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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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FUNDO DO POÇO

No Brasil, definição é usada quando PIB cai dois trimestres seguidos

Conceito de recessão varia entre países

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pura convenção baseada em critérios técnicos distintos. Assim podem ser qualificadas as diferentes definições de recessão usadas por grupos de pesquisa, bancos e economistas. Mas as principais delas indicam a ocorrência de recessão no Brasil durante o primeiro semestre de 2003.
A mais popular, de origem incerta, é a que explica recessão como dois trimestres consecutivos de retração do PIB (Produto Interno Bruto). Hoje, no entanto, algumas instituições e economistas preferem metodologias que considerem outros indicadores econômicos, além do PIB.
É o caso do respeitado NBER (National Bureau of Economic Research), centro de excelência em pesquisa econômica nos Estados Unidos, que, olhando para o passado, leva em conta o desempenho de diversos indicadores macroeconômicos.
Recessões, para o NBER, acontecem quando há um declínio generalizado na economia durante mais do que alguns meses, que seja visível na produção industrial, no nível de emprego, na renda real e nas vendas do comércio.
Hoje, muitos economistas que analisam os movimentos do ciclo econômico de um país procuram fazê-lo com base nos critérios do instituto de pesquisa dos EUA.
Andrei Spacov, economista do Unibanco, diz, baseado em metodologia parecida com a do NBER, que provavelmente amargamos, sim, uma recessão no primeiro semestre e que, agora, vivemos uma "situação ambígua" em que produção industrial e salários reais continuam em declínio, enquanto a quantidade de horas trabalhadas e as vendas do comércio já dão sinais de recuperação.
Segundo o economista, é possível que essa fase de ambiguidade desemboque em um período de recuperação já no segundo semestre. Mas, ressalva, ainda é cedo para falar em certezas. Por enquanto, o Unibanco revisou sua previsão de crescimento em 2003 de 1,3% para apenas 0,5%.
Há economistas e instituições importantes, como a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) que utilizam, atualmente, outra metodologia para definir uma possível recessão.
Preferem decidir comparando o desempenho real do PIB com o seu potencial. Se uma economia cresce muito abaixo da sua tendência (ou potencial), pode-se dizer que, tecnicamente, está em recessão. Exemplo atual: Alemanha.
Assim, se um país tem potencial para crescer 4%, mas tem se expandido a apenas 2%, sua economia está em recessão. Isso porque o crescimento abaixo do potencial implica maior desemprego e, consequentemente, menor demanda, o que acabará afetando ainda mais a produção.
Segundo o economista Fernando Cardim, da UFRJ, se considerarmos esse critério, o Brasil está em recessão há, pelo menos, 20 anos, já que, desde a década de 80, apresenta, geralmente, crescimento aquém do seu potencial.


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