São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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COMÉRCIO

Produto diferenciado melhora ganhos obtidos com exportações

Design muda a imagem do Brasil em outros países

BERTA MARCHIORI
DO PAINEL S.A.

Se há alguns anos o Brasil era conhecido apenas como exportador de insumos e commodities, hoje o mundo já volta sua atenção também para os nossos produtos mais sofisticados. E o design tornou-se o grande diferencial. O investimento na área tem modernizado a pauta de exportação do país e mudado a imagem do produto brasileiro no exterior.
Qualidade e preço competitivo continuam imprescindíveis, mas beleza, funcionalidade e inovação passaram a ser fundamentais para conquistar novos -e exigentes- mercados externos.
Não é só a imagem do país que está em jogo. Segundo a Apex (Agência de Promoção de Exportação), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, cada tonelada de produtos de alto valor agregado exportados gera, em média, receita equivalente a 15 toneladas de matérias-primas ou commodities.
"O design é responsável pela transformação na evolução das exportações brasileiras e é a base de sustentação para o crescimento futuro das vendas externas", diz Juan Quirós, presidente da Apex. "É o grande diferencial para entrar no mercado internacional", completa.
A tese é confirmada por Flávio Soares, diretor de exportações da Deca. "O design não só agrega valor ao produto como abre portas. As pessoas não querem comprar mais um produto, e sim um estilo de vida", afirma o executivo.
A empresa, cujas exportações têm crescido mais de 50% ao ano nos últimos dois anos, se prepara para a sua primeira venda para a China, em setembro. O desempenho, diz, se deve especialmente ao design, escolhido há quase dez anos como principal de estratégia de reposicionamento da marca.
O investimento na área não produz somente resultados financeiros. Um modelo de lavatório da Deca, por exemplo, foi um dos 25 produtos brasileiros premiados neste ano no alemão If Design, considerado o Oscar do design. E uma certificação internacional desse porte facilita, e muito, a entrada em novos mercados.
"[A premiação] abre portas", declara o joalheiro Antonio Bernardo, que teve dois anéis premiados no If Design -um deles recebeu o If prata e ainda outro prêmio, o Red Dot. O designer está começando a conquistar os mercados externos, mas é um exemplo de quem sempre teve o design como diferencial mercadológico (leia texto nesta página).
Mas nem só de "Oscars" vive o design. O importante é adaptar a o produto ao desejo do público-alvo. A compra não é realizada só racionalmente, o aspecto emocional é fundamental, explica Marcos Cobra, professor do departamento de marketing da Fundação Getúlio Vargas. E o design tem papel crucial, diz, já que é essencial na construção da marca.
Um exemplo disso é o utilitário esportivo Ford EcoSport, o primeiro desse tipo totalmente criado e fabricado no Brasil. O produto, desenvolvido a partir de pesquisas detalhadas com seu público-alvo, foi lançado há 18 meses e já responde por 37,9% das exportações de automóveis da Ford, diz Dante Sante Andrea, diretor de exportações da empresa.
As vendas externas do modelo passaram de 19.023 unidades, de março a dezembro de 2003, para 21.831 unidades de janeiro a julho deste ano. Para Márcio Alfonso, engenheiro-chefe de desenvolvimento de produtos da Ford, o design explica o sucesso das vendas. "O design é uma das melhores formas de comunicação."


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