São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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PÚBLICO E PRIVADO

Presidente do BC, sob suspeita de ter cometido irregularidades fiscais, diz que já esclareceu o caso

Meirelles nega acusações e segue no cargo

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que não irá se afastar do cargo. Ele voltou a negar as acusações de que teria cometido irregularidades fiscais.
Meirelles falou ontem em Brasília. Ele anunciou a demissão do diretor de Política Monetária do BC, Luiz Augusto Candiota. A decisão veio a público cinco dias após a revista "IstoÉ" ter publicado reportagem segundo a qual Candiota é suspeito de sonegação de impostos e evasão de divisas.
Meirelles também é citado na reportagem como suspeito de irregularidades fiscais, mas afirmou que permanece no cargo. O presidente do BC é investigado pelo Ministério Público Federal. A irregularidade estaria no fato de Meirelles não ter entregue à Receita Federal sua declaração de Imposto de Renda relativa a 2001.
Em nota divulgada na sexta-feira, Meirelles disse que não entregou a declaração porque, em 2001, morava nos EUA. À Justiça Eleitoral, porém, Meirelles informou que, naquele ano, morava em Goiás -exigência legal para que ele pudesse concorrer, em 2002, a deputado federal pelo Estado.
A nota dizia que "domicílio eleitoral não se confunde com domicílio fiscal". Ontem, Meirelles evitou falar sobre o assunto: "Está tudo totalmente esclarecido na nota emitida pelo Banco Central, a meu respeito, na sexta-feira".
Já Candiota, segundo a revista, deixou de declarar à Receita a existência de duas contas abertas por ele em bancos dos Estados Unidos. Por uma das contas, mantida no MTB Bank de Nova York, teria passado US$ 1,291 milhão entre 1999 e 2002.
"Entendo que minha permanência na função, a partir de agora, será prejudicial ao Banco Central do Brasil, ao mercado financeiro e ao país, pois as acusações à minha pessoa acabam por atingir o órgão de que faço parte."
Candiota será substituído pelo economista Rodrigo Azevedo, diretor do banco CSFB (Credite Suisse First Boston).
A reportagem foi divulgada na tarde de sexta-feira. Candiota tomou conhecimento dela no escritório do BC em São Paulo. Foi então chamado de volta à Brasília, onde falou com Meirelles. No final daquele dia, divulgou nota negando as acusações.
No domingo, foi divulgada uma segunda nota, que continha explicações mais detalhadas para as supostas irregularidades apontadas. Ainda assim, diante da repercussão negativa, os demais diretores do BC foram informados, na terça-feira, sobre sua saída.
Para o governo, porém, a demissão só deveria ser divulgada depois de definido seu sucessor, para que não houvesse turbulências no mercado. Azevedo, de perfil conservador, é bem-visto pelos investidores. Antes de assumir a diretoria do BC, seu nome precisa ser aprovado pelo Senado.
Ontem de manhã, para tornar pública a decisão, Meirelles e Candiota fizeram um pronunciamento à imprensa. Antes mesmo de anunciar a saída de Candiota, o presidente do BC já informava o nome de seu substituto.
Sentado ao lado de Meirelles, Candiota leu o seu discurso. Também para tranqüilizar os mercados, o diretor demissionário fez questão de se dizer "realizado profissionalmente" por ter feito parte da equipe que conseguiu "recolocar o país na rota da normalidade monetária e do crescimento sustentável".
Só então Candiota justificou sua demissão. "Sinto-me violentado pessoalmente e profissionalmente, sobretudo pela forma como a matéria é apresentada, dando a entender que teria me envolvido em operações fraudulentas. Confesso não ter mais motivação para me manter no cargo", disse.
Ele também fez críticas ao trabalho da imprensa. "Fui vítima daquilo que chamo de "libertinagem de imprensa"."
Em nota, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) elogiou o trabalho do agora ex-diretor no BC. "Testemunho também o caráter afável, correto, disciplinado e o agudo senso de lealdade de Luiz Augusto Candiota", disse.


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