São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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EUROLÂNDIA
Na primeira vez em que um país mostra nas urnas sua opinião sobre a moeda, 53% dos dinamarqueses a rejeitam
Dividida, Dinamarca diz não ao euro

JOSÉLIA AGUIAR
DE LONDRES

Dividida, a Dinamarca disse não ao euro. Às 19h30 de Brasília, com 96% dos votos contados, os oponentes totalizavam 53% dos votos, e os defensores, 47%.
O referendo de ontem era visto como um importante voto de confiança no euro, que já perdeu 28% de seu valor desde que foi lançado, em 1º de janeiro de 99. Foi a primeira vez que um país apresentava nas urnas sua opinião sobre a moeda única.
O euro encerrou o dia com uma cotação estável em relação ao seu valor de quarta-feira. No final do dia, em Londres, foi negociado a US$ 0,8830 -em sua estréia, era mais forte que o dólar e valia US$ 1,16. Apesar da relativa estabilidade ontem, o mercado continuava tenso. Os investidores receiam que ocorra uma nova intervenção por parte dos bancos centrais dos EUA, da Europa e do Japão como a da última sexta-feira.
O menor país da Escandinávia tem 5,3 milhões de habitantes e uma riqueza que soma US$ 185 bilhões. A zona do euro totaliza uma população de 295 milhões e um Produto Interno Bruto que chega a US$ 6,99 trilhões.
Mas a decisão da pequena Dinamarca de continuar a ter a coroa como moeda pode representar muito. É possível que a rejeição de ontem tenha forte impacto na cotação do euro nos próximos dias.
A recusa dinamarquesa também deve influenciar o Reino Unido -terceira maior economia da Europa- e a Suécia, os dois países da União Européia que ainda não decidiram se vão adotar a moeda única. Para alguns analistas, o referendo de ontem pode abrir um novo debate sobre o futuro da União Européia.
Antes do final da apuração, o premiê dinamarquês, Poul Nyrup Rasmussen, que liderou uma imensa campanha em prol do euro, reconheceu a derrota e disse que se sentia "muito triste" com o resultado. Durante o dia, Rasmussen distribuíra rosas para as mulheres, apontadas como maioria entre os indecisos que poderiam decidir a votação.
Governo, partidos políticos, empresários e sindicatos apoiavam o euro por acreditar que ele protegeria sua economia e aumentaria a influência da Dinamarca na União Européia. Grande parte da população recusava a nova moeda por temer a perda de sua soberania e de conquistas sociais -o Tratado de Maastricht, de 91, que estabeleceu a união monetária, definiu metas fiscais que devem ser seguidas à risca pelos países que o assinaram.
A França, que preside atualmente a zona do euro, divulgou ontem um comunicado ontem em nome do bloco no qual lamentou o não dinamarquês. "A decisão não fecha as portas para uma participação posterior na zona do euro." Ao final, diz que "a união econômica e monetária é uma realidade e um grande projeto da integração européia".

Grécia
A Dinamarca seria o 13º país a adotar o euro.
Quando a moeda única foi lançada, quatro dos 15 países da União Européia ficaram de fora da zona do euro. A Grécia, por não ter conseguido reduzir sua inflação e déficit orçamentário, Dinamarca, o Reino Unido e a Suécia, por decisão dos próprios países. Este ano, a Grécia foi aprovada. Vai adotar a moeda única a partir de janeiro de 2001.
Cédulas e moedas do euro só começam a circular em janeiro de 2002. Somente em julho desse mesmo ano as moedas nacionais deixam de ser aceitas.


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