São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2007

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Novo cálculo eleva PIB de 2006 a 3,7%

Média anual do primeiro governo Lula ficou em 3,4%, acima da registrada no segundo mandato de FHC, de 2,2%

Com metodologia nova adotada pelo IBGE, gastos maiores do governo em ano eleitoral ganham peso e puxam o crescimento


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Mais uma vez, a revisão dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) trouxe uma boa notícia ao governo: a economia cresceu 3,7% em 2006 na nova série do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em vez dos 2,9% divulgados em fevereiro com a metodologia antiga.
Na média anual do governo Lula (2003-2006), o crescimento ficou em 3,4%, mais do que os 2,7% antes da revisão metodológica.
No caso dos governos FHC, entretanto, pouco mudou com a revisão. No segundo mandato do tucano, a taxa foi de 2,1% para 2,2%. No primeiro governo do PSDB (1995/98), o IBGE não tem dados comparáveis para 1995. Na média dos anos de 1996 a 1998, a taxa variou de 2% na série original para 1,9% na revisada.
Para o IBGE, três setores determinaram o crescimento mais forte do PIB nos dados recalculados para 2006: o maior dinamismo da administração pública depois que passou a ser medida por meio do pessoal ocupado (e não mais só por crescimento vegetativo), a incorporação da qualidade dos imóveis na conta dos aluguéis e a criação de um novo modelo para o sistema financeiro (que antes acompanhava a expansão média da economia).
Do lado da produção, serviços e agropecuária foram os destaques positivos, com altas de 3,7% e 4,1% em 2006, respectivamente. Já o câmbio prejudicou a indústria, que cresceu 2,8% no ano passado, menos do que os 3% da série antiga.
O dólar mais barato fez o setor externo reduzir o crescimento do PIB em 2006, já que o saldo entre exportações (alta de 4,6%) e importações (incremento de 18,1%) contribuiu negativamente para a economia.
Segundo o IBGE, a variação do PIB per capita passou de 1,5% na série antiga para 2,3% na nova. Em valor, a produção de bens e serviços da economia somou R$ 2,323 trilhões.
Diante dos novos dados, economistas refizeram as contas e estimam que o PIB de 2007 crescerá mais: de 4% a 4,5%, ante uma previsão inicial de 3,5% dominante no mercado. No PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o governo prevê expansão de 4,5%.
O economista Francisco Pessôa, da LCA, diz que no novo cálculo cresceu o chamado "carry over" (efeito estatístico de "carregamento" de um crescimento anterior), o que o fez estimar uma expansão da ordem de 4,5% neste ano.
Desde 2002, os novos dados mostram sempre taxas maiores do PIB. Tal cenário, diz ele, sugere que "o governo não precisa se satisfazer mais com um crescimento de 5%". "O passado não mudou. O que a gente gostaria que a economia tivesse gerado e não gerou ficou para trás. Agora, os 5% talvez não sejam mais suficientes para o país alcançar as taxas que deseja."
Economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Estêvão Kopschitz disse que, a julgar pela tendência de aumento do PIB nos últimos anos, a economia brasileira deve crescer mais neste ano do que o inicialmente previsto.
A consultoria Tendências prevê um avanço próximo a 4% -previa antes 3,5%.

Setor público
Mais pesado no novo cálculo do PIB, o setor público fez toda a diferença em 2006 por se tratar de um ano eleitoral, no qual cresceram os gastos do governo.
Para Rebeca Palis, gerente das Contas Trimestrais do IBGE, as eleições aumentaram as despesas do governo inclusive com pessoal, o que impulsionou o PIB de 2006 especialmente porque o setor ganhou participação na nova série.
"A nova metodologia "pegou" melhor o ciclo eleitoral, quando o gasto público aumenta", disse Leonardo Miceli, economista da Tendências.
O PIB da administração pública subiu 3,1% em 2006, mais do que o 1% de 2005, segundo o IBGE. Também ganharam peso na nova estrutura do PIB aluguéis e serviços financeiros, cujas variações passaram de 4,1% e 4,3% para 6,5% e 6,1%, respectivamente.
"O aumento se explica basicamente em cima dos indicadores [recalculados], que pelo lado da produção têm como destaque aluguéis e administração pública", disse Roberto Olinto, coordenador das Contas Nacionais do IBGE.


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