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CUSTO BRASIL
Avaliação em aspectos como carga tributária, financiamento e regras estáveis é a pior entre 53 nações em desenvolvimento
País afasta investimentos, diz Banco Mundial
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O Brasil é considerado o pior
país do mundo entre 53 nações
pobres e emergentes no que se refere a estabilidade de regras, tamanho da carga tributária, financiamentos para o setor produtivo
e custos trabalhistas.
A América Latina e a África seguem como as duas piores regiões
do mundo para fazer negócios,
afirma relatório do Banco Mundial divulgado em Washington.
O "Relatório para o Desenvolvimento Mundial - 2005" traz mais
uma notícia ruim para o Brasil.
Um destaque especial é dado aos
"progressos acelerados" na China
e na Índia, os dois principais competidores emergentes do Brasil.
A evolução de China e Índia,
com indicadores bem melhores
que os brasileiros na área de facilidade para negócios, tende a diminuir o potencial de investimentos
estrangeiros no Brasil.
O relatório do Banco Mundial,
cujo subtítulo é "Um Clima Melhor de Investimentos para Todos", foi feito com base em 30 mil
entrevistas com empresários de
53 países em desenvolvimento.
A amostra brasileira, de 1.642
companhias, é a terceira maior,
atrás da Índia (1.827) e da China
(3.948). As empresas citadas no
relatório foram ouvidas entre
2002 e este ano.
Quase 76% dos empresários
brasileiros reclamam da instabilidade nas regras; 84,5%, da carga
tributária; 71,7%, da falta de financiamentos; e 56,9%, dos custos na área trabalhista. O estudo
mostra o Brasil como excessivamente "burocrático". Os brasileiros também estimam que o equivalente a 15% do valor de suas
vendas é consumido com dificuldades em fazer valer contratos,
propinas, regulamentos excessivos, custos relacionados a crimes
e infra-estrutura inadequada.
François Bourguignon, economista-chefe do Banco Mundial,
reconheceu durante entrevista
que anos de reformas e privatizações na América Latina e no Brasil
não foram eficazes para reduzir a
pobreza na região. "É preciso
lembrar, porém, que a estabilidade macroeconômica é condição
básica para que haja um clima favorável aos negócios. Outras mudanças ainda são necessárias."
Bourguignon apontou o Chile
como exemplo de sucesso. Como
um dos exemplos para o entrave a
negócios no Brasil, Bourguignon
citou o fato de 57% dos financiamentos ficarem concentrados em
apenas 2% das grandes empresas.
Em muitas das 288 páginas e na
apresentação, o relatório faz vários elogios à evolução da China e
da Índia. "A melhora no clima para investimentos nos dois países
levou à mais dramática redução
da pobreza da história", escreve
James Wolfensohn, presidente do
Banco Mundial. "Outros países
perseguem a mesma agenda, mas
seu progresso permanece lento."
Como resultado de um melhor
clima para negócios nas décadas
de 80 e 90, os investimentos privados na China e na Índia praticamente dobraram como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) no período. Em 20 anos, diz o
Banco Mundial, 400 milhões de
pessoas na China deixaram de viver com menos de US$ 1 ao dia.
Na média, a China cresceu 8% ao
ano em todo o período.
Na Índia, que teve um crescimento de 6,7% ao ano nos anos
90, o percentual de pessoas vivendo com menos de US$ 1 ao dia
caiu de 54% em 1980 para 35% em
2000. "Nenhum dos dois países
tem clima de investimentos ideal,
mas estão perseguindo as reformas necessárias", diz o relatório.
A renda nacional bruta per capita tanto da China (US$ 1.100)
quanto da Índia (US$ 530) permanecem bem abaixo da brasileira (US$ 2.710). Mas, proporcionalmente, o ritmo de crescimento
nos dois países tem sido maior.
Entre 1999 e 2003, o PIB da China passou de US$ 991 bilhões para
US$ 1,4 trilhão. O da Índia, de US$
447 bilhões para US$ 599 bilhões.
No mesmo período, o PIB brasileiro encolheu de US$ 536 bilhões
para US$ 492 bilhões.
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