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ATA DA DISCÓRDIA
Copom diz que política de reajustes de combustível alimenta inflação; irritado, Dutra responde com nota dura
BC ataca política da Petrobras; estatal revida
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A divulgação do conteúdo da
ata do Copom (Comitê de Política
Monetária do Banco Central) deflagrou uma crise aberta entre a
Petrobras, maior estatal brasileira, e o Banco Central, responsável
pela política monetária do país.
Na ata da reunião da semana
passada, tornada pública ontem,
o Copom aponta a "protelação"
do reajuste da gasolina, de responsabilidade da Petrobras, como um fator de pressão inflacionária. Ao tomar conhecimento do
documento, a Petrobras, presidida pelo petista José Eduardo Dutra, ligado ao ministro José Dirceu
(Casa Civil), divulgou nota dizendo que "os preços dos combustíveis são competitivos e a política
de ajustes observa elementos de
mercado". Diz mais: "A política
de preços é de exclusiva responsabilidade da empresa". (Leia íntegra da nota à pág. B3). Segundo a
Folha apurou, Dutra ficou extremamente irritado com a ata e tomou a decisão de respondê-la.
Num dos trechos mais críticos,
a estatal diz que "a Petrobras não
pretende emitir opiniões nem divulgar suas eventuais expectativas
sobre as taxas de juros futuras".
Na ata, a diretoria do BC diz que
a demora do novo reajuste antecipado pela Petrobras é um dos fatores que explicam a alta dos juros. Sem citar a estatal, diz que o
reajuste pode "ser postergado,
mas não evitado" -em razão da
forte elevação das cotações do petróleo no mercado internacional.
"Continua indefinida a trajetória de realinhamento dos preços
dos derivados do petróleo em relação às cotações internacionais",
diz a ata. "Uma mera protelação
reduziria a eficácia da política
monetária, ao estender o período
durante o qual os agentes privados operam na expectativa de um
choque inflacionário iminente, de
magnitude incerta."
A Petrobras rebate: "Não há indefinição na política de preços",
que, segundo a estatal, segue critérios estabelecidos, como a flutuação cambial e as volatilidades
do mercado internacional.
A origem da crise está no aumento definido pela Petrobras no
dia 14, de 4% no preço da gasolina
nas refinarias. O mercado previa
10% e viu critérios políticos no
reajuste, aguardando nova alta
após o segundo turno.
Segundo a Petrobras, desde janeiro, o Copom, cuja função é
conduzir a política monetária,
"insiste em estabelecer projeções
para o preço da gasolina, sugerindo existir tabelamento de preços".
Ela nega ter adiado reajustes.
O BC afirma, na ata, que as dúvidas em relação ao tamanho e à
data do reajuste trariam incertezas para as empresas, afetando
negativamente as expectativas do
mercado em relação à inflação.
Sua conclusão: "[Isso acaba] requerendo taxas de juros nominais
mais elevadas para produzir uma
mesma taxa de juros real esperada". Taxa nominal é aquela fixada
mensalmente pelo Copom, que
hoje está em 16,75% ao ano. Já a
taxa real é igual à taxa nominal,
descontada a expectativa de inflação. Se as projeções de inflação
feitas pelo mercado sobem, são
necessário juros nominais mais
elevados para manter a taxa real.
A estatal diz que o mercado de
petróleo é mais complexo do que
avalia a ata e que o Copom "insiste em fazer avaliações sobre defasagens dos preços".
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