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País sofre mais, mas está melhor para enfrentar crise
No Brasil, moeda e Bolsa caem mais que em outros emergentes na turbulência
Maioria dos economistas
considera país mais bem
preparado para incertezas
no longo prazo por causa de
reservas e fundamentos
SHEILA D'AMORIM
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No primeiro teste de resistência a crises após o Brasil alcançar o recorde US$ 150 bilhões em reservas para se proteger de turbulências externas,
a Bovespa caiu 7,86% na semana passada, o real se desvalorizou mais que as moedas de países como México e Colômbia, e
a piora no risco-país foi maior
que a média dos emergentes.
Esse comportamento mostrou
vulnerabilidades na área financeira. Mas até que ponto isso
pode afetar a economia real, caso a crise se prolongue?
Economistas ouvidos pela
Folha divergem. Há quem defenda que a semana foi um sinalizador de que o Brasil não
está blindado contra crises e
pode sofrer ainda mais. Porém
a maior parte sustenta que, se a
piora no cenário externo se arrastar por muito tempo, a situação tende a se reverter e o
país deverá sentir menos.
Isso porque, segundo eles,
nesse primeiro momento, a oscilação foi um ajuste financeiro
sem vinculação com o comportamento dos indicadores macroeconômicos. "Primeiro,
vem o pânico. Os investidores
reduzem a exposição em economias que geraram ganhos
para cobrir perdas em outros
países ou aplicar em ativos com
menos risco", diz Caio Megale,
economista da Mauá Invest.
Ele afirma que, se as turbulências seguirem por mais tempo, haverá uma diferenciação
melhor das economias comparando os indicadores e prevalecerá a melhora do Brasil. Para
Roberto Padovani, do banco
WestLB, apesar do volume alto
de reservas, um componente financeiro deixa o país mais exposto: a facilidade com que se
vendem títulos da dívida brasileira, o que, no jargão financeiro, chama-se de alta liquidez.
Isso faz com que os papéis
brasileiros, que pagam juro elevado, sejam os primeiros a serem negociados, com impacto
direto no risco-país (que mede
a confiança externa na economia brasileira). "O Brasil tem liquidez porque está atraente para investimentos, oferecendo
boa oportunidade de ganhos",
diz Nuno Camara, do Dresdner
Bank, em Nova York.
Na semana passada, o risco
Brasil subiu 27%, enquanto a
média registrada nos emergentes foi de 15%. O dólar chegou a
se valorizar 3,8% ante o real entre terça e quinta-feira. Mas, na
sexta, a moeda brasileira se recuperou, e a valorização do dólar na semana caiu para 2,15%
-maior do que os 2% que a
moeda dos Estados Unidos
avançou em relação ao peso
mexicano.
"A estabilidade macroeconômica não impede que ativos sejam contaminados. Mas esse
movimento de quase R$ 0,10
no câmbio [de R$ 1,842, na segunda, para R$ 1,927, na quinta] não contamina a economia.
No curto prazo, não é expressivo para inflação", diz Padovani.
Fragilidade
O economista Ricardo Carneiro, da Unicamp, diz que essa
maior liquidez dos ativos brasileiros reflete, justamente, a fragilidade do real. Ao primeiro sinal de instabilidade, diz, o investidor foge das moedas menos conversíveis.
"Quando acontece uma reversão no ciclo financeiro, os
ativos nessas moedas são os
primeiros candidatos à liquidação." Nessa situação, não haveria garantias de que o Brasil
passará ileso por uma crise
mais forte, até porque outros
emergentes estão mais preparados que o país, diz.
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