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POLÍTICA FISCAL
Entre janeiro e outubro encargos da dívida somaram R$ 123,7 bi
No acumulado do ano, gasto com juros é o maior desde 94
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos do setor público
(União, Estados, municípios e estatais) com juros da dívida somaram R$ 123,7 bilhões entre janeiro
e outubro deste ano, valor 42%
maior do que o registrado em
igual período de 2002. Desde 1994
as despesas com encargos da dívida não atingiam nível tão elevado
nos primeiros dez meses do ano.
Quando se compara com o PIB
(Produto Interno Bruto), o gasto
com juros também foi o maior
desde 1994, quando a inflação alta
tinha forte impacto nas contas
públicas. Entre janeiro e outubro,
as despesas com encargos financeiros corresponderam a 9,77%
do total de riquezas produzidas
pelo país no período.
Ainda que o valor seja recorde,
houve um pequeno recuo no mês
passado, já que, entre janeiro e setembro, os gastos com juros representaram 10,14% do PIB.
Para Luiz Malan, chefe-adjunto
do Departamento Econômico do
BC, a tendência para os próximos
meses é que essas despesas se reduzam. "Mantido o atual cenário,
a apropriação de encargos da dívida deve recuar", afirmou.
Segundo o funcionário do BC, a
recente queda na taxa Selic é um
dos fatores que devem proporcionar uma maior economia ao governo. Cerca de metade da dívida
pública é corrigida pela Selic, que
atualmente está em 17,5% ao ano.
No início do ano, a taxa chegou
aos 26,5%, sendo esse o principal
fator que levou ao aumento das
despesas do governo Lula com
encargos da dívida.
Os elevados gastos com juros fazem parte daquilo que o atual governo chama de "herança maldita" deixada pela equipe econômica do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002). A
responsabilidade pelo aumento
nessas despesas, porém, deve ser
creditada tanto ao atual governo
quanto ao seu antecessor.
Quando FHC assumiu seu primeiro mandato, em janeiro de 95,
a dívida líquida do setor público
somava R$ 153 bilhões (30,4% do
PIB). Ao passar a faixa a Lula, o
endividamento estava em R$ 881
bilhões -56,5% do PIB.
Quanto maior a dívida, maiores
os gastos com os juros que incidem sobre ela. Esse cenário foi
agravado com as elevadas taxas
de juros praticadas neste ano.
Para compensar o aumento das
despesas com juros, o governo
promoveu um forte aperto fiscal.
Entre janeiro e outubro, o setor
público acumulou um superávit
primário (receitas menos despesas, menos juros) de R$ 64,035 bilhões -ou 5,06% do PIB.
A meta do governo é obter um
superávit neste ano equivalente a
4,25% do PIB, o que corresponderia a cerca de R$ 66 bilhões. Malan
afirma que, pelos valores registrados até agora, o setor público não
terá problemas em atingir esse
objetivo. "O superávit está na medida. O cumprimento da meta é
perfeitamente factível", afirmou.
Como o superávit primário é
suficiente para pagar pouco mais
da metade dos juros da dívida pública, o governo precisa tomar novos empréstimos para poder honrar esses encargos.
Em outubro, a dívida do setor
público estava em R$ 890 bilhões,
o que correspondia a 57,2% do
PIB acumulado nos últimos 12
meses. Em setembro, essa proporção estava em 57,8%. O recuo
é consequência da queda de 2,3%
do dólar registrada em outubro.
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