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Para mercado, juros já podem voltar a cair
LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL
O BC (Banco Central) não prevê, pela primeira vez em muitos
meses, novo aumento na taxa de
juros dos Estados Unidos. Estima
que a inflação em 2001 ficará abaixo da meta anual (4%) e afirma
que a alta dos preços no bimestre
julho/agosto foi transitória.
O otimismo do BC, que contrasta com as notas de reuniões anteriores do Copom, é compartilhado pelo mercado. Analistas ouvidos pela Folha avaliam que há espaço para novo corte na taxa básica (Selic), que deve chegar ao final
do ano em 16% (hoje está em
16,5%).
"A leitura do documento é muito positiva. O único ponto de
preocupação do BC é o petróleo,
mas nada que desvie o cumprimento das metas de inflação",
disse Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank.
Em um exercício de projeção, o
BC incluiu no cenário que traçou
aumento de 5% nos preços internos (ao consumidor final) dos derivados de petróleo.
"Por esse motivo, o BC não cortou os juros agora. Se o preço do
petróleo não disparar, teremos redução de 0,5 ponto percentual na
taxa básica até o final do ano", disse Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Chase Manhattan.
Kawall também acredita que o
BC possa cortar os juros em 0,5
ponto até dezembro.
Apesar da interpretação favorável da ata, a média das expectativas de inflação do mercado para
2001 subiu de 4,35% para 4,4%,
divulgou ontem o BC.
No documento da reunião de
julho, o Copom (colegiado formado pelo presidente do BC e por
seus diretores) dizia que, com base nos valores dos contratos futuros de dólar nos EUA, era esperado aumento de 0,25 ponto percentual nos juros norte-americanos até o final do ano. Na ata de
agosto, o BC disse que manteve a
hipótese de pequena elevação dos
juros norte-americanos.
Aumento dos juros nos EUA
sempre foi motivo de preocupação para o Brasil. Os títulos do Tesouro norte-americano (referência internacional de risco zero)
passam a pagar mais e, assim,
atraem recursos estrangeiros aplicados em mercados emergentes.
Se o BC reduz a Selic ao mesmo
tempo em que o Fed (o banco
central dos EUA) aumenta a taxa
básica, conjugam-se dois motivos
para que haja saída de recursos do
Brasil.
No documento da reunião deste
mês, o BC destaca que os juros
dos contratos futuros nos EUA
indicam manutenção da taxa básica no atual nível de 6,5% ao ano.
Sobre inflação, o BC disse na ata
do mês passado que a elevação
dos preços em julho havia ficado
significativamente mais alta do
que se esperava. Ressaltou que o
comportamento imprevisto deslocava para cima, naturalmente, o
início da trajetória de inflação.
Mas, na ata divulgada ontem, o
BC afirmou que os efeitos dos
choques de oferta (petróleo e alimentos) dissipam-se com rapidez
e alteram pouco as expectativas
quando são reconhecidos como
temporários. "O cenário está mais
otimista", disse Kawall.
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