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ARTIGO
Juros baixos podem ser estopim para explosão do barril
CHARLES CLOVER
ANNA FIFIELD
DO FINANCIAL "TIMES"
A opinião convencional
diz que os choques do petróleo que abalam a economia
mundial desde os anos 70 têm todos uma única causa: a instabilidade no Oriente Médio. O embargo árabe do petróleo, em 1973, a
revolução e a greve dos trabalhadores petroleiros do Irã, em 1979,
e, agora, o conflito no Iraque coincidiram, todos, com aumentos
dramáticos no preço do petróleo.
Mas essas crises têm outra coisa
em comum: juros baixos em todo
o mundo. A ligação entre os preços do petróleo e os mercados financeiros termina por ser desconsiderada, freqüentemente,
mas tem implicações tanto em
termos de segurança da energia
quanto em termos econômicos.
Será que os choques do petróleo
podem ser vistos como fenômeno
monetário, e não simplesmente
como resultado do balanço entre
oferta e procura do produto?
Diversos economistas trataram
da questão. Todos alegam que a
política monetária tem influência
maior sobre os preços das commodities do que costuma ser reconhecido por seus colegas.
A pesquisa mais rigorosa a respeito foi conduzida por Jeffrey
Frankel, professor de economia
na Escola Kennedy de Administração Pública, parte da Universidade Harvard. Sua teoria da "supercompensação" argumenta
que os preços das commodities
são instáveis porque elas são negociadas em Bolsas de operação
rápida, em regime de leilão, que
respondem mais dramaticamente
do que os preços ao consumidor
às expectativas quanto aos juros e
às flutuações monetárias.
A alta acentuada nos preços do
petróleo neste ano parece sustentar essa interpretação. Os preços
do petróleo subiram cerca de 48%
nos dois últimos anos -ontem,
bateu novo recorde em Nova
York, ao fechar a US$ 42,90-, enquanto a inflação ao consumidor
nos EUA subiu 5,5% no período.
Como em 1979, os juros mundiais estão em um momento de
baixa. E, como nos choques anteriores do petróleo, o aumento
sustentado no preço do petróleo
vem sendo acompanhado por alta
nos preços de outras commodities. Os preços do níquel mais que
duplicaram em dois anos, enquanto o aço subiu mais de 62% e
o ouro teve alta de 25%.
Esses aumentos de preços simultâneos seguem um padrão
histórico. Durante os choques do
petróleo de 1973/74 e de 1979 a
1982, por exemplo, não só o preço
do petróleo atingiu um pico como
diversas outras commodities o
acompanharam: o ouro mais que
duplicou entre 1972 e 1974 e atingiu seu maior preço da história
durante o segundo choque do petróleo, em 1980. Os preços da soja
mais que duplicaram em 1974, e o
milho atingiu seu recorde histórico de preço naquele ano. Os dois
produtos voltaram a apresentar
altas acentuadas em 1980/81.
É um artigo de fé entre os operadores de commodities que preços
de produtos aparentemente não
relacionados tendem a se correlacionar de uma maneira estranha.
O comportamento dos preços
das commodities, por sua vez,
apresenta contraste acentuado
com relação aos preços dos bens
de consumo no varejo. A única
flutuação nos preços ao consumidor se relaciona ao seu ritmo de
aumento: o nível de inflação. Mas
os preços das commodities não
crescem regularmente -em lugar disso, sobem e caem em movimentos dramáticos. A única relação entre os dois conjuntos de
preços é que, quando o ritmo de
crescimento dos preços ao consumidor (ou seja, a inflação) é elevado, o nível absoluto dos preços
das commodities é igualmente alto, e vice-versa. Isso é conhecido
como "supercompensação".
Reação
Frankel argumenta que isso se
deve à maneira pela qual diferentes tipos de mercado reagem à
pressão inflacionária. Um aumento na base monetária, se todos os preços subirem à mesma
velocidade, resultará em aumento
uniforme para todos os preços.
Mas, se os preços de alguns bens
se ajustam mais rapidamente que
os de outros, os mercados de ajuste mais rápido experimentarão altas de preços desproporcionais
até que os mercados mais lentos
se equiparem a eles, o que fará
com que os preços dos mercados
de ajuste mais rápido recuem ao
novo "nível de equilíbrio".
Porque as commodities são negociadas em Bolsa, diz Frankel,
seus preços podem se ajustar
mais rápido que os de bens vendidos em lojas. Por isso, uma alta inflacionária na base monetária será
sentida de maneira desproporcional nos mercados de commodities, inicialmente, o que fará com
que "supercompensem" seu nível
de equilíbrio de longo prazo.
Mas por que os operadores de
commodities ofereceriam preços
superiores aos do nível de equilíbrio em longo prazo? A resposta,
em parte, se deve ao fato de que
eles não sabem qual será o novo
nível de equilíbrio. Enquanto isso,
diz, Frankel, uma alta da base monetária (ou outra forma de pressão inflacionária) faria o juro real
cair, tornando os investimentos
financeiros menos atraentes que
outras alternativas de aplicação.
Essa observação é confirmada
pelos dados: encontrar uma medida precisa dos juros reais (descontada a inflação) é difícil, mas
os preços dos títulos públicos, que
indicam a atratividade da concessão de crédito ao nível de juros vigente, são um bom indicador:
quando os preços dos títulos públicos caem, os juros também devem estar caindo. Há uma relação
histórica invertida entre os preços
das commodities e os dos títulos
públicos, demonstrando a maneira pela qual os mercados financeiros os encaram como alternativas.
A teoria de Frankel gerou certa
controvérsia. Os críticos dizem
que ela não explica adequadamente por que um operador veria
baixos juros como uma oportunidade de investir em commodities,
que são muitas vezes "retrodatadas" -o preço futuro é inferior
ao preço à vista, o que implica que
um operador perderia dinheiro
por reter a commodity.
De fato, os motivos dos operadores para a supercompensação
talvez ainda não sejam plenamente compreendidos, mas isso não
altera o vínculo entre os preços
das commodities e os juros reais.
As implicações disso em termos
de política monetária são profundas. Se os preços do petróleo forem determinados não nos palácios do golfo Pérsico, mas nas salas de reunião do BC norte-americano, será lançará uma luz completamente nova sobre a segurança energética dos EUA e deveria
levar a uma reformulação das
prioridades de política externa
norte-americanas.
Tradução de Paulo Migliacci
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