|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A Cteep e a luta da Cesp
A Cesp entrou na crise de
energia com um pé
quebrado. A luta, agora,
é para mantê-la de pé
A FINAL , São Paulo fez um bom
negócio vendendo a Cteep
(Companhia de Transmissão
de Energia Elétrica Paulista)? Participaram do leilão dois grupos estrangeiros, o colombiano Interconexion Eléctrica e o italiano Tema. Os
brasileiros desistiram.
Quem levou foi o grupo colombiano, por R$ 1,193 bilhão, ágio de 58%
em relação ao preço mínimo estipulado, o equivalente a R$ 38,09 por
lote de mil ações.
Foram vendidos 30% das ações da
Cteep, de propriedade do governo
paulista. O restante está pulverizado
no mercado. Segundo o secretário
de Energia, Mauro Arce, no ano passado a empresa teve R$ 400 milhões
de lucro. Desse total, 30% (a parte
do Estado) correspondem a R$ 120
milhões. Com o preço pago, o P/L
(relação preço/lucro) da empresa é
de 10 -baixo para uma empresa de
transmissão, em uma área regulada,
de baixíssimo risco. Aliás, o preço
mínimo fixado correspondia a um
P/L de apenas 6,6.
Provavelmente contribuiu para
esse quadro a deterioração das expectativas do mercado internacional em relação aos países emergentes.
O Estado de São Paulo trocou uma
rentabilidade de 10% sobre o capital
aplicado na Cteep (levando em conta o valor de venda), ou 15% (levando
em conta o preço mínimo), analisando estaticamente a companhia
pelo resultado do ano passado, por
dívidas da Cesp. No ano passado, a
Cesp teve R$ 1,4 bilhão de geração líquida de caixa, para uma dívida total
de R$ 11 bilhões.
Arce sustenta que o custo médio
da dívida da Cesp é baixo. Mas admite que a empresa vem recorrendo
seguidamente a operações de curtíssimo prazo. Chegou a lançar mais de
R$ 1,2 bilhão de recebíveis. Se o custo da dívida for CDI, esse R$ 1,2 bilhão obtido na venda da Cteep representará uma redução de R$ 178
milhões anuais no serviço da dívida
da Cesp -mais do que os R$ 120 milhões de lucro do ano passado. Mas
vende-se uma empresa consolidada,
em fase de expansão, cuja valorização estava comprometida apenas
pelas limitações à tomada de financiamento no BNDES -devido ao fato de que investimentos de empresas públicas, ainda que auto-sustentáveis, entram na composição do déficit público. E troca-se por uma dívida cujo custo tende a diminuir
com o tempo, à medida que a taxa
Selic prossiga a trajetória de queda.
Espera-se uma redução de 30% no
endividamento, dando suporte ao
fluxo de caixa, para ir amortizando
aos poucos o restante da dívida. A
reestruturação da Cesp envolverá
ainda emissão primária de ações, em
valor duas vezes maior do que foi o
do leilão da transmissão, emissão de
debêntures e refinanciamento de
parte da dívida.
Não foi pensada a possibilidade de
o Estado montar uma holding, na
qual aportasse as ações que têm na
Cesp e na Cteep e fizesse uma espécie de caixa de compensação.
Na privatização -coordenada pelo então vice-governador Geraldo
Alckmin-, houve a cisão da Cesp de
várias empresas, e o endividamento
ficou com a companhia-mãe, deixando a empresa em situação delicada. A Cesp entrou na crise de
energia com um pé quebrado. A luta,
agora, é para mantê-la de pé.
Blog: www.luisnassif.com.br
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Crise de aérea freia expansão de desembarques internacionais Próximo Texto: Congresso aprova FGTS para domésticos Índice
|