São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

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Lula decide manter meta de inflação em 4,5% para 2011

Presidente quer aliviar pressão no BC para elevar taxa de juros em ano de eleição

Equipe econômica via condições técnicas para reduzir meta de inflação para 4%, mas o BC poderia ter de elevar juro em 2010

KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para aliviar a pressão sobre o Banco Central no ano eleitoral de 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu fixar em 4,5% a meta de inflação para 2011. Segundo apurou a Folha, Lula deseja evitar eventual alta dos juros no último ano de governo, quando tentará eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), como sucessora.
Tecnicamente, o Banco Central e o Ministério da Fazenda julgavam que havia condição de reduzir a meta de inflação anual para 4%, sempre segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). O IPCA é o indicador oficial do sistema de metas de inflação.
Mas Lula avaliou que a redução poderia obrigar o BC a ter mais rigor na política monetária justamente no ano eleitoral. Trocando em miúdos: subir os juros básicos da economia (Selic) em 2010 para obter uma inflação menor em 2011.
Elevações e quedas das taxas de juros demoram meses para surtir efeito. Grosso modo, as elevações da Selic procuram desestimular o consumo, a fim de que a inflação caia. As reduções de juros objetivam esquentar a economia, o que pode gerar pressões inflacionárias.
Hoje, a Selic está em 9,25% ao ano. O governo considera que o processo de redução dos juros está se aproximando do fim e que dificilmente o atual governo terá uma Selic menor do que 8% ou 8,5%.
Como Lula deseja terminar o mandato com a menor taxa básica real de juros, ele discutiu com a equipe econômica a manutenção da meta de 4,5% ao ano. Esse número tem sido mantido desde 2005. Serão, portanto, sete anos de meta de 4,5%, contando 2011.
Oficialmente, o CMN (Conselho Monetário Nacional) fixa a meta de inflação. Mas é Lula quem dá a última palavra aos três integrantes do CMN: o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento).
Lula já deixou claro que sua prioridade em 2010 continuará sendo aquecer a economia. Para isso, uma meta de inflação de 4,5% pode acomodar imprevistos melhor do que uma meta de 4%. Ele decidiu manter o intervalo de variação em relação ao centro da meta em dois pontos percentuais para mais ou para menos. Ou seja, um banda de 2,5% a 6,5% ao ano.
Outra razão para o alívio sobre o BC: risco de instabilidade no processo eleitoral provocar elevação nas expectativas de alta inflacionária, o que exigiria aumento dos juros.
Um auxiliar de Lula diz que, numa campanha eleitoral, é natural que possam acontecer turbulências no mercado, como ocorreu na primeira eleição do petista em 2002 -quando a inflação subiu. Com meta de 4,5%, o BC teria margem de manobra maior para evitar uma subida dos juros ou promover uma elevação mais controlada da taxa.
Segundo técnicos do governo, a retração da economia gerou um nível de capacidade ociosa na indústria brasileira que permite sustentar um crescimento econômico entre 3,5% e 4% sem gerar pressões inflacionárias. Isso desde que não haja alta exagerada no preço das commodities -produtos cujos valores obedecem ao mercado internacional.
Só que, além do fator eleitoral, outro deve pesar na decisão, sempre lembrado pelo presidente Lula nas discussões internas. Seu governo está em final de mandato e esse é um tema que deve ser deixado para o próximo presidente, já que será ele o responsável pela condução da política monetária em 2011. O sucessor do presidente Lula poderá mudar a meta.


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