São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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Grupo tenta atrair turista negro americano

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de empresários afro-brasileiros pretende aproveitar a prosperidade de seus pares americanos para alavancar negócios no Brasil.
A Anceabra (Associação Nacional de Empresários Afro-Brasileiros), que agrupa 860 afiliados, tem dois projetos em andamento com empresários negros americanos. Batizado de "Rota das Raízes Afrobrasileiras", o primeiro programa, segundo João Bosco Braga, presidente da entidade, é destinado para o turismo étnico. O objetivo é trazer 1 milhão de turistas negros americanos por ano para visitar pontos turísticos com forte influência da cultura negra, como a Bahia. "Os negros americanos gastam US$ 54 bilhões por ano em turismo e lazer. Temos que aproveitar esse filão", argumenta Braga.
Um outro ponto é o de arregimentar investidores para obras de infra-estrutura básica em áreas carentes. Aproximadamente um quarto dos afroamericanos ganha mais de US$ 50 mil por ano. De acordo com o censo americano do ano 2000, havia 36,419 milhões de negros nos Estados Unidos.
O mercado externo também está na mira da associação. Em Cabo Verde, os empresários brasileiros de ascendência africana não pretendem apenas exportar. Eles também planejam importar de lá produtos tão variados como música e atum enlatado.
"Queremos colocar a música cabo-verdiana no mercado fonográfico brasileiro. Ela é excelente para trabalhar a relação entre nossos países", diz o presidente da Anceabra.
Com um mercado com cerca de 500 mil consumidores, Cabo Verde também pode servir como porta de entrada para o mercado da África de língua portuguesa, que inclui Angola, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé.

Mercado interno
Outros empresários vêem na retomada da economia brasileira uma oportunidade para expandirem suas atividades. Um exemplo é a marca Coisa de Crioulo, criada em 2001 pelas empresárias Edna Madureira e Jussara Bel.
"Desenvolvemos uma linha de camisetas e bolsas. O nosso foco é a classe média negra baixa. Por isso, as nossas representantes de vendas têm origem nas comunidades mais pobres", afirma Madureira. A empresa carioca tem uma média de vendas de mil camisetas por mês. Até o mês passado, conta a empresária, eram vendidas 400 por mês. "Acredito que a renda esteja melhorando, mas a marca também está ficando mais conhecida."
Analistas de mercado dizem, porém, que os empresários afrodescendentes não devem também perder de vista outros segmentos sociais.
As criadoras da Coisa de Crioulo entenderam o recado. "Criamos a marca para os negros, mas quase metade da nossa clientela hoje é formada por brancos. Eles também se identificam com os produtos", diz Madureira.
A estratégia é bem definida pelo empresário do ramo dos cosméticos étnicos Rui Nascimento: "Sei que a maioria dos meus produtos é para clientes negros, mas cabelo não tem cor. Ainda mais em um país mestiço como o Brasil".


Colaborou Marcos Fonseca, free-lance para a Folha


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