São Paulo, Quinta-feira, 29 de Julho de 1999
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CAMINHONEIROS
Alguns produtos perecíveis já começam a faltar; outras mercadorias têm estoques reduzidos
Greve agrava risco de desabastecimento

da Reportagem Local

A greve dos caminhoneiros, que ontem completou três dias, aumentou o risco de desabastecimento de alimentos e combustíveis em todo o país. Os produtos perecíveis -como frutas, verduras, legumes, leite e carnes- foram os mais prejudicados e já podem começar a faltar a partir de hoje.
A Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo) registrou ontem queda de cerca de 66% no movimento de entrada de produtos em relação ao de terça-feira.
A Ceagesp movimenta diariamente quase 10 mil toneladas de alimentos, o que representa cerca de R$ 8 milhões em negócios. Cerca de 1.200 caminhões carregados passam pela Ceagesp por dia. Até as 16h de ontem, apenas 416 haviam chegado à companhia. No mesmo período da quarta-feira da semana passada, esse número havia sido de 915.
O setor mais atingido foi o de frutas, com queda de 78%. Nas outras áreas, as quedas foram estas: legumes, 58%; diversos, 59%; e verduras, 16%.
A menor entrega de produtos na Ceagesp vai diminuir a oferta nas feiras livres, sacolões e supermercados.
Nos supermercados, os estoques de carne, frango, óleo e leite estão em nível crítico. "São produtos de rápida reposição e já estão faltando no mercado", disse Omar Assaf, presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados). Para os demais produtos, os estoques dão para mais dois ou três dias.
A APA (Associação Paulista de Avicultura) informou que o setor já sofreu grandes prejuízos com a greve, uma vez que os caminhões que transportam aves abatidas estão retidos em rodovias. Com isso, poderá faltar produtos em supermercados, avícolas etc.
O grupo Pão de Açúcar informou que 40% das entregas no seu centro de distribuição, na via Anhanguera, foram prejudicadas pela greve. Por enquanto, as lojas ainda têm estoque.

Outros Estados
A Ceasa (Central de Abastecimento) do Estado do Rio de Janeiro sofreu até ontem redução de 90% em seu abastecimento, segundo o gerente de mercado, Marcos Delgado.
Ele afirmou que 70% das quase 5.000 toneladas de alimentos movimentadas por dia na Ceasa chegam de outros Estados para distribuição em supermercados, hotéis e restaurantes, e esse transporte é feito basicamente por caminhão.
A Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, que tem movimento diário de R$ 30 milhões, sofreu redução de negócios de 50%, segundo o presidente da entidade, José de Souza.
O principal reflexo da greve no Distrito Federal está sendo sentido no comércio varejista, o que pode resultar na queda de até 20% na venda de presentes para o Dia dos Pais.
Brasília importa 85% dos produtos que consome e cerca de 95% deles chegam à cidade em caminhões. No caso dos supermercados e setores atacadistas, a dependência do transporte rodoviário de cargas é quase de 100%. Nos supermercados, os estoques de produtos não-perecíveis podem durar de 7 a 15 dias, segundo empresários do setor.
No caso dos combustíveis, o Distrito Federal não apresentará problemas de desabastecimento, pois a distribuição é feita por via ferroviária. Apesar disso, ontem houve filas em vários postos.
Em Belo Horizonte (MG), a greve já provocou aumento de 95% no preço de algumas frutas, como a laranja-pêra.
No Rio Grande do Norte, os produtores de frutas estão evitando embarcar os produtos para as regiões Sul e Sudeste com medo de que os caminhões fiquem retidos.
Em Pernambuco, a Associação Pernambucana de Supermercados prevê desabastecimento se a greve perdurar até a próxima semana.

Hospitais
A greve afetou o abastecimento de leite do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ontem, o HC foi obrigado a fazer uma compra urgente de 6.000 litros de leite para suprir o consumo de pelo menos cinco dias.
O HC também teve problemas de abastecimento de verduras, frutas e frango e teve que refazer o cardápio dos próximos dias por causa da falta dos alimentos.
Até a noite de ontem, no entanto, a maioria dos grandes hospitais de São Paulo (Albert Einstein, 9 de Julho, Sírio Libanês e HC) não havia registrado problemas de falta de oxigênio. Isso ocorre porque a maioria dos hospitais possui estoque do produto.
O HC tem estoque para cinco dias. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, ontem o HC já começou a conversar com os fornecedores e pedir que eles adotem rotas alternativas.


Colaboraram as Sucursais do Rio e Brasília, a Agência Folhas e as regionais

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