São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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Para mercado, juros já podem voltar a cair

LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

O BC (Banco Central) não prevê, pela primeira vez em muitos meses, novo aumento na taxa de juros dos Estados Unidos. Estima que a inflação em 2001 ficará abaixo da meta anual (4%) e afirma que a alta dos preços no bimestre julho/agosto foi transitória.
O otimismo do BC, que contrasta com as notas de reuniões anteriores do Copom, é compartilhado pelo mercado. Analistas ouvidos pela Folha avaliam que há espaço para novo corte na taxa básica (Selic), que deve chegar ao final do ano em 16% (hoje está em 16,5%).
"A leitura do documento é muito positiva. O único ponto de preocupação do BC é o petróleo, mas nada que desvie o cumprimento das metas de inflação", disse Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank.
Em um exercício de projeção, o BC incluiu no cenário que traçou aumento de 5% nos preços internos (ao consumidor final) dos derivados de petróleo.
"Por esse motivo, o BC não cortou os juros agora. Se o preço do petróleo não disparar, teremos redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica até o final do ano", disse Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Chase Manhattan.
Kawall também acredita que o BC possa cortar os juros em 0,5 ponto até dezembro.
Apesar da interpretação favorável da ata, a média das expectativas de inflação do mercado para 2001 subiu de 4,35% para 4,4%, divulgou ontem o BC.
No documento da reunião de julho, o Copom (colegiado formado pelo presidente do BC e por seus diretores) dizia que, com base nos valores dos contratos futuros de dólar nos EUA, era esperado aumento de 0,25 ponto percentual nos juros norte-americanos até o final do ano. Na ata de agosto, o BC disse que manteve a hipótese de pequena elevação dos juros norte-americanos.
Aumento dos juros nos EUA sempre foi motivo de preocupação para o Brasil. Os títulos do Tesouro norte-americano (referência internacional de risco zero) passam a pagar mais e, assim, atraem recursos estrangeiros aplicados em mercados emergentes.
Se o BC reduz a Selic ao mesmo tempo em que o Fed (o banco central dos EUA) aumenta a taxa básica, conjugam-se dois motivos para que haja saída de recursos do Brasil.
No documento da reunião deste mês, o BC destaca que os juros dos contratos futuros nos EUA indicam manutenção da taxa básica no atual nível de 6,5% ao ano.
Sobre inflação, o BC disse na ata do mês passado que a elevação dos preços em julho havia ficado significativamente mais alta do que se esperava. Ressaltou que o comportamento imprevisto deslocava para cima, naturalmente, o início da trajetória de inflação.
Mas, na ata divulgada ontem, o BC afirmou que os efeitos dos choques de oferta (petróleo e alimentos) dissipam-se com rapidez e alteram pouco as expectativas quando são reconhecidos como temporários. "O cenário está mais otimista", disse Kawall.


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