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"Tem de ter
braço, se não morre de fome"
JOEL SILVA
REPÓRTER FOTOGRÁFICO DA FOLHA RIBEIRÃO
"Para ser cortador de cana,
tem de ter braço, porque, se
não tiver, morre, ou de fome
ou no canavial, de tanto trabalhar." A afirmação é de José Lúcio Oliveira, 33, que
veio de Barra do Santo Antônio (Alagoas) neste ano para
estrear no corte de cana na
região de Ribeirão Preto.
Oliveira e os amigos Carlos
João de Lima e Oziel Batista
Silva acordam às 4h. Os três
ocupam uma casa de dois cômodos em Pontal, com um
banheiro sem iluminação e
mobiliada apenas com um
beliche, duas camas de solteiro, uma geladeira, um fogão, um aparelho de DVD e
uma TV de 14 polegadas. Pagam R$ 120 de aluguel.
A primeira atividade do
grupo é preparar a marmita
que será levada para o canavial. Geralmente, o cardápio
do grupo é arroz, feijão, macarrão e um cozido de carne.
Às 5h, a turma já está no ponto de ônibus, onde se junta a
45 homens e mulheres e embarca em direção ao canavial.
Vestidos com calça comprida, jaleco de manga comprida, com camisa comprida
por baixo, gorro para proteger o pescoço, chapéu ou boné, caneleiras para evitar picadas de cobras e cortes das
escapadas do facão, botas, luvas e óculos, eles passam
mais de seis horas sob o sol.
Como ganha mais quem corta mais, os mais fortes e mais
experientes no uso do facão
saem ganhando.
Os homens chegam a cortar de 100 m a 120 m de cana
por dia e ganham, em média,
R$ 800 por mês. Na última
quinta, Oliveira disse que
sentiu dores nas costas e só
conseguiu cortar 60 metros.
O grupo faz três paradas
para comer o que levou na
marmita: uma por volta das
7h15, outra às 10h e a última
às 13h -a denominação
bóia-fria vem do fato de que
nas duas últimas refeições, o
alimento está frio, apesar de
algumas usinas fornecerem
marmitas térmicas.
Às 16h, voltam para a casa,
cansados, sujos e famintos,
mas ainda não é hora de descansar. Enquanto Lima coloca as botas e luvas em um
canto da casa e se prepara para lavar as roupas usadas no
dia de trabalho, Oliveira, ainda usando o boné que o protegeu do sol no canavial, começa a preparar o jantar da
turma e Silva entra no pequeno banheiro sem iluminação para o banho frio.
Entre os afazeres, discutem o dia de trabalho, reclamam do cansaço e das dores
no punho devido aos golpes
seguidos do facão. Lima, do
tanque de lavar roupa, conta
que uma cobra quase o picou
no canavial. O cozinheiro
Oliveira prepara arroz, salsicha cozida, feijão e bifes. Antes, guarda um pouco para o
almoço do dia seguinte.
Antes de comer, os trabalhadores saem em busca de
diversão: se reúnem com outros cortadores para uma
partida de futebol em campinho improvisado -a passadinha pelo bar para tomar
uma cachaça, rotina para
muitos bóias-frias, não é
adotada pela turma de Oliveira. Depois do futebol, o
trio volta para a casa, janta e
vai dormir lá pelas 21h.
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