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PÚBLICO E PRIVADO
Presidente do BC, sob suspeita de ter cometido irregularidades fiscais, diz que já esclareceu o caso
Meirelles nega acusações e segue no cargo
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, afirmou ontem que não irá se afastar do cargo. Ele voltou a negar as acusações de que teria cometido irregularidades fiscais.
Meirelles falou ontem em Brasília. Ele anunciou a demissão do
diretor de Política Monetária do
BC, Luiz Augusto Candiota. A decisão veio a público cinco dias
após a revista "IstoÉ" ter publicado reportagem segundo a qual
Candiota é suspeito de sonegação
de impostos e evasão de divisas.
Meirelles também é citado na
reportagem como suspeito de irregularidades fiscais, mas afirmou que permanece no cargo. O
presidente do BC é investigado
pelo Ministério Público Federal.
A irregularidade estaria no fato de
Meirelles não ter entregue à Receita Federal sua declaração de
Imposto de Renda relativa a 2001.
Em nota divulgada na sexta-feira, Meirelles disse que não entregou a declaração porque, em 2001,
morava nos EUA. À Justiça Eleitoral, porém, Meirelles informou
que, naquele ano, morava em
Goiás -exigência legal para que
ele pudesse concorrer, em 2002, a
deputado federal pelo Estado.
A nota dizia que "domicílio eleitoral não se confunde com domicílio fiscal". Ontem, Meirelles evitou falar sobre o assunto: "Está tudo totalmente esclarecido na nota
emitida pelo Banco Central, a
meu respeito, na sexta-feira".
Já Candiota, segundo a revista,
deixou de declarar à Receita a
existência de duas contas abertas
por ele em bancos dos Estados
Unidos. Por uma das contas,
mantida no MTB Bank de Nova
York, teria passado US$ 1,291 milhão entre 1999 e 2002.
"Entendo que minha permanência na função, a partir de agora, será prejudicial ao Banco Central do Brasil, ao mercado financeiro e ao país, pois as acusações à
minha pessoa acabam por atingir
o órgão de que faço parte."
Candiota será substituído pelo
economista Rodrigo Azevedo, diretor do banco CSFB (Credite
Suisse First Boston).
A reportagem foi divulgada na
tarde de sexta-feira. Candiota tomou conhecimento dela no escritório do BC em São Paulo. Foi então chamado de volta à Brasília,
onde falou com Meirelles. No final daquele dia, divulgou nota negando as acusações.
No domingo, foi divulgada uma
segunda nota, que continha explicações mais detalhadas para as
supostas irregularidades apontadas. Ainda assim, diante da repercussão negativa, os demais diretores do BC foram informados, na
terça-feira, sobre sua saída.
Para o governo, porém, a demissão só deveria ser divulgada
depois de definido seu sucessor,
para que não houvesse turbulências no mercado. Azevedo, de
perfil conservador, é bem-visto
pelos investidores. Antes de assumir a diretoria do BC, seu nome
precisa ser aprovado pelo Senado.
Ontem de manhã, para tornar
pública a decisão, Meirelles e Candiota fizeram um pronunciamento à imprensa. Antes mesmo de
anunciar a saída de Candiota, o
presidente do BC já informava o
nome de seu substituto.
Sentado ao lado de Meirelles,
Candiota leu o seu discurso. Também para tranqüilizar os mercados, o diretor demissionário fez
questão de se dizer "realizado
profissionalmente" por ter feito
parte da equipe que conseguiu
"recolocar o país na rota da normalidade monetária e do crescimento sustentável".
Só então Candiota justificou sua
demissão. "Sinto-me violentado
pessoalmente e profissionalmente, sobretudo pela forma como a
matéria é apresentada, dando a
entender que teria me envolvido
em operações fraudulentas. Confesso não ter mais motivação para
me manter no cargo", disse.
Ele também fez críticas ao trabalho da imprensa. "Fui vítima
daquilo que chamo de "libertinagem de imprensa"."
Em nota, o ministro Antonio
Palocci Filho (Fazenda) elogiou o
trabalho do agora ex-diretor no
BC. "Testemunho também o caráter afável, correto, disciplinado
e o agudo senso de lealdade de
Luiz Augusto Candiota", disse.
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