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OPINIÃO ECONÔMICA
Copa da Educação
GESNER OLIVEIRA
Pouca gente tomou conhecimento, mas ontem foi o Dia
da Educação. O país precisa acordar para o assunto. Se o Brasil for
eliminado da Copa da Alemanha, haverá luto nacional. Mas
perdemos de goleada todos os
dias nos bancos escolares e tudo
continua na mesma. Ou pior.
Segundo as Nações Unidas, o
país registra taxa de repetência
superior a 10% entre a primeira e
a quarta séries do ensino fundamental. O indicador para o Brasil
é de 21%, igual ao de Moçambique; e superior ao de Camboja
(11%), Haiti (16%), Ruanda
(19%), Lesoto (18%) e Uganda
(14%), para citar alguns países
com recursos significativamente
mais limitados relativamente ao
Brasil.
Sergio Ferreira e Fernando Veloso fizeram instigante proposta
de reforma educacional no livro
"Rompendo o Marasmo", de Armando Castelar e Fabio Giambiagi (editora Campus). O capítulo também contém os principais dados da tragédia brasileira.
O atraso é alarmante. A escolaridade média da população de 15
anos ou mais de idade era de 4,9
anos em 2000. É um número inferior ao de vários outros emergentes, como a Índia (4,9), a China
(6,4), a Costa Rica (6,1) e a Argentina (8,8). E, naturalmente, bem
inferior ao de países desenvolvidos, como os EUA (12,1). Pouco
mais de um entre cinco brasileiros tem pelo menos o ensino médio. Nos EUA, essa proporção é de
91%, na Coréia do Sul, de 82%, e
na Argentina, de 51%.
Fala-se em maior equilíbrio no
futebol mundial. É verdade. Mas
o real problema reside na perda
de posição na corrida do conhecimento. Em 1960, o Brasil tinha
um nível de escolaridade média
de 2,9 anos, superior ao de México (2,8), Índia (1,7) e Portugal
(1,9). O México ultrapassou o
Brasil nesse indicador nos anos
70, e Índia e Portugal nos deixaram para trás nos 80.
A tragédia educacional não pode ser explicada pela falta de recursos. O Brasil gasta 4,2% do
PIB em educação. É um percentual equivalente ao da Coréia do
Sul e superior ao do Japão (3,6%).
O problema é que o país gasta
mal. As prioridades estão invertidas. Os ricos se beneficiam dos
poucos benefícios que o sistema
oferece, e os pobres estão excluídos.
Um sistema educacional democrático deveria dotar as pessoas
das faculdades básicas para desenvolver suas potencialidades.
Isso exige ênfase nos primeiros
anos de escola e mesmo na pré-escola. O sistema brasileiro faz o
contrário. Oferece uma péssima
educação básica de forma que só
os ricos podem se preparar de
maneira adequada nos primeiros
estágios de aprendizado. E depois
subsidia as mesmas camadas privilegiadas com ensino gratuito
nas universidades públicas.
Os dados do Banco Mundial
apresentados por Ferreira e Veloso são ilustrativos. O subsídio público por aluno matriculado no
ensino superior no Brasil é de
51%, contra cerca de 11% nos ensinos médio e fundamental.
Os autores citados fazem uma
série de propostas para mudar esse quadro. As sugestões vão na direção de maior prioridade para
os ensinos fundamental e médio,
maior ênfase na qualidade e introdução de mecanismos de eficiência e competição. A discussão
de cada uma das propostas mereceria outro artigo.
Antes de mais nada, é preciso
mudar a atitude. O mundo globalizado não admite mais a acomodação na mediocridade. Um
exemplo apresentado por Andrés
Oppenheimer, em debate recente
na Universidade de Miami sobre
a situação igualmente preocupante do México, ilustra o problema. Recentemente, o "Times" divulgou lista das melhores universidades do mundo, na qual a Universidade Autônoma do México
ficou na 96ª posição (cem posições na frente da instituição brasileira mais bem colocada). Em
vez de lamentar, um jornal mexicano destacou o fato de a Unam
ser a melhor instituição mexicana!
Se o Brasil e o México pretendem crescer, é hora de mudar de
atitude. Não importa tanto ganhar ou perder a Copa do Mundo. Desde que se comece a trabalhar com seriedade para ao menos se classificar daqui a duas gerações para a Copa da Educação.
Gesner Oliveira, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), presidente do Instituto Tendências e ex-presidente do Cade. Atualmente, é professor visitante do Centro
de Estudos Brasileiros na Universidade
Columbia (EUA).
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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