São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EM TRANSE

Mercado elevou taxa do dólar e obrigou o governo a pagar mais caro por parcela da dívida que venceu na terça-feira

Especulação com a dívida dolarizada rende até R$ 600 mi

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A especulação em torno da rolagem dos títulos cambiais emitidos pelo governo deve ter rendido ao mercado até R$ 600 milhões no início da semana passada. O valor equivale à diferença da cotação do dólar da última terça-feira em relação à média deste mês.
Na próxima terça-feira acontece um novo vencimento, de US$ 1,2 bilhão. O BC já informou que irá renovar apenas 70% desse total. Pretende recomprar (pagar) a dívida restante, o que deve levar o mercado a jogar o dólar para cima amanhã -dia em que será definido o preço do dólar pelo qual vai ser paga a dívida. Como a pesquisa Datafolha divulgada hoje indica que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está mais próximo da vitória no primeiro turno, o que por ora provoca aversão ao mercado, o preço do dólar deve sofrer pressão adicional.
Algo semelhante ocorreu na terça-feira passada, véspera do vencimento de cerca de US$ 1,5 bilhão da dívida cambial do governo. Essa dívida, que não foi rolada pelo Banco Central, é composta por títulos e outros contratos que são negociados em reais, mas corrigidos pela variação cambial.
A rentabilidade desses títulos é definida pela cotação do dólar registrada na véspera de seu vencimento. Na terça-feira passada, um forte movimento especulativo levou a uma forte desvalorização do real. A taxa de câmbio média medida pelo BC, chamada de Ptax, fechou em R$ 3,6216, alta de 2,17% naquele dia.
É essa taxa que é usada para corrigir o valor dos papéis do governo. Ela é calculada com base na média das cotações de todas as operações feitas ao longo de um dia de negócios em dólar.
Entre os dias 2 e 20 deste mês, a taxa de câmbio média calculada pelo BC ficou em R$ 3,1860. No dia 2, a cotação estava em R$ 3,0286. Se os papéis resgatados na quarta-feira tivessem usado como referência uma taxa de câmbio próxima à média do mês, os investidores teriam recebido R$ 4,779 bilhões pelos papéis. Com a disparada do dólar, esse valor ficou em R$ 5,432 bilhões.
Nas vésperas de vencimentos de títulos cambiais, é normal observar a ação de investidores que tentam puxar a cotação do dólar para cima, para que a rentabilidade dos papéis seja a maior possível. Num clima em que o mercado já está propenso ao nervosismo, devido às eleições, esse movimento especulativo fica facilitado.
Analistas de mercado apontam como um dos motivos para a alta do dólar a decisão do BC de não renovar os papéis cambiais que estão vencendo, como os da última quarta-feira.
O argumento desses analistas é que, com a redução na oferta dos papéis cambiais, os investidores precisaram recorrer a outros instrumentos que oferecessem proteção ("hedge") contra oscilações da taxa de câmbio. Muitos teriam corrido para o dólar, o que pressionou a cotação da moeda.
O BC diz que não renovou a dívida cambial que venceu na semana passada porque essa procura por "hedge" apontada pelos analistas não existiu. Em leilões realizados nas últimas semanas, o mercado chegou a exigir juros de até 50% -além da variação cambial- para comprar os papéis do governo.
Na avaliação do BC, os investidores que realmente estivessem buscando "hedge", e não apenas especulando, não estariam exigindo taxas de juros tão elevadas para aplicar em títulos ou contratos de "swap" oferecidos pelo governo.
Os contratos de "swap" pagam ao investidor tudo o que a oscilação do dólar superar a variação acumulada pela taxa de juros num determinado período. Eles têm sido o principal instrumento usado pelo BC para rolar a dívida cambial.
Na próxima terça-feira acontece um novo vencimento, de US$ 1,2 bilhão. O BC já informou que irá renovar apenas 70% desse total. A rentabilidade desses papéis será definida com base na cotação do dólar de amanhã. Na última sexta-feira, a taxa de câmbio medida pela Ptax já havia chegado a R$ 3,8541.



Texto Anterior: Transe: Brasil vai escapar da moratória, diz FMI
Próximo Texto: Investidores procuram abrigo em fundos que acompanham a inflação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.