São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 2002

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CONJUNTURA

Produção encolhe menos que o previsto em relação ao primeiro trimestre de 2001; renda per capita continua a cair

Economia surpreende e PIB piora pouco

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A produção brasileira de bens e serviços (o PIB) nos primeiros três meses do ano diminuiu menos que a média das previsões de analistas privados, que era de cerca de -1,6%, também o número cravado pela previsão do Ipea (instituto de pesquisas econômicas ligado ao governo federal).
Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, nos primeiros três meses do ano o país produziu 0,73% menos que no primeiro trimestre de 2001, quando a economia estava aquecida e se previa um crescimento de 4% ou 5% para o ano todo (acabou sendo de 1,51% devido ao racionamento e aos juros altos). Como a base de comparação era alta e a economia não dá sinais de reação, esperava-se resultado pior. Com os números disponíveis ainda não é possível explicar a relativa melhora -ou piora menos expressiva.
No entanto, a produção acumulada nos últimos 12 meses mostra estagnação: o Produto Interno Bruto cresceu apenas 0,29%, menos que a população do país, que tem aumentado cerca de 1,3% ao ano. Isto é, os brasileiros continuam a empobrecer. De resto, o PIB encolheu pelo segundo trimestre consecutivo em relação ao mesmo período de 2001.

Sem recessão
Para economistas ouvidos pela Folha, incluindo os do IBGE, responsáveis pelo cálculo, a queda em dois trimestres sucessivos não significa que o país está em recessão, embora esse seja um dos muitos conceitos para definir o termo. "Há uma desaceleração do ritmo de crescimento. Não dá para dizer que é recessão", afirma Eduardo Pereira Nunes, diretor de Contas Nacionais do IBGE.
Nunes argumenta com o número que compara o PIB do primeiro trimestre deste ano com o do último trimestre de 2001. Na comparação, a economia cresceu 1,34%. Normalmente, os economistas consideram a comparação com o período anterior como mais adequada para medir a tendência da economia. Neste caso, os técnicos do IBGE preferem esperar o próximo trimestre. "Não dá para falar em recuperação", diz Roberto Olinto, coordenador da Equipe Técnica do PIB.
Os técnicos também avaliam que não dá para jogar toda a culpa da queda do PIB no efeito estatístico provocado pela base de comparação elevada (no primeiro trimestre de 2001 ele havia crescido 4,33%). Para eles, a construção civil caiu 8,9% e não foi por efeito da base, da mesma forma que a queda de 23,4% da indústria de veículos foi um fato real.

Inflação
"A verdade é que o consumidor está angustiado e o empresário está em compasso de espera", afirma a economista Virene Roxo Matesco, professora da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Segundo ela, o consumidor está sofrendo com a queda de renda, com o desemprego e com os juros altos. Por isso, não compra. A economista avalia que os juros fazem hoje o papel que era feito pela inflação como redutor de renda da população mais pobre.
Quanto ao empresário, Virene avalia que ele decidiu adiar seus investimentos até ter clareza das propostas dos candidatos à Presidência da República. Com isso, a economia estaria encolhida tanto pelo lado da oferta (empresas) como da procura (consumidor).
Mas ela rejeita a hipótese de recessão."Vivemos uma desaceleração, que é a redução do uso da capacidade produtiva. Recessão é a redução dessa própria capacidade produtiva", afirma.
Eustáquio Reis, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, também rejeita a idéia de que o país esteja em recessão, mas não vê sinais de melhoria. "A recuperação não foi consistente até o momento."
A queda da renda, o desemprego e a interrupção da queda dos juros estariam na raiz dos problemas. O Ipea prevê que este ano a economia brasileira não crescerá mais de 2%. Quanto à queda do PIB ter sido menor que a esperada, Reis entende que foi apenas uma questão de "magnitude".



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