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LIGAÇÕES PERIGOSAS
Consultor da Telecom Italia acha que interferência da Telemar dificulta compra de ações dos fundos
Telemar ainda quer Brasil Telecom, diz Nahas
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Tida como a maior disputa empresarial brasileira, a venda da
Brasil Telecom para a Telecom
Italia está emperrada porque fundos de pensão e governo não desistiram de promover, no futuro,
a fusão da companhia com a Telemar. A opinião é do consultor da
Telecom Italia, Naji Nahas.
Em entrevista por telefone à Folha, de Londres, onde negocia a
venda da Brasil Telecom para os
italianos. "Não tenho certeza [se
os fundos querem vender para a
Telecom Italia]", disse Nahas. "A
Telemar não desistiu de comprar
a Brasil Telecom."
Ele afirmou ainda que seu nome
está sendo envolvido no escândalo do "mensalão" para prejudicar
os italianos e dificultar a venda.
Para que a Telemar compre a
BrT (Brasil Telecom), seria necessário uma mudança na legislação
-que hoje impede os mesmos
donos de administrarem duas
operadoras de telefonia fixa- ou
um decreto presidencial.
A BrT é a operadora que cuida
da telefonia fixa das regiões Norte,
Centro-Oeste e Sul. A operadora,
com faturamento bruto anual de
R$ 12,8 bilhões, é motivo de disputa entre os quatro principais
sócios: fundos de pensão e Citigroup versus Telecom Italia e Opportunity.
Os italianos, como sócios operadores, querem comprar a companhia. Em abril, fecharam contrato
para adquirir a fatia do Opportunity. Compraram as ações que o
grupo tinha na cadeia de comando da BrT por um valor 270% acima do praticado no mercado,
mas não pagaram. O dinheiro só
sai se a Telecom Italia conseguir o
controle da companhia - ou seja, se ela comprar também a parte
do Citi ou dos fundos de pensão.
Mas Citi e fundos têm um acordo,
chamado "tag along", que prevê a
venda conjunta dos ativos.
Além disso, os fundos se comprometeram, em acordo de "put",
a comprar as ações que o Citi possui na BrT em 2007. O preço combinado é 300% acima do que valem no mercado.
Para embolar ainda mais o negócio, complicado pelas condições de oferta e preço, os italianos
acreditam que um concorrente, a
Telemar, faz gestões no governo
para impedir a venda da BrT.
A Telemar é a concessionária de
telefonia fixa das regiões Norte,
Nordeste e Sudeste. Parte de seu
capital pertence ao governo, por
meio do BNDES e de subsidiárias
do Banco do Brasil. Fundos de
pensão, Citi e Opportunity também possuem um pedaço da operadora. Há ainda outros sócios
privados (grupos GP, Jereissati e
Andrade Gutierrez).
Com tantos interesses em jogo,
a briga empresarial resvalou na
política. Os presidentes dos maiores fundos de pensão do país -
Sérgio Rosa (Previ), Wagner Pinheiro (Petros) e Guilherme Lacerda - tiveram de depor na CPI
dos Correios. O dono do Opportunity, Daniel Dantas, também. O
próximo a ir será o presidente do
Citi no Brasil, Gustavo Marín.
Parlamentares conhecidos foram cooptados para lobby das
instituições. De um lado, o deputado Delfim Netto (PMDB-SP)
defendendo os italianos. De outro, simpático ao Citigroup, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Ontem à noite, o senador Leomar
Quintanilha (PMDB-TO) sugeriu
o cancelamento da assembléia da
BrT, marcada para amanhã.
Enquanto a disputa rola nos
bastidores, os sócios vivem momentos difíceis. As negociações se
desenrolam desde maio - Rio,
São Paulo, Nova York, Milão e
Londres- e movem as ações das
teles e o índice Bovespa em São
Paulo. Nahas não quis falar sobre
as ofertas. A Folha apurou, contudo, que os italianos querem comprar todas as ações do Citi e parte
da fatia dos fundos. Juntas, formariam um bloco de 60% do total
em poder dos dois e seriam negociadas por um valor próximo ao
do acordo "put". Os 40% restantes seriam ofertados no mercado,
sob um prêmio, depois da venda
concretizada. Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - O sr. foi investigado pela
Kroll por suposta proximidade com
o governo. Mantém algum tipo de
negócios com o PT?
Naji Nahas - Nunca dei dinheiro
para o PT, nem meu nem dos outros. Isso é um absurdo. Aliás,
nunca tive negócios com o setor
público, tanto faz se na época do
Paulo Maluf ou da Marta Suplicy.
Nenhum tipo de negócio, nada.
Folha - Mas o sr. participou de caravanas ao exterior com o presidente da República, inclusive.
Nahas - As vezes que estive com
representantes do governo -ministros e o presidente- foram
encontros oficiais nos quais representei a função de consultor de
investidores estrangeiros interessados em trazer capital ao Brasil.
Folha - Por que seu nome voltou a
aparecer nos escândalos recentes?
Nahas - Porque negocio a venda
da Brasil Telecom para a Telecom
Italia. Estão tentando atingir minha imagem e enfraquecer os italianos nas negociações.
Folha - Como estão caminhando
as conversas para a venda da BrT?
Nahas - Negociávamos, mas os
diálogos estavam difíceis e foram
interrompidos domingo, porque
as propostas vindas dos fundos
são inaceitáveis. Mas estou otimista, o bom senso vai prevalecer.
Folha - O sr. acha que os fundos
querem realmente vender a BrT?
Nahas - Não tenho certeza, pelo
menos aos italianos. Os próximos
dias mostrarão.
Folha - Qual é o maior empecilho
para a venda ser efetivada?
Nahas - O interesse permanente
da Telemar. Ela não desistiu de
comprar a Brasil Telecom.
Folha - O sr. foi procurado por representantes da Telemar interessados nas ações da Telecom Italia
na Brasil Telecom?
Nahas - Fui. Mas não quero citar
nomes e alimentar uma polêmica
desnecessária. Eu achava que o
pior tinha passado: convencer o
Daniel Dantas a vender a parte
dele. Felizmente, ele criou juízo e
vendeu. Foi Tronchetti Provera
[presidente mundial da Telecom
Italia] que pagou sozinho o preço
para tirar o Dantas da Brasil Telecom. Todos se queixavam que
queriam ele fora, mas, no lugar de
bater palmas para o Tronchetti, os
fundos e o Citi se juntaram contra
ele. Por isso não entendo quais
são as verdadeiras intenções deles. Elas não estão claras.
Folha - O sr. tem sido apontado
como dono oculto da corretora Bônus-Banval [envolvida no escândalo do "mensalão']. É verdade?
Nahas - Isso é um delírio, é ridículo. Não conheço a corretora
nem os donos. Nem de vista.
Folha - O sr. viajou a Lisboa acompanhado de Delúbio Soares e Luís
Favre para encontros com a Portugal Telecom?
Nahas - A última vez que estive
em Portugal foi há mais ou menos
cinco anos. Não conheço o senhor
Delúbio Soares. O Luís Favre
[marido de Marta Suplicy] me foi
apresentado em um casamento
há cerca de um mês. Nunca me
reuni com a Portugal Telecom.
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