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VINICIUS TORRES FREIRE
Indústria, o patão feio do PIB "novo"
Em relação ao PIB, indústria de transformação se arrasta no ritmo de anos em que país viveu tumultos econômicos
NUM DIA DE PIB e IBGE, a sigla
mais surpreendente acabou
sendo BC, de Banco Central,
que divulgou ontem o seu relatório
trimestral de inflação em um tom
mais otimista tanto no que diz respeito a preços como a crescimento.
É claro que os banqueiros centrais
do Brasil, como de quase qualquer
outra parte, deitaram água no vinho,
ou no chope, para tornar a metáfora
mais local. Avisaram de novo que
vão continuar a reduzir a meta da
Selic devagarinho, pois o país não
tem juros tão baixos faz décadas, o
que é fato, e teme-se (o BC teme, ao
menos) que a economia desembeste
de modo perigoso etc. Mas a tendência dos preços administrados e a das
expectativas de inflação é de queda.
Mas o BC elevou sua estimativa de
crescimento de 3,8% para 4,1%, na
métrica do PIB "velho". Ainda é
muito difícil estimar quanto isso pode significar na régua do PIB "novo",
apurado a partir das informações
adicionais e segundo o novo método
do IBGE. Mas contas preliminares
precárias (não temos nem o PIB do
início deste ano) indicam que já não
é desarrazoado pensar em crescimento de 4,5% este ano.
Dadas as novas estimativas de inflação, taxa de juros e o tal chute razoável para o crescimento, a dívida
pública deve cair para entre 42% e
43% do PIB no final do ano.
Não é motivo para o governo gastar mais, mesmo porque a revisão
das contas nacionais indica que a
despesa da administração pública
(fora transferências) está crescendo
na mesma velocidade da economia.
Além do mais, o fato de a carga tributária parecer agora contabilmente
menor em nada afeta seu efeito real
e negativo sobre empresas, emprego, consumo dos mais pobres e nível
de formalização da economia.
Indústria
A indústria de transformação, nome que as estatísticas dão para
aquilo que mais comumente se conhece como fábrica de bens de consumo, é o grande pato feio da revisão do PIB. Cresceu ainda menos
do que se imaginava, ultrapassada
ainda mais de longe pela indústria
extrativa mineral.
Não é incomum haver discrepância entre os ritmos de atividade das
indústrias de transformação e extrativa. Mas, desde o primeiro trimestre de 2005, tem havido também diferença de tendência (a extrativa crescia muito, a de transformação caía, algo inusual em duas
décadas). Embora o alerta seja relevante, o diagnóstico de desindustrialização é precário, dado o período curto de dados disponíveis para
análise. O problema, decerto, é que,
se confirmado o prognóstico mais
pessimista, vai ser tarde para agir.
Por fim, o ritmo do investimento
produtivo (vide gráfico) apareceu
ainda melhor na foto. Mas ainda é
baixo e acelera praticamente no
mesmo padrão das recuperações
econômicas que não foram abortadas por fobia de inflação.
vinit@uol.com.br
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