|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RENDA
Diferença contribui para manutenção do quadro de desigualdade, diz instituto
Pobre paga mais imposto que rico, diz estudo do Ipea
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pobre paga mais imposto que
rico. É o que mostra estudo divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Essa
injustiça do sistema tributário
brasileiro "contribui para a manutenção do quadro de distribuição desigual de renda e, portanto,
dos níveis de pobreza e de indigência", conclui o trabalho.
As famílias que vivem com até
dois salários mínimo pagam cerca
de R$ 0,28 em impostos para cada
R$ 1 de renda. As que ganham
mais de 30 salários, R$ 0,18.
Os dados usados na pesquisa
são de 1996, mas o economista
Salvador Vianna, um dos autores
do estudo, afirma que não houve
mudanças na legislação brasileira
que tenha mudado isso.
Depois de 1996 aconteceram
duas grandes modificações na cobrança dos impostos pesquisados
pelo Ipea: a elevação da alíquota
da Cofins de 2% para 3%,o que
aumentaria a injustiça do sistema,
e o aumento da alíquota mais alta
do IR de 25% para 27,5%, que melhoraria o quadro.
A injustiça do modelo se deve à
grande carga tributária dos impostos indiretos -os que incidem sobre o consumo e as contribuições sociais, como o ICMS, o
IPI, o PIS e a Cofins. Em 96,
54,84% do arrecadado pela Receita foi com esse tipo de tributo.
Nos anos 90, as mudanças na legislação tributária aumentaram
exatamente a carga desses impostos, o que contribuiu para piorar a
perversidade do sistema brasileiro, diz o estudo.
Na hora de comprar alimentos,
remédios, roupas e demais bens
de consumo, os mais pobres gastam 26,48% da sua renda com o
pagamento de impostos indiretos. Os mais ricos, 7,34%.
Quando uma pessoa de baixa
renda compra feijão, ela paga o
mesmo tributo que uma pessoa
rica. A diferença é que os gastos
com alimentação consomem
32,79% do orçamento das famílias que ganham até dois salários
mínimos. Das mais ricas, 10,26%.
"Seria preciso introduzir alíquotas mais baixas ou mesmo
isenções tributárias para produtos essenciais e que respondam
por parcela expressiva do consumo das famílias mais pobres para
corrigir a distorção", diz Vianna.
Mas o problema não se resume
aos tributos indiretos. Segundo o
estudo do Ipea, os impostos diretos (IR, IPTU e IPVA) não são suficientemente progressivos (cobrando mais de quem é mais rico)
para compensar a injustiça intrínseca aos impostos indiretos.
As famílias mais pobres gastam
1,71% de sua renda com o pagamento de impostos diretos. Os
mais ricos, 10,64%. "A carga tributária direta suportada pelas famílias mais ricas é seis vezes
maior que pelas famílias mais pobres. Só que a renda é 37 vezes superior", afirma Vianna.
A injustiça do sistema tributário
fica mais evidente nos Estados
mais pobres. O estudo abarcou as
11 principais regiões metropolitanas do país. Segundo Vianna, nos
Estados do Norte e Nordeste, que
dependem da tributação de ICMS
sobre produtos agropecuários, há
menos isenções fiscais para a
compra de alimentos.
Em Fortaleza, os impostos sobre alimentos correspondem a
cerca de 13% do seu custo para as
famílias mais pobres. Em São
Paulo, pouco mais de 8%.
Texto Anterior: Luís Nassif: O Brasil e a última chance Próximo Texto: Receita tem conclusão semelhante Índice
|