São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INTEGRAÇÃO

Segundo avaliação preliminar dos negociadores europeus, proposta do Mercosul é até pior do que a anterior

Nova oferta não agrada à União Européia

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A última proposta do Mercosul para a criação de uma área de livre comércio com a União Européia foi pior do que a anterior em relação ao acesso de produtos europeus aos mercados do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, segundo avaliações preliminares dos negociadores em Bruxelas.
O Itamaraty admite que a nova oferta, entregue na sexta-feira, diminuiu o número de produtos europeus que terão Imposto de Importação zero. Os diplomatas brasileiros enfatizam, no entanto, que houve concessões consideráveis em outras áreas, como investimentos, serviços, compras governamentais e denominações geográficas (uso exclusivo de determinadas marcas por produtores europeus).
Laticínios e uísque, por exemplo, foram retirados da lista de produtos que chegariam a ter alíquota zero. Os automóveis fazem parte da lista, mas só chegarão à tarifa zero dentro de 18 anos.
A primeira reação da Europa à oferta melhorada do Mercosul não é nada animadora, quando se leva em conta que resta pouco mais de um mês para que os dois lados cheguem a um acordo. O prazo estabelecido para o fim das negociações é 31 de outubro. Se as conversas fracassarem, as negociações só recomeçarão no próximo ano e em bases novas. A oferta do Mercosul, por exemplo, só vale até o final do próximo mês.
De acordo com cálculos preliminares da UE, a nova proposta só prevê alíquota zero para 77% do total de suas exportações para o Mercosul. A anterior, dizem os europeus, abarcava 86%.
Apesar de oferecer alíquota zero para um número menor de produtos, a nova proposta do Mercosul oferece reduções tarifárias para um universo maior, de cerca de 90% das exportações européias para a região. A oferta anterior incluía apenas 88%.

Proposta européia
A oferta melhorada da Europa ainda não é conhecida. O documento deverá ser entregue aos negociadores do Mercosul até depois de amanhã. No momento, os comissários e Estados membros da UE analisam a oferta do Mercosul para avaliar que concessões poderão ser feitas.
Apesar de não conhecer o texto final da oferta, os diplomatas do Mercosul tiveram indicações claras que a Europa manterá um sistema de cotas à exportações de determinados produtos de interesse da região, como carnes, e incluirá algum mecanismo que evite vendas muito acima dos limites estabelecidos.
Na opinião de diplomatas brasileiros, a Europa não pode reclamar da oferta de acesso a mercado do Mercosul, pois sua própria oferta não é das mais generosas. Ontem, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou documento no qual afirma que os dois lados precisam reduzir suas ambições para que o acordo seja firmado dentro do prazo.
Apesar dessa troca de farpas, os dois lados afirmam que trabalham para tentar fechar o acordo no prazo. Ambos ressaltam, no entanto, que não há nenhum problema em adiar as negociações para garantir um acordo mais ambicioso. Na UE, porém, os comissários, que deixarão seus cargos no dia 31 de outubro, têm dificuldades de convencer os países membros a aceitar o acordo.


Texto Anterior: Bebidas: AmBev lança cerveja para enfrentar rivais
Próximo Texto: Agricultura: Governo descarta MP para transgênico
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.