São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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Cooperativa separa cem toneladas ao mês

DA REPORTAGEM LOCAL

Das ruas e dos albergues da cidade, eles passaram a comandar a Cooperativa Central Tietê, responsável pela triagem de aproximadamente cem toneladas por mês de materiais recicláveis.
O trabalho garante renda de R$ 500 mensais para 40 cooperados, que, diariamente, das 8h às 17h, separam papéis, papelão, plástico, ferro e alumínio coletados principalmente nos bairros da zona leste -como Mooca, Tatuapé e Belém- e de condomínios de Moema, zona sul da cidade.
Uma assistente social de São Paulo mudou a vida do hoje presidente da cooperativa, Alessandro dos Santos, 27. Ele veio para a cidade depois de ficar desempregado em sua terra natal, Governador Valadares (MG), onde trabalhou como ajudante de eletricista. "Fui apresentado ao programa de reciclagem por uma funcionária do albergue onde morei no bairro do Belém. Há um ano e quatro meses trabalho e moro aqui [na sede da cooperativa, na Mooca]."
A história dos Santos se misturam. No comando da tesouraria da cooperativa, Milton dos Santos, 53, o "seu Milton", administra um orçamento de R$ 26 mil mensais, resultado da venda dos materiais reciclados.

Consciência
"O lixo está ficando mais conhecido. Os empresários procuram mais esses materiais, e a população está mais consciente", diz o tesoureiro da Central Tietê, que traz no currículo a experiência de ter trabalhado como fiscal florestal e vigilante em instituições financeiras. "Minha renda aqui melhorou. Como empregado, meu salário subia R$ 20 a R$ 30 por ano. Como cooperado, pode subir R$ 20 a R$ 30 por mês."
Joana D'Arc de Souza Geraldo, 43, trocou as ruas do Parque Novo Mundo, onde trabalhava como catadora de papel, pelo trabalho de cooperada há cerca de um ano. "Puxava de 300 a 800 quilos quando o carrinho estava abarrotado. Vazio, ele pesava 158 quilos. Tinha rodas de caminhão."
Desde o tempo de carroceira nas ruas da cidade, diz acompanhar o preço do dólar. "Sempre acompanho pela televisão. Por quê? Se o dólar cai, o preço do nosso produto também cai", diz.

Lixo rico
Maria José Marques Ribeiro Machado, 39, uma das primeiras a integrar a cooperativa, notou aumento no lixo coletado na cooperativa principalmente às quartas-feiras. "É que nesse dia os caminhões nos trazem o lixo coletado nos condomínios de Moema. É um lixo rico. É mais limpo e tem mais qualidade. O lixo de lá é uma maravilha", afirma.
A qualidade do lixo é tão "boa" que rende colares, anéis, relógios, pulseiras, perfumes e até dólares. Recentemente, um dos cooperados encontrou US$ 35 no lixo.
Maria José trabalha ao lado de Joseli Dalva de Oliveira, 44, de Viviane Feliciano dos Santos, 20, e de Silvaneide Leão Lemos, 21, na separação de materiais plásticos.
"Notamos aumento na quantidade de material recebido desde maio" diz Joseli, que, antes de entrar na cooperativa, trabalhou como babá, metalúrgica e acompanhante de idosos. "Fiquei desempregada por dois anos."
Viviane não recicla materiais somente no dia-a-dia do trabalho. "Levo o lixo da minha casa para um ferro-velho", diz a cooperada.
Levada para a cooperativa pela mãe, Silvaneide também trabalha na separação de plásticos. "O trabalho aqui é muito importante para o nosso orçamento. São dois salários garantidos", diz. (CR e FF)


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