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Lula decide manter meta de inflação em 4,5% para 2011
Presidente quer aliviar pressão no BC para elevar taxa de juros em ano de eleição
Equipe econômica via condições técnicas para reduzir meta de inflação para 4%, mas o BC poderia ter de elevar juro em 2010
KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para aliviar a pressão sobre o
Banco Central no ano eleitoral
de 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu fixar
em 4,5% a meta de inflação para 2011. Segundo apurou a Folha, Lula deseja evitar eventual
alta dos juros no último ano de
governo, quando tentará eleger
a ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff (PT), como sucessora.
Tecnicamente, o Banco Central e o Ministério da Fazenda
julgavam que havia condição de
reduzir a meta de inflação
anual para 4%, sempre segundo
o IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo). O IPCA é
o indicador oficial do sistema
de metas de inflação.
Mas Lula avaliou que a redução poderia obrigar o BC a ter
mais rigor na política monetária justamente no ano eleitoral.
Trocando em miúdos: subir os
juros básicos da economia (Selic) em 2010 para obter uma inflação menor em 2011.
Elevações e quedas das taxas
de juros demoram meses para
surtir efeito. Grosso modo, as
elevações da Selic procuram
desestimular o consumo, a fim
de que a inflação caia. As reduções de juros objetivam esquentar a economia, o que pode
gerar pressões inflacionárias.
Hoje, a Selic está em 9,25%
ao ano. O governo considera
que o processo de redução dos
juros está se aproximando do
fim e que dificilmente o atual
governo terá uma Selic menor
do que 8% ou 8,5%.
Como Lula deseja terminar o
mandato com a menor taxa básica real de juros, ele discutiu
com a equipe econômica a manutenção da meta de 4,5% ao
ano. Esse número tem sido
mantido desde 2005. Serão,
portanto, sete anos de meta de
4,5%, contando 2011.
Oficialmente, o CMN (Conselho Monetário Nacional) fixa
a meta de inflação. Mas é Lula
quem dá a última palavra aos
três integrantes do CMN: o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, e os ministros Guido Mantega (Fazenda)
e Paulo Bernardo (Planejamento).
Lula já deixou claro que sua
prioridade em 2010 continuará
sendo aquecer a economia. Para isso, uma meta de inflação de
4,5% pode acomodar imprevistos melhor do que uma meta de
4%. Ele decidiu manter o intervalo de variação em relação ao
centro da meta em dois pontos
percentuais para mais ou para
menos. Ou seja, um banda de
2,5% a 6,5% ao ano.
Outra razão para o alívio sobre o BC: risco de instabilidade
no processo eleitoral provocar
elevação nas expectativas de alta inflacionária, o que exigiria
aumento dos juros.
Um auxiliar de Lula diz que,
numa campanha eleitoral, é natural que possam acontecer
turbulências no mercado, como ocorreu na primeira eleição
do petista em 2002 -quando a
inflação subiu. Com meta de
4,5%, o BC teria margem de
manobra maior para evitar
uma subida dos juros ou promover uma elevação mais controlada da taxa.
Segundo técnicos do governo, a retração da economia gerou um nível de capacidade
ociosa na indústria brasileira
que permite sustentar um crescimento econômico entre 3,5%
e 4% sem gerar pressões inflacionárias. Isso desde que não
haja alta exagerada no preço
das commodities -produtos
cujos valores obedecem ao
mercado internacional.
Só que, além do fator eleitoral, outro deve pesar na decisão, sempre lembrado pelo presidente Lula nas discussões internas. Seu governo está em final de mandato e esse é um tema que deve ser deixado para o
próximo presidente, já que será
ele o responsável pela condução da política monetária em
2011. O sucessor do presidente
Lula poderá mudar a meta.
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