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Confiança cai nos EUA, mas Bolsa de NY dispara
Busca de pechinchas e ação do Fed no financiamento de empresas animam mercado
Com preços dos imóveis em baixa, confiança do consumidor americano é a menor desde a criação do indicador, em 1967
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
No mesmo dia em que a confiança dos norte-americanos
na economia dos Estados Unidos caiu em outubro para o nível mais baixo da série histórica
do indicador, a Bolsa de Valores
de Nova York fechou em forte
alta, com o índice Dow Jones
dando o seu segundo maior salto em pontos da história.
Na esteira da queda livre dos
preços dos imóveis, das ações e
do já perceptível aperto no crédito para as famílias e as empresas -que juntos fizeram
evaporar a sensação de riqueza
dos norte-americanos em poucos meses-, o índice de confiança de consumidor despencou de 61,4 pontos em setembro para 38 pontos neste mês.
Apurado pelo instituto privado Conference Board desde
1967, o índice aponta que,
quanto mais distante de cem
pontos, pior a percepção sobre
a economia. A queda de 23,4
pontos foi a terceira maior da
história do índice e só perde para duas registradas antes de
1977, quando o levantamento
ainda era bimestral -desde então, ele passou a ser realizado
mensalmente.
Apesar da má notícia, a Bolsa
de Valores de Nova York teve
um dia de fortes ganhos. Na
parte da manhã, o mercado
chegou a ensaiar uma queda logo após a divulgação dos dados
sobre a confiança dos consumidores. Mas se recuperou com
força no restante do pregão.
O índice Dow Jones terminou o pregão com alta de
10,88%, ganhando 889,35 pontos (o segundo maior salto da
história do índice). Em percentual, a alta de ontem foi a sexta
maior já registrada. O mais
abrangente S&P 500 subiu
10,79%, e a Bolsa eletrônica
Nasdaq, 9,53%.
A recuperação foi explicada
pela ação de investidores atrás
de barganhas em um mercado
no seu ponto mais baixo dos últimos 23 anos e pela expectativa de que o Fed (BC dos EUA)
faça um novo corte nos juros
hoje. Há quem aposte em uma
redução de até 0,75 ponto percentual na taxa, que cairia para
0,75% ao ano. Na prática, como
a inflação está acima de 4%, os
juros reais estão hoje negativos.
Apesar da expectativa de forte recessão no horizonte, muitos investidores compraram
ações ontem convencidos de
que seus preços são hoje verdadeiras barganhas para quem
aposta no longo prazo.
Apenas em outubro, os papéis negociados nas principais
Bolsas do mundo sofreram
uma desvalorização de mais de
US$ 12 trilhões, o equivalente a
cerca de nove PIBs (Produto
Interno Bruto) do Brasil.
As ações da gigante do setor
de alumínio Alcoa lideraram a
alta ontem, subindo 19% ao
longo do dia. Bancos como Citigroup e Bank of America tiveram alta de mais de 12%. Já os
papéis da General Electric se
valorizaram em 9,9%, embalados também por notícias de
que a empresa está tendo mais
facilidade para emitir seus
"commercial papers" -papéis
vendidos no mercado para levantar recursos para o dia a dia.
Os investidores também ficaram animados com a notícia de
que muitas empresas, além da
GE, voltaram a colocar seus títulos no mercado, tendo o Fed
como comprador majoritário
no intuito de ampliar a oferta
de dinheiro na economia.
As vendas desses papéis ontem somaram US$ 67,1 bilhões
em 1.511 emissões com prazos
de até 80 dias para o resgate. Na
média diária da semana passada, os valores levantados em
papéis do mesmo tipo não atingiram US$ 7 bilhões, com cerca
de 340 emissões diárias.
No caso da forte piora na
confiança dos consumidores
nos Estados Unidos, a queda
nos preços dos imóveis é apontada como o principal fator para o aumento do pessimismo.
Muitos norte-americanos
têm hoje dívidas imobiliárias
maiores do que o valor de venda de seus imóveis. Em função
da queda de preços, eles também já não conseguem dar as
casas como garantia para novos
empréstimos, levantando dinheiro extra para outros gastos.
Nos 12 meses terminados em
agosto, os preços dos imóveis
residenciais em 20 das maiores
cidades dos EUA caíram 16,6%,
um recorde. Em locais mais
afetados pela crise imobiliária,
como Las Vegas (Nevada) e
Phoenix (Arizona), a queda supera 30%, afirma o índice Standard & Poor's/Case-Shiller.
A expectativa é que o aperto
no setor de crédito nos EUA
continue alimentando a queda
nos preços das residências, já
que muitos financiamentos
imobiliários estão sendo negados a novos compradores.
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