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CONJUNTURA
Produção encolhe menos que o previsto em relação ao primeiro trimestre de 2001; renda per capita continua a cair
Economia surpreende e PIB piora pouco
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A produção brasileira de bens e serviços (o PIB) nos primeiros
três meses do ano diminuiu menos que a média das previsões de
analistas privados, que era de cerca de -1,6%, também o número
cravado pela previsão do Ipea (instituto de pesquisas econômicas ligado ao governo federal).
Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, nos primeiros três
meses do ano o país produziu
0,73% menos que no primeiro trimestre de 2001, quando a economia estava aquecida e se previa
um crescimento de 4% ou 5% para o ano todo (acabou sendo de
1,51% devido ao racionamento e
aos juros altos). Como a base de
comparação era alta e a economia
não dá sinais de reação, esperava-se resultado pior. Com os números disponíveis ainda não é possível explicar a relativa melhora
-ou piora menos expressiva.
No entanto, a produção acumulada nos últimos 12 meses mostra
estagnação: o Produto Interno
Bruto cresceu apenas 0,29%, menos que a população do país, que
tem aumentado cerca de 1,3% ao
ano. Isto é, os brasileiros continuam a empobrecer. De resto, o
PIB encolheu pelo segundo trimestre consecutivo em relação ao
mesmo período de 2001.
Sem recessão
Para economistas ouvidos pela
Folha, incluindo os do IBGE, responsáveis pelo cálculo, a queda
em dois trimestres sucessivos não
significa que o país está em recessão, embora esse seja um dos
muitos conceitos para definir o
termo. "Há uma desaceleração do
ritmo de crescimento. Não dá para dizer que é recessão", afirma
Eduardo Pereira Nunes, diretor
de Contas Nacionais do IBGE.
Nunes argumenta com o número que compara o PIB do primeiro trimestre deste ano com o do
último trimestre de 2001. Na comparação, a economia cresceu
1,34%. Normalmente, os economistas consideram a comparação
com o período anterior como
mais adequada para medir a tendência da economia. Neste caso,
os técnicos do IBGE preferem esperar o próximo trimestre. "Não
dá para falar em recuperação", diz
Roberto Olinto, coordenador da
Equipe Técnica do PIB.
Os técnicos também avaliam
que não dá para jogar toda a culpa
da queda do PIB no efeito estatístico provocado pela base de comparação elevada (no primeiro trimestre de 2001 ele havia crescido
4,33%). Para eles, a construção civil caiu 8,9% e não foi por efeito
da base, da mesma forma que a
queda de 23,4% da indústria de
veículos foi um fato real.
Inflação
"A verdade é que o consumidor está angustiado e o empresário está em compasso de espera", afirma a economista Virene Roxo Matesco, professora da FGV
(Fundação Getúlio Vargas).
Segundo ela, o consumidor está sofrendo com a queda de renda, com o desemprego e com os juros altos. Por isso, não compra. A economista avalia que os juros fazem hoje o papel que era feito pela inflação como redutor de renda
da população mais pobre.
Quanto ao empresário, Virene avalia que ele decidiu adiar seus
investimentos até ter clareza das propostas dos candidatos à Presidência da República. Com isso, a economia estaria encolhida tanto
pelo lado da oferta (empresas) como da procura (consumidor).
Mas ela rejeita a hipótese de recessão."Vivemos uma desaceleração, que é a redução do uso da capacidade produtiva. Recessão é a redução dessa própria capacidade produtiva", afirma.
Eustáquio Reis, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea,
também rejeita a idéia de que o país esteja em recessão, mas não
vê sinais de melhoria. "A recuperação não foi consistente até o
momento."
A queda da renda, o desemprego e a interrupção da queda dos
juros estariam na raiz dos problemas. O Ipea prevê que este ano a
economia brasileira não crescerá mais de 2%. Quanto à queda do PIB ter sido menor que a esperada, Reis entende que foi apenas uma questão de "magnitude".
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