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Pacote habitacional do governo favorece Estados aliados a Lula
63% das casas devem ser construídas onde há governadores alinhados ao Planalto
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Antes mesmo de sair do papel, o novo pacote habitacional
do governo já desponta como
importante arma política na
corrida eleitoral do ano que
vem, quando serão escolhidos
os sucessores do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e dos
governadores atuais, além dos
novos deputados e senadores.
Do total de 1 milhão de casas
prometidas, 63% deverão ser
construídas em Estados governados por aliados de Lula, segundo distribuição inicial apresentada pelo governo. Como a
quantidade de casas por Estados e cidades está sujeita a alterações em razão dos benefícios
que governadores e prefeitos
oferecerem, a distribuição poderá favorecer ainda mais a base de apoio política do governo.
A maior contrapartida financeira dos Estados é listada como um dos principais critérios
a serem levados em conta pela
Caixa Econômica Federal para
priorizar os projetos que serão
apresentados pelas construtoras, segundo cartilha entregue
a interessados no programa.
É a partir daí que será definida a distribuição dos R$ 16 bilhões em recursos dos cofres da
União, usados para construir e
entregar praticamente a custo
zero 400 mil casas para famílias que ganham até R$ 1.395.
Dos 26 Estados e o Distrito
Federal, a oposição governa
apenas 7. No entanto nesses
Estados vivem 42% da população, segundo o último censo do
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). Somente São Paulo concentra
metade dessa população.
E é justamente por causa de
São Paulo que a participação
dos governistas na distribuição
dos recursos do pacote não passará de 80%. O Estado é estratégico para Lula, que não tem
nele uma votação expressiva
dada a relevância da região.
Interessado em fazer da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) sua sucessora na Presidência, Lula poderá colher significativos dividendos políticos na
área governada pelo tucano José Serra -apontado até agora
como maior adversário do governo nas eleições de 2010- se
fizer o programa deslanchar.
Individualmente, o Estado
onde vivem quase 40 milhões
de pessoas ficará com a maior
parcela das casas: 18,4%
(183.995 imóveis). O governo
afirma que a divisão seguiu critérios de distribuição do déficit
habitacional. Ainda assim, o
risco de uso político às vésperas
de eleições majoritárias exigirá
do governo transparência nas
suas ações.
Para a construção civil, o pacote habitacional tem o mérito
de colocar a habitação na agenda do país. "É um programa importante. É louvável, mas a sociedade precisa cobrar se houver distorções", diz Fabio Nogueira, diretor-executivo da
Brazilian Finance Real Estate,
especializada em operações financeiras na área imobiliária.
Ele afirma que a discussão de
uso político será inevitável e
sugere a descentralização como forma mais "saudável". "O
governo pode usar outros bancos, e não apenas a Caixa. As
pessoas beneficiadas também
terão de estar comprometidas
com os locais onde os empreendimentos serão concedidos. O
governo tem como avaliar com
antecedência para evitar que a
coisa saia dos trilhos."
Segundo Nogueira, o programa ainda precisa ser complementado com medidas que estimulem o setor privado e façam deslanchar fontes alternativas de financiamentos para a
construção civil trabalhar com
a classe média, que praticamente não teve benefícios no
pacote anunciado pelo governo, que é focado na baixa renda.
"O governo tem de atuar na
baixa renda e liberar o mercado
para atender o restante." Algumas coisas que faltam, diz Nogueira, são simples, citando um
esclarecimento da Receita Federal sobre a tributação dos
fundos criados com certificados de recebíveis imobiliários.
Outras vão na linha do socorro dado para os bancos pequenos e médios voltarem a captar
e a emprestar no mercado. Na
semana passada, o governo
anunciou que o Fundo Garantidor de Crédito dará garantia
aos papéis emitidos por essas
instituições. Isso, diz Nogueira,
deveria ser estendido aos títulos emitidos por companhias
hipotecárias e sociedades de
crédito imobiliário que precisam captar recursos no mercado e emitem letras hipotecárias
e letras de crédito imobiliário.
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