, Jobim e Gaudenzi a favor
de só abrir o capital. De outro,
Dilma defendendo estudos para chegar até a privatização.
Gaudenzi, porém, disse à Folha que não acredita que Dilma
queira privatizar a empresa:
"Ela não seguiu esse caminho
no setor elétrico [quando foi
ministra de Minas e Energia].
Então, só pode estar na linha da
abertura de capital", opinou.
Um dos problemas para a
venda de ações da Infraero em
Bolsa é que a empresa administra 67 aeroportos, mas não é
dona deles. Os aeroportos são
propriedade da União. Só dez
são rentáveis, especialmente
Congonhas e Guarulhos (SP).
Segundo Gaudenzi, "o ideal é
que a Infraero passe a ser proprietária dos aeroportos, para
ter patrimônio e se tornar atrativa para o mercado".
Outra possibilidade é abrir o
capital da Infraero e privatizar
ou ceder em regime de concessão alguns dos aeroportos hoje
sob seu controle. Ele, porém,
acha que uma abertura à iniciativa privada, qualquer que seja,
não poderá acontecer antes de
dois anos. É o prazo mínimo
para a reestruturação, opina.
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