São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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POLÍTICA MONETÁRIA
Ata de reunião do Copom apresenta cenário em que os preços dos combustíveis terão reajuste de 5%
BC prevê que inflação cai e gasolina sobe

01.jul.00/Agência "O Globo"
Armírio Fraga, do BC


ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central trabalha com a possibilidade de um novo reajuste de combustíveis, da ordem de 5% para os consumidores, ainda neste ano. Se confirmado, esse será o terceiro aumento autorizado pelo governo apenas neste ano. O último foi em julho.
A possibilidade de uma nova alta dos combustíveis consta da ata, divulgada ontem, da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, realizada na semana passada.
O aumento foi incluído no cenário básico elaborado pelo BC, que serviu de base para que o banco mantivesse os juros em 16,5% ao ano. Segundo a ata do BC, o aumento deve ocorrer no último trimestre do ano. Isto é, depois das eleições.
A decisão sobre uma eventual alta dos preços dos combustíveis não é uma tarefa do BC, mas essa é a primeira vez que um órgão do governo admite abertamente a hipótese disso acontecer neste ano.
Autoridades já negaram que, no momento, o governo esteja estudando reajustes. Foi o caso, por exemplo, do presidente Fernando Henrique Cardoso e dos ministros Pedro Malan (Fazenda) e Pedro Parente (Casa Civil).
"É apenas um exercício", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Essa é apenas uma das variáveis do modelo adotado pelo BC para estimar o impacto de uma provável alta de preços na inflação. A decisão do reajuste é do Ministério da Fazenda, que não precisa levar em conta os estudos do BC.

Inflação futura
Mensalmente, esse comitê se reúne para prever a inflação futura. Nesses estudos são considerados todos os fatores que podem influenciar a inflação, como juros nos Estados Unidos, quebra de safra e alta do petróleo.
Na semana passada, o Copom considerou que a evolução internacional da cotação do petróleo poderá forçar o governo a reajustar novamente os preços dos combustíveis, com impacto na inflação do último trimestre.
O BC considera que o mercado de petróleo continua a apresentar forte volatilidade, devido a incertezas sobre quanto a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) pretende produzir e sobre o aumento da demanda esperado durante o inverno no Hemisfério Norte.
Tal cenário foi traçado na terça e quarta da semana passada, antes de os EUA decidirem usar suas reservas estratégicas para tentar baixar a cotação do petróleo.
Na sua reunião de agosto, o Copom já havia sinalizado com a possibilidade de um novo reajuste do produto, ainda que nas entrelinhas de sua ata. O documento afirmava que as altas das cotações internacionais do produto "podem recomendar ajustes adicionais no âmbito interno".
Foram autorizadas altas da gasolina em março (5% para os consumidores, segundo previsão do governo) e em julho (o governo esperava alta de 11,3%, mas em postos de São Paulo o aumento chegou a 16,8%).
Para analistas econômicos, a hipótese de reajuste de petróleo ainda neste ano é a mais confortável para o BC, pois suaviza os impactos da alta do produto sobre a inflação de 2001 e abre espaço para uma eventual queda dos juros.
A meta de inflação para 2001 foi estabelecida em 4%, e os estudos do BC indicam que não há muita folga para o seu cumprimento. Se a alta dos combustíveis for adiada para 2001, são maiores os riscos de a meta de 4% ser superada.

Superar meta
Um reajuste dos combustíveis já neste ano faria a inflação superar a meta de 6% estabelecida para 2000, mas não levaria necessariamente a um aperto na política de juros do BC. Altas de juros têm poucos efeitos sobre a inflação neste ano, pois os índices de preços só refletem apertos na política de juros de seis a nove meses depois de a decisão ser tomada.
Além disso, a meta não seria descumprida neste ano se passasse um pouco de 6%, pois o sistema de metas de inflação admite que o índice fique até dois pontos percentuais acima do alvo. A mesma regra vale para a meta do próximo ano.
O principal fator contra as altas de combustíveis é o seu efeito negativo, especialmente no período eleitoral. Motivos políticos também levaram ao adiamento dos aumentos no primeiro semestre, quando a popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso estava em baixa.


Onde encontrar a ata do Copom na Internet: http://www.bcb.gov.br/htms/copom/a-copom.asp



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