São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 2008

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BC estuda medidas para conter crédito

Banco está preocupado com os empréstimos de longo prazo e suspeita de irregularidades nas operações de leasing

Declarações de diretor da instituição, Alvir Hoffmann, assustam platéia formada por executivos de bancos em evento em São Paulo


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O Banco Central estuda medidas prudenciais para conter o crescimento do crédito e pode criar medidas para restringir as operações de lançamento de debêntures (títulos emitidos para captar recursos) das empresas de leasing ligadas a bancos. O Banco Central considera a possibilidade de que algumas dessas operações com debêntures sejam irregulares.
A informação foi dada pelo diretor de fiscalização do BC, Alvir Hoffmann, em almoço na segunda-feira, em São Paulo, para mais de cem executivos de bancos na posse do novo presidente da ABBI (Associação Brasileira de Bancos Internacionais), Dewes Rubira.
A cerimônia de transmissão de cargo da ABBI foi fechada, e Hoffmann era o principal convidado. Segundo a Folha apurou, o diretor surpreendeu os executivos presentes com o teor de suas declarações.
Hoffmann disse que estava preocupado com o crescimento do crédito no país, principalmente as operações de longo prazo. Citou, por exemplo, os financiamentos à compra de veículos em 84 meses. O problema, segundo Hoffmann, é que o carro normalmente é trocado antes de o empréstimo acabar. O diretor do BC também manifestou preocupação com o crescimento do empréstimo compulsório.
Também chamaram a atenção dos executivos os comentários a respeito das operações de lançamento de debêntures das empresas de leasing ligadas aos bancos. Segundo presentes, Hoffmann disse que a operação era "falta grave" e que poderia até ser considerada crime. Ele aventou a hipótese de o BC encaminhar a operação a avaliação do Ministério Público.
Já o presidente do BC, Henrique Meirelles, reuniu-se ontem com o presidente da Febraban, Fabio Barbosa, e outros banqueiros para falar de leasing e disse que via desvirtuamento nas operações dos bancos nessa área.
Procurado pela Folha ontem, Hoffmann afirmou, por meio da assessoria do BC, que o que fez na segunda-feira foi manifestar "preocupação com o crédito em prazo longo compatível com a natureza das garantias ou com a estrutura de funding". Também disse que o BC "monitora e analisa o mercado o tempo todo, mas não antecipa nenhuma medida prudencial que venha a tomar".
Sobre possíveis irregularidades no leasing (em forte expansão), disse que "recomendou às instituições que seja bem estudada a adequação legal de novos produtos de captação de "funding", como debêntures".
As declarações de Hoffmann assustaram os executivos presentes e geraram rumores no mercado nos últimos dias de que o BC pode tomar medidas para conter o crédito, que atingiu o recorde de R$ 1 trilhão em abril, ou 36% do PIB. Essas medidas teriam dois objetivos.
O primeiro, evitar que se repita, no Brasil, em algumas modalidades de crédito, como o consignado e o financiamento de automóveis, o mesmo que aconteceu nos EUA com os empréstimos no mercado "subprime" (financiamentos de alto risco), que colapsou. O outro objetivo seria evitar que todo o trabalho do BC de redução da pressão da demanda para conter a alta da inflação se concentre na alta dos juros.
Na semana que vem, o BC se reúne para decidir a nova taxa básica de juros da economia, e as apostas do mercado vão de uma nova alta de 0,5 a até 1 ponto percentual.
Já há algum tempo se cogita no governo a possibilidade de o BC vir a adotar medidas prudenciais para conter o crescimento do crédito. A idéia não é limitar os prazos dos empréstimos bancários, como defendeu recentemente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas passar a exigir dos bancos um índice maior de capitalização para os empréstimos de mais longo prazo.
O Banco Central ainda não definiu o que poderá fazer.
No ano passado, o BC interveio nos limites de exposição cambial para os bancos, que é uma medida prudencial. A autoridade monetária passou a exigir a alocação de capital para determinados tipos de risco, o que obrigou as instituições a diminuírem suas exposições na área do câmbio. Outras medidas, como o aumento do recolhimento compulsório (dinheiro dos bancos retido pelo BC), não estão sendo cogitadas porque o compulsório no Brasil já seria muito alto.


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